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quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Habermas e a filosofia da modernidade.


Procurou desenvolver uma Teoria da Modernidade calcada em um novo conceito de razão – a razão comunicativa
Ele procura explicar os paradoxos ou patologias da modernidade e suas vias de superação
Assim, o texto procura: apresentar as linhas gerais da teoria da modernidade; resumir as críticas a outros teóricos; resgatar o  projeto de modernidade

 
A Teoria da Modernidade é parte integrante da Teoria da Ação Comunicativa
Mundo vivido (perspectiva subjetiva) e mundo sistêmico (perspectiva objetiva
Resgatando um conceito de racionalidade dialógica
Teoria da Modernidade como uma teoria evolutiva
Processos de transformação das formações sociais como processos coletivos de aprendizado
Assim como Piaget identifica a capacidade de aprendizado da criança, Habermas vê este processo em termos sociais – superar princípios de organização mais simples em favor de outros mais universais

 
Em termos de Estado, a descentração permite migrar da estrutura de parentesco para a perspectiva de Estado
Em termos de economia, da produção local para um mercado internacional
Estes processos geram crescente intransparência, por isso ele propõe a introdução de processos argumentativos mediante os quais se possa encontrar novos princípios de estruturação universais ou universalizáveis

 

Neste processo, vai existindo dentro das formações societárias, uma maior deferenciação/autonomização de certas esferas ou subsistemas
Para Habermas, o início da modernidade está marcado  por três eventos: Reforma protestante; Iluminismo; Revolução Francesa
Portanto a modernidade se situa no tempo: séculos 18, 19, 20 e no espaço – Europa

 
Para Habermas, capitalismo e socialismo se situam na modernidade
Ele vai fazer uma distinção entre os processos de modernização (racionalização dos processos econômicos) e a modernidade cultural (autonomização das chamadas esferas de valor: moral, ciência e arte
Para compreender este processo é preciso entender a distinção entre “mundo do sistema” e “mundo vivido”

 
Mundo do sistema – reprodução material; mundo vivido – reprodução simbólica
Mundo vivido – compõem-se da experiência comum a todos os atores da língua, das tradições e da cultura compartilhada por eles
Tem duas facetas: a continuidade das “certezas”, e a possibilidade da ação comunicativa

 
A ação comunicativa  permite suspender temporariamente as pretenções de validade, buscando elaborar à base de argumentos mais convincentes e coerentes, buscando legitimar no interior de um processo argumentativo que respeita os melhores argumentos, a validade de normas novas
O mundo vivido – espaço no qual a ação comunicativa, calcada no diálogo e na força do melhor argumento, em contextos livres de coação, permite a realização da razão comunicativa

 
A segunda esfera é o do mundo do sistema, não visto como  oposto, mas como complementar ao mundo vivido
O mundo do sistema é subdividido em: economia e Estado
Eles tem dois mecanismos auto-reguladores: o dinheiro e o poder
Neste âmbito a linguagem é secundária, predominando a ação instrumental – o sistema é regido pela razão instrumental

 
O mundo vivido também se divide em três subsistemas: o cultural, o social e o da personalidade – condicionados por mecanismos de integração social (controle social, socialização e aprendizado)
Nele seria possível criticar, renegociar e finalmente reinstaurar a validade das novas normas e valores
No mundo do sistema – racionalização da economia de mercado e racionalização do Estado legal
A racionalização da economia e do Estado resultou na hegemonia da racionalidade instrumental
Nestes termos, a racionalidade comunicativa foi expulsa do mundo do sistema e ficou confinada no mundo vivido

A modernidade cultural, pertencente ao mundo vivido, observamos um processo de diferenciação e autonomização. No subsistema cultural, diferenciação em três esferas: científica, ética e estética
Cada um passa a funcionar segundo princípios próprios – verdade, moralidade, expressividade

 
Se a racionalização é o traço central da modernização societária (mundo do sistema), a autonomização é o traço central da modernidade cultural (mundo vivido)
Esfera da ciência: espaço privilegiado do cultivo da verdade
Esfera da moral – espaço privilegiado do cultivo das normas
Esfera da arte – espaço privilegiado da transformação da subjetividade em intersubjetivdade expressiva

 
A crise da modernidade cultural reduz o campo da atuação da razão comunicativa, permitindo que sua base institucional seja contaminada pela razão instrumental
A teoria da modernidade de Habermas apresenta uma série de transformações do passado mais recente, dando destaque a quatro tipos de processos: o da diferenciação; o da racionalização; o da autonomização; e o da dissociação

 
Os dois primeiros são vistos como positivos e os dois últimos como negativos
A diferenciação – um único princípio é superado em favor de um visão descentrada que permite incluir diferentes perspectivas e princípios
A autonomização – despreendimento relativo a um subsistema, permitindo seu funcionamento à base de princípios autônomos – ganho relativo de liberdade das esferas, subsistemas ou estruturas em questão

 
Racionalização – transformação institucional segundo a racionalidade instrumental. Predomina o cálculo da eficácia: os meios são ajustados aos fins – negativo porque expulsa nos espaços em que age a razão argumentativa
Dissociação – desconecta a produção material de bens e a dominação dos verdadeiros processos sociais que ocorrem na vida cotidiana

 
As patologias da modernidade se devem aos dois processos de transformação negativos: dissociação e racionalização
A dissociação implicou no desengate do mundo vivido e do sistema, já quase irreversível em nossos tempos
A racionalização expandiu-se para certas instituições do mundo vivido
Estaríamos vendo então a “colonização” do mundo vivido pelo sistema
Esta primeira patologia faz com que os homens modernos submetam suas vidas às leis de mercado e à burocracia estatal

 
A apatia generalizada permite que a economia e o estado sejam controlados por uma minoria de homens de negócios e burocratas
A segunda patologia decorre da primeira: o sistema se fortalece em detrimento do mundo vivido – a razão instrumental coloniza as instituições que antes eram conduzidas a partir da razão comunicativa
A colonização é a penetração da racionalidade instrumental e dos mecanismos de integração do dinheiro e do poder no interior das instituições culturais

O princípio do lucro e do poder ocupam, como tropas invasoras, espaços privilegiados da razão comunicativa, substituindo-a pela razão instrumental
Restam apenas alguns nichos
A terapia para reverter os processos de desengate e de colonização é reacoplar  o sistema ao mundo vivido, com maior transparência, flexibilidade e dirigibilidade das formações societárias
A descolonização visa permitir a livre atuação da razão comunicativa

 
Teoria da Modernidade de Habermas é produto da análise e da crítica a inúmeros intérpretes da modernidade
Sociologia (Weber, Durkheim, Parsons), psicólogos (Freud, Piaget, Mead), filósofos (Husserl, Heidagger, Wittegenstein), lingüistas (Chomsky, Austin, Apel), críticos de arte (Luckacs, Benjamin, Adorno) e muitos outros.
A sua teoria é feita através da crítica a esses pensadores e a apropriação, ao menos parcial, de suas formulações

 
A sociologia surgiu como ciência como conseqüência da revolução francesa
A sociologia é uma disciplina conservadora, reacionária, no sentido original da palavra
Ela faz a apologia do existente
A sociologia é uma teoria afirmativa da modernidade
Talcott  Parsons forneceu-lhe a visão sistêmica da sociedade;  a divisão de subsistemas de poder e econômico; os mecanismos de integração sistêmica; os subsistemas de personalidade, social e cultural

 
Ainda é de Parsons a idéia de interpretar os processos de racionalização e seus subsistemas como verdadeiros processos de modernização
No entanto, segundo Habermas, Parsons reduziu sua teoria  da ação a teoria sistêmica e não visualizou a possibilidade da  ação orientada para o entendimento
Weber forneceu a Habermas o paradigma geral da modernização
Racionalização = modernização
Forma de típico ideal

 
Longe de idealizar a modernidade, Weber lamenta certos traços da racionalização que teriam levado ao desencantamento
Para ele, o homem moderno vive em um sistema econômico que tole todas as liberdades e que se transformou para todos numa “armação de ferro” (ou armadura)
Para Habermas, Weber promove certa simplificação e acaba analisando somente a espera ética
A racionalização é vista por Weber como sendo a institucionalização da racionalidade instrumental. Não há lugar para a razão comunicativa

 
As teses de “cosificação” e da “unidimensionalidade” do mundo, formuladas pelos críticos de Frankfurt, inspiraram-se em Weber
Para Habermas impõem-se uma mudança da razão instrumental para a razão comunicativa, da subjetividade para a intersubjetividade, da razão monológica  para a razão dialógica

 
Para Habermas, não dá mais para imaginar a filosofia como se ela conhecesse a chave para todos os enigmas, mas é indispensável seu papel como intérprete do mundo vivido
Os filósofos deveriam compartilhar com outros especialistas a tarefa de reflexão e do esclarecimento
Os filósofos devem concentrar sua atenção no mundo vivido e na modernidade cultural
Habermas vai classificar seus colegas filósofos conservadores em: novos conservadores, velhos conservadores e neo-conservadores

 
Os filósofos marxistas em duas grande categorias:  ideólogos do socialismo de estado (subdivididos em estalinistas, leninistas e comunistas reformadores) e os representantes do marxismo ocidental (esquerda socialista, social democracia, esquerda não comunista)
Todos eles procuram conceptualização da modernidade, através da crítica
O critério para a classificação é  exatamente o utilizado para a classificação que Habermas realiza

 
Os jovens conservadores (Bataile, Foucault, Derrida, Lyotard e outros) apóiam-se nas críticas ao mundo moderno fetias pro Nietzsche e Heidegger – fundamentam um programa pós-moderno de crítica à modernidade: a razão é desmascarada como vontade de dominação
O saber é confundido com o poder, querer saber é querer dominar
Não existe nesta vertente ação voltada para o entendimento. Toda ação é exercício de poder, controle, repressão, tendo como aliado o saber(= razão instrumental)

 
Com o desmascaramento da modernidade teria início uma nova era – a pós-modernidade, descrita com traços fortemente irracionalistas
Foucault, por exemplo, elimina a diferença entre instituições econômicas, políticas, culturais, acadêmicas, psiquiátricas, etc – todas se organizam em torno de um mesmo princípio da vontade de dominar, de uma razão castradora
Para Habermas, ele fez uso de um conceito social totalmente a-sociológico

 
Já os velhos conservadores procuram preservar-se da contaminação da modernidade (Leo Straus, Hans Jonas, Robert Spaemann). Buscam voltar a posições anteriores à modernidade, são pré-modernos
Para os pós-modernos a modernidade não existe mais, tendo sido desmascarada como perversão, para os pré-modernos a modernidade nunca existiu
Já os neo-conservadores (Arnold Ghele, Gottfried Benn, Carl Schimitt, o jovem Wittegenstein e outros) valorização as aquisições da modernização societária  mas rejeitam o s potenciais explosivos da modernidade cultural

 
Para os neo-conservadores a tradição deve ocupar os espaços “vazios” do mundo vivido
Querem a restauração de uma tradição sadia – religião, ética do trabalho, etc
Já os marxistas tem sua visão de modernidade marcada pelos acontecimentos do leste europeu
Os stalinistas defendem o status quo daquelas sociedades (de socialismo de estado) como a autêntica realização dos ideais marxistas
Olham os acontecimentos do leste como contra-revolucionários

 
São partidários dos PCs estabelecidos no bloco socialista
Os leninistas atribuem o caráter de uma reforma auto-corretiva no interior do próprio processo revolucionário
Os comunistas reformistas defendem a teoria da terceira via e criticam a revolução bolchevista, criticam a estatização e sugerem a democratização dos processos políticos
Os socialistas de esquerda (Kautsky, Gramsci, Althusser) defendem que a práxis assume prioridade absoluta diante do conceito de reflexão ou comunicação

 
Os reformadores  socialdemocratas abandonaram o paradigma de luta de classes e da concepção da estrutura de classes das sociedades contemporâneas
A esquerda não comunista (Bordieu, Torreine e provavelmente o próprio Habermas) – a teoria de Marx como um dos componentes, entre outros, dos currículos acadêmicos
Novos esquemas interpretativos que não se atem simplesmente à superfície dos processos de modernização

 
Para Habermas a necessidade de justificar e refletir a modernidade veio a tona inicialmente na esfera da crítica da arte
Para Baudelaire a obra de arte estaria situada no ponto de intersecção entre atualidade e eternidade
Para Adorno a obra de arte é tanto mais válida quanto menos acessível à vulgarização, pois ela se torna, assim,  inaproveitável pela indústria cultural
A teoria estética de Adorno acaba enclausurando-se, perdendo o contato com a realidade que ela pretendia criticar e modificar

 
Habermas dá preferência à teoria estética de Benjamin
Segundo ele, a reprodutibilidade técnica da obra longe de anular a dimensão de protesto, a torna acessível a uma grande maioria
Para Habermas, Benjamin supera todos os tradicionalistas na medida que não lamenta a perda da aura, mas a exalta

A revolução das forças produtivas não se dá unicamente no interior das fábricas, ela penetra na esfera da produção artística, revolucionando a forma, o conteúdo e o conceito de obra de arte

 
Habermas cita Benjamin: “existe uma esfera de compreensão recíproca entre os homens, livre de violência, na medida que é completamente inacessível a ela: a esfera autêntica do entendimento mútuo, a linguagem”.
Benjamin é visto por Habermas como mais moderno, enquanto Adorno é visto como saudosista
Habermas: A esfera da arte funciona como um termômetro da modernidade. Aqui se exprimem com mais rapidez as patologias da modernidade
Mas é a esfera que se preserva com maior perseverança o ideal emancipatório, libertador, sonhado pela ilustração

 A Teoria da Modernidade de Habermas procura explicar os processos históricos ocorridos nos últimos três séculos e de diagnosticar  as estruturas e patologias das sociedades contemporâneas
Exame crítico de outras teorias da modernidade (sociológicas, filosóficas e estéticas). Habermas aponta as falas, lacunas ou distorções de tais teorias
Umas super-dimensionam um entre muitos aspectos (Weber), outras generalizam um aspecto isolado para o todo societário como foi o caso de Foucault

 
A Teoria da Ação Comunicativa também pretende ser uma teoria normativa que analisa, crítica, julga as aquisições da modernidade história segundo um modelo de modernidade, formulado como “projeto”, no início da modernização
O conceito normativo busca superar  as patologias da modernidade
Sugere reacoplar o mundo vivido ao mudo sistêmico, tendo prioridade o primeiro

 A fixação de objetivos políticos, a organização da economia devem, em última instância, respeitar a vontade geral formada e validada nas instituições do cotidiano do mundo vivido
É importante impedir que o sistema, enquanto tal “colonize”          com sua lógica específica os espaços do mundo vivido. É preciso respeitar os limites
Confirma a prioridade da razão comunicativa
Lutar pacificamente, argumentativamente em todos os níveis e todos os campos pela realização dos valores embutidos na ética comunicativa.

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