Segunda-feira, 11 de fevereiro-2019. 5ª SEMANA DO TEMPO COMUM-C.
Evangelho do dia- Lectio Divina- com Frei Carlos Mesters, Carmelita.
1) Oração
Velai, ó Deus, sobre a vossa
família, com incansável amor; e, como só confiamos na vossa graça, guardai-nos
sob a vossa proteção. Por nosso Senhor Jesus Cristo,
vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (Marcos 6, 53-56)
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo, segundo Marcos - Naquele
tempo, 53Navegaram para o outro lado e chegaram à região de
Genesaré, onde aportaram. 54Assim que saíram da barca, o povo o
reconheceu. 55Percorrendo toda aquela região, começaram a levar, em
leitos, os que padeciam de algum mal, para o lugar onde ouviam dizer que ele se
encontrava. 56Onde quer que ele entrasse, fosse nas aldeias ou nos
povoados, ou nas cidades, punham os enfermos nas ruas e pediam-lhe que os
deixassem tocar ao menos na orla de suas vestes. E todos os que tocavam em
Jesus ficavam sãos. - Palavra da salvação.
3) Reflexão
*
O texto do Evangelho de hoje é a parte final do conjunto mais amplo de
Marcos 6,45-56 que compreende três assuntos diferentes: 1) Jesus sobe sozinho a
montanha para rezar (Mc 6,45-46). 2) Em seguida, andando
sobre as águas, ele vai ao encontro dos discípulos que lutam contra as ondas do
mar (Mc 6,47-52). 3) Agora, no
evangelho de hoje, estando já em terra
Jesus é procurado pelo povo que a cura das suas enfermidades (Mc 6,53-56).
*
Marcos 6,53-56. A busca do povo.
“Acabando de atravessar, chegaram à terra,
em Genesaré, e amarraram a barca. Logo que desceram da barca, as pessoas
imediatamente reconheceram Jesus”. O
povo vai em massa atrás de Jesus. Eles vêm de todos os lados, carregando seus
doentes. O que chama a atenção é o entusiasmo do povo que reconheceu Jesus e
vai atrás dele. O que o move nesta busca de Jesus não é só o desejo de
encontrar-se com ele, de estar com ele, mas também o desejo de obter a cura das
suas doenças. “Iam de toda a região,
levando os doentes deitados em suas camas para o lugar onde ouviam falar que
Jesus estava. E onde ele chegava, tanto nos povoados como nas cidades ou nos
campos, colocavam os doentes nas praças e pediam que pudessem ao menos tocar a
barra da roupa de Jesus. E todos os que tocaram, ficaram curados”. O
evangelho de Mateus comenta e ilumina este fato citando a figura do Servo de
Javé, do qual Isaías diz: “Carregou sobre
si as nossas enfermidades” (Is 53,4 e Mt 8,16-17)
*
Ensinar e curar, curar e ensinar. Desde o começo da sua atividade
apostólica, Jesus anda por todos os povoados da Galiléia para falar ao povo
sobre o Reino de Deus que estava chegando (Mc 1,14-15). Onde encontra gente
para escutá-lo, ele fala e transmite a Boa Nova de Deus, acolhe e cura os
doentes, em qualquer lugar: nas sinagogas durante a celebração da Palavra nos sábados
(Mc 1,21; 3,1; 6,2); em reuniões informais
nas casas de amigos (Mc 2,1.15; 7,17; 9,28; 10,10); andando pelo caminho com os discípulos (Mc 2,23); ao
longo do mar na praia, sentado num
barco (Mc 4,1); no deserto para onde
se refugiou e onde o povo o procurava (Mc 1,45; 6,32-34); na montanha, de onde proclamou as
bem-aventuranças (Mt 5,1); nas praças
das aldeias e cidades, onde povo carregava seus doentes (Mc 6,55-56); no Templo de Jerusalém, por ocasião das
romarias, diariamente, sem medo (Mc 14,49)! Curar e ensinar, ensinar e curar
era o que Jesus mais fazia (Mc 2,13; 4,1-2; 6,34). Era o costume dele (Mc
10,1). O povo ficava admirado (Mc 12,37; 1,22.27; 11,18) e o procurava em
massa.
* Na raiz deste grande entusiasmo do povo
estava, de um lado, a pessoa de Jesus que chamava e atraía, e, de outro lado, o
abandono do povo que era como ovelha sem pastor (cf. Mc 6,34). Em Jesus, tudo era revelação daquilo que o animava
por dentro! Ele não
só falava sobre Deus, mas também o revelava. Comunicava algo do que ele mesmo
vivia e experimentava. Ele não só anunciava a Boa Nova do Reino. Ele mesmo era uma amostra, um
testemunho vivo do Reino. Nele
aparecia aquilo que acontece quando um ser humano deixa Deus reinar, tomar conta de sua vida. O que
vale não são só as palavras, mas também e sobretudo o testemunho, o gesto
concreto. Esta é a Boa Nova do Reino que atrai!
4) Para um confronto pessoal
1. O entusiasmo do povo em busca de Jesus, em busca
de um sentido para a vida e uma solução para os seus males. Onde existe isto
hoje? Existe em você, existe em mim?
2. O que chama a atenção é
a atitude carinhosa de Jesus para com os pobres e abandonados. E eu, como me
comporto com as pessoas excluídas da sociedade?
5) Oração final
Ó Senhor, quão variadas são
as vossas obras! Feitas, todas, com sabedoria,
a terra está cheia das
coisas que criastes. Bendize, ó minha alma, ao Senhor! (Sl
103, 24.35c)
Terça-feira, 12 de fevereiro-2019. 5ª SEMANA DO TEMPO COMUM-C. Evangelho
do dia- Lectio Divina- com Frei Carlos Mesters, Carmelita.
1) Oração
Velai, ó Deus, sobre a vossa
família, com incansável amor; e, como só confiamos na vossa graça, guardai-nos
sob a vossa proteção. Por nosso Senhor Jesus Cristo,
vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (Marcos 7, 1-13)
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo, segundo Marcos - Naquele
tempo, 1Os fariseus e alguns dos escribas vindos de Jerusalém tinham
se reunido em torno dele. 2E perceberam que alguns dos seus discípulos
comiam o pão com as mãos impuras, isto é, sem as lavar. 3(Com
efeito, os fariseus e todos os judeus, apegando-se à tradição dos antigos, não
comem sem lavar cuidadosamente as mãos; 4e, quando voltam do
mercado, não comem sem ter feito abluções. E há muitos outros costumes que
observam por tradição, como lavar os copos, os jarros e os pratos de metal.) 5Os
fariseus e os escribas perguntaram-lhe: Por que não andam os teus discípulos
conforme a tradição dos antigos, mas comem o pão com as mãos impuras? 6Jesus
disse-lhes: Isaías com muita razão profetizou de vós, hipócritas, quando
escreveu: Este povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está longe de
mim. 7Em vão, pois, me cultuam, porque ensinam doutrinas e preceitos
humanos (29,13). 8Deixando o mandamento de Deus, vos apegais à
tradição dos homens. 9E Jesus acrescentou: Na realidade, invalidais
o mandamento de Deus para estabelecer a vossa tradição. 10Pois
Moisés disse: Honra teu pai e tua mãe; Todo aquele que amaldiçoar pai ou mãe
seja morto. 11Vós, porém, dizeis: Se alguém disser ao pai ou à mãe:
Qualquer coisa que de minha parte te pudesse ser útil é corban, isto é, oferta,
12e já não lhe deixais fazer coisa alguma a favor de seu pai ou de
sua mãe, 13anulando a palavra de Deus por vossa tradição que vós vos
transmitistes. E fazeis ainda muitas coisas semelhantes. - Palavra da salvação.
3) Reflexão
* O Evangelho de hoje fala dos costumes
religiosos daquele tempo e dos fariseus que ensinavam tais costumes ao povo.
Por exemplo, comer sem lavar as mãos ou, como eles diziam, comer com mãos
impuras. Muitos destes costumes estavam desligados da vida e tinham perdido o
seu sentido. Mesmo assim, estes costumes eram conservados e ensinados, ou por
medo, ou por superstição. O Evangelho traz algumas instruções de Jesus a
respeito destes costumes.
* Marcos 7,1-2:
Controle dos fariseus e liberdade dos
discípulos.
Os fariseus e alguns escribas, vindos de
Jerusalém, observavam como os discípulos de Jesus comiam pão com mãos impuras. Aqui há três pontos que merecem
ser assinalados: 1) Os escribas eram de Jerusalém, da capital! Significa que
tinham vindo para observar e controlar os passos de Jesus. 2) Os discípulos não
lavavam as mãos para comer! Significa que a convivência com Jesus os levou a
criar coragem para transgredir normas que a tradição impunha ao povo, mas que
já não tinham sentido para a vida. 3) O costume de lavar as mãos, que, até
hoje, continua sendo uma norma importante de higiene, tinha tomado para eles um
significado religioso que servia para controlar e discriminar as pessoas.
* Marcos 7,3-4:
A Tradição dos Antigos
“A Tradição dos Antigos” transmitia as
normas que deviam ser observadas pelo povo para conseguir a pureza exigida pela
lei. A observância da pureza era um assunto muito sério para o povo daquele
tempo. Eles achavam que uma pessoa impura não podia receber a bênção prometida
por Deus a Abraão. As normas de pureza eram ensinadas para abrir o caminho até
Deus, fonte da paz. Na realidade, porém, em vez de serem uma fonte de paz, as
normas eram uma prisão, um cativeiro. Para os pobres, era praticamente impossível
observar as centenas de normas, costumes e leis. Por isso, eles eram
desprezados como gente ignorante e maldita que não conhece a lei (Jo 7,49).
* Marcos 7,5:
Escribas e fariseus criticam o
comportamento dos discípulos de Jesus
Os escribas e fariseus perguntam a Jesus: Por que os teus discípulos não se comportam
conforme a tradição dos antigos e comem o pão com as mãos impuras? Eles
fingem estar interessados em conhecer o porquê do comportamento dos discípulos.
Na realidade, criticam Jesus por ele permitir que os discípulos transgridam as
normas da pureza. Os fariseus
formavam uma espécie de irmandade, cuja principal preocupação era observar
todas as leis da pureza. Os escribas
eram os responsáveis pela doutrina. Ensinavam as leis referentes à observância
da pureza.
* Marcos
7,6-13 Jesus critica a incoerência
dos fariseus
Jesus responde citando Isaías: Este povo me honra só com os lábios, mas o
seu coração está longe de mim (cf. Is 29,13). Insistindo nas normas da
pureza, os fariseus esvaziavam os mandamentos da lei de Deus. Jesus cita um
exemplo concreto. Eles diziam: a pessoa que oferecer ao Templo os seus bens,
não pode usar esses bens para ajudar os pais necessitados. Assim, em nome da
tradição esvaziavam o quarto mandamento que manda amar pai e mãe. Tais pessoas
pareciam muito observantes, mas era só por fora. Por dentro, o coração delas
fica longe de Deus! Como diz o canto: “Seu nome é Jesus Cristo e passa fome, e
vive à beira das calçadas. E a gente quando vê passa adiante, às vezes, para
chegar depressa à igreja!”. No tempo de Jesus, o povo, na sua sabedoria, não
concordava com tudo que se ensinava. Esperava que, um dia, o Messias viesse
indicar um outro caminho para alcançar a pureza. Em Jesus se realiza esta
esperança.
4) Para um confronto pessoal
1. Conhece algum costume religioso de hoje que
já não tem muito sentido, mas que continua sendo ensinado?
2. Os fariseus eram judeus
praticantes mas sua fé estava desligada da vida da vida do povo. Por isso,
Jesus os criticou. E hoje, Jesus nos criticaria? Em que?
5) Oração final
Ó Senhor, nosso Deus, como é
glorioso vosso nome em toda a terra! Vossa majestade se estende, triunfante,
por cima de todos os céus. Que é o homem, digo-me então, para pensardes nele? (Sl
8, 2.5a)
Quarta-feira, 13 de fevereiro-2019. 5ª SEMANA DO TEMPO COMUM-C.
Evangelho do dia- Lectio Divina- com Frei Carlos Mesters, Carmelita.
1) Oração
Velai, ó Deus, sobre a vossa
família, com incansável amor; e, como só confiamos na vossa graça, guardai-nos
sob a vossa proteção. Por nosso Senhor Jesus Cristo,
vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (Marcos 7, 14-33)
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo, segundo Marcos - Naquele
tempo, 14Jesus chamou a multidão para perto de si e disse: Ouvi-me
todos, e entendei. 15Nada há fora do homem que, entrando nele, o
possa manchar; mas o que sai do homem, isso é que mancha o homem. 16[bom
entendedor meia palavra basta.] 17Quando deixou o povo e entrou em
casa, os seus discípulos perguntaram-lhe acerca da parábola. 18Respondeu-lhes:
Sois também vós assim ignorantes? Não compreendeis que tudo o que de fora entra
no homem não o pode tornar impuro, 19porque não lhe entra no
coração, mas vai ao ventre e dali segue sua lei natural? Assim ele declarava
puros todos os alimentos. E acrescentava: 20Ora, o que sai do homem,
isso é que mancha o homem. 21Porque é do interior do coração dos
homens que procedem as más intenções, imoralidades, roubos, assassínios, 22adultérios,
cobiças, perversidades, fraudes, desonestidade, inveja, difamação, orgulho e
insensatez. 23Todos estes vícios procedem de dentro e tornam impuro
o homem. - Palavra da salvação.
3) Reflexão
* O
Evangelho de hoje é a continuação do assunto que meditamos ontem. Jesus ajuda o
povo e os discípulos a entender melhor o significado da pureza diante de Deus.
Desde séculos, os judeus, para não contrair impureza, observavam muitas normas
e costumes relacionados com comida, bebida, roupa, higiene do corpo, lavagem de
copos, contato com pessoas de outra religião e raça, etc (Mc 7,3-4) Eles eram
proibidos de entrar em contato com os pagãos e de comer com eles. Nos anos 70,
época de Marcos, alguns judeus convertidos diziam: “Agora que somos cristãos
temos que abandonar estes costumes antigos que nos separam dos pagãos
convertidos!” Mas outros achavam que deviam continuar na observância destas
leis da pureza (cf Col 2,16.20-22). A atitude de Jesus, descrita no evangelho
de hoje, ajudava-os a superar o problema.
* Marcos
7,14-16: Jesus abre um novo caminho
para o povo se aproximar de Deus
Ele diz para a multidão: “Não há nada no exterior do ser humano que,
entrando nele, possa torná-lo impuro!” (Mc 7,15). Jesus inverte as coisas:
o impuro não vem de fora para dentro, como ensinavam os doutores da lei, mas
sim de dentro para fora. Deste modo, ninguém mais precisa se perguntar se esta
ou aquela comida ou a bebida é pura ou impura. Jesus coloca o puro e o impuro
num outro nível, no nível do comportamento ético. Ele abre um novo caminho para
chegar até Deus e, assim, realiza o desejo mais profundo do povo.
* Marcos 7,17-23:
Em casa, os discípulos pedem explicação
Os discípulos não entenderam bem o que Jesus
queria dizer com aquela afirmação. Quando chegaram em casa pediram uma
explicação. Jesus estranhou a pergunta dos discípulos. Pensava que eles
tivessem entendido a parábola. Na explicação aos discípulos ele vai até ao
fundo da questão da pureza. Declara puros todos os alimentos! Ou seja, nenhum
alimento que de fora entra no ser humano pode torná-lo impuro, pois não vai até
o coração, mas vai para o estômago e acaba na fossa. Mas o que torna impuro,
diz Jesus, é aquilo que de dentro do coração sai para envenenar o
relacionamento humano. E ele enumera: prostituição, roubo, assassinato,
adultério, ambição, etc. Assim, de muitas maneiras, pela palavra, pelo toque e
pela convivência, Jesus foi ajudando as pessoas a ver e obter a pureza de outra
maneira. Pela palavra, purificava os leprosos (Mc 1,40-44), expulsava os
espírito impuros (Mc 1,26.39; 3,15.22 etc), e vencia a morte que era a fonte de
toda a impureza. Pelo toque em Jesus, a mulher excluída como impura ficou
curada (Mc 5,25-34). Sem medo de contaminação, Jesus comia junto com as pessoas
consideradas impuras (Mc 2,15-17).
* As
leis da pureza no tempo de Jesus
O povo daquela época tinha uma grande preocupação com
a pureza. A
lei e as normas da pureza indicavam
as condições necessárias para alguém poder comparecer diante de Deus e se
sentir bem na presença dele. Não se podia comparecer diante de Deus de qualquer
jeito. Pois Deus é Santo. A Lei dizia: “Sede
santos, porque eu sou santo!” (Lv 19,2). Quem não era puro não podia chegar
perto de Deus para receber dele a
bênção prometida a Abraão. A lei do puro e do impuro (Lv 11 a 16) foi escrita
depois do cativeiro da Babilônia, cerca de 800 anos depois do Êxodo, mas tinha
suas raízes na mentalidade e nos costumes antigos do povo da Bíblia. Uma visão
religiosa e mítica do mundo levava o povo a apreciar as coisas, as pessoas e os
animais, a partir da categoria da pureza (Gn 7,2; Dt 14,13-21; Nm 12,10-15; Dt
24,8-9).
No contexto da dominação persa, séculos V e IV antes
de Cristo, diante da dificuldade para reconstruir o templo de Jerusalém e para
a própria sobrevivência do clero, os sacerdotes que estavam no governo do povo
da Bíblia ampliaram as leis da pureza e a obrigação de oferecer sacrifícios de
purificação pelo pecado. Assim, depois do parto (Lv 12,1-8), da menstruação (Lv
15,19-24) ou da cura de uma hemorragia (Lv 15,25-30), as mulheres tinham que
oferecer sacrifícios para recuperar a pureza. Pessoas leprosas (Lv 13) ou que
entravam em contato com coisas e animais impuros (Lv 5,1-13) também deviam
oferecer sacrifícios. Uma parte destas oferendas ficava para os sacerdotes (Lv
5,13).
No tempo de Jesus, tocar em leproso, comer com
publicano, comer sem lavar as mãos, e tantas outras atividades, etc.: tudo isso
tornava a pessoa impura, e qualquer contato com esta pessoa contaminava os
outros. Por isso, as pessoas “impuras” deviam ser evitadas. O povo vivia
acuado, sempre ameaçado pelas tantas coisas impuras que ameaçavam sua vida. Era
obrigado a viver desconfiado de tudo e de todos. Agora, de repente, tudo mudou!
Através da fé em Jesus, era possível conseguir a pureza e sentir-se bem diante
de Deus sem que fosse necessário observar todas aquelas leis e normas da
“Tradição dos Antigos”. Foi uma libertação! A Boa Nova anunciada por Jesus
tirou o povo da defensiva, do medo, e lhe devolveu a vontade de viver, a
alegria de ser filho e filha de Deus, sem medo de ser feliz!
4) Para um confronto pessoal
1. Na sua vida há costumes
que você considera sagrados e outros que considera não sagrados? Quais? Por
que?
2. Em nome da Tradição dos
Antigos os fariseus esqueciam o Mandamento de Deus. Isto acontece hoje? Onde e
quando? Também na minha vida?
5) Oração final
Vem do Senhor a
salvação dos justos, que é seu refúgio no tempo da provocação. O Senhor os
ajuda e liberta; arranca-os dos ímpios e os salva,
porque
se refugiam nele. (Sl 36)
Quinta-feira, 14 de fevereiro-2019. 5ª SEMANA DO TEMPO COMUM-C.
Evangelho do dia- Lectio Divina- com Frei Carlos Mesters, Carmelita.
1) Oração
Velai, ó Deus, sobre a vossa
família, com incansável amor; e, como só confiamos na vossa graça, guardai-nos
sob a vossa proteção. Por nosso Senhor Jesus Cristo,
vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (Marcos 7, 24-30)
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo, segundo Marcos - Naquele
tempo, 24Em seguida, deixando aquele lugar, Jesus foi para a terra
de Tiro e de Sidônia. E tendo entrado numa casa, não quis que ninguém o
soubesse. Mas não pôde ficar oculto, 25pois uma mulher, cuja filha
possuía um espírito imundo, logo que soube que ele estava ali, entrou e caiu a
seus pés. 26(Essa mulher era pagã, de origem siro-fenícia.) Ora, ela
suplicava-lhe que expelisse de sua filha o demônio. 27Disse-lhe
Jesus: Deixa primeiro que se fartem os filhos, porque não fica bem tomar o pão
dos filhos e lançá-lo aos cães. 28Mas ela respondeu: É verdade,
Senhor; mas também os cachorrinhos debaixo da mesa comem das migalhas dos
filhos. 29Jesus respondeu-lhe: Por causa desta palavra, vai-te, que
saiu o demônio de tua filha. 30Voltou ela para casa e achou a menina
deitada na cama. O demônio havia saído. - Palavra da salvação.
3) Reflexão
*
No Evangelho de hoje, veremos como Jesus atende a uma mulher estrangeira
de outra raça e de outra religião, o que era proibido pela lei religiosa
daquela época. Inicialmente, Jesus não queria atendê-la, mas a mulher insistiu
e conseguiu o que ela queria: a cura da filha.
*
Jesus vai tentando abrir a mentalidade dos discípulos e do povo para
além da visão tradicional. Na multiplicação dos pães, ele tinha insistido na
partilha (Mc 6,30-44). Na discussão sobre o puro e o impuro, tinha declarado
puros todos os alimentos (Mc 7,1-23). Agora, neste episódio da Mulher Cananéia,
ele ultrapassa as fronteiras do território nacional e acolhe uma mulher
estrangeira que não era do povo e com a qual era proibido conversar. Estas
iniciativas de Jesus, nascidas da sua experiência de Deus como Pai, eram
estranhas para a mentalidade do povo da época. Jesus ajuda o povo a abrir sua
maneira de experimentar Deus na vida.
*
Marcos 7.24: Jesus
sai do território
No evangelho de ontem (Mc 7,14-23) e de anteontem (Mc
7,1-13), Jesus tinha criticado a incoerência da “Tradição dos Antigos” e tinha
ajudado o povo e os discípulos a sair da prisão das leis da pureza. Aqui, em Mc
7,24, ele sai da Galiléia. Parece querer sair da prisão do território e da
raça. Estando no estrangeiro, ele não quer ser conhecido. Mas a sua fama já
tinha chegado antes. O povo ficou sabendo e faz apelo a Jesus.
*
Marcos 7.25-26: A
situação
Uma mulher
chega perto e começa a pedir pela filha doente. Marcos diz explicitamente que
ela era de outra raça e de outra religião. Isto é, era uma pagã. Ela se
lança aos pés de Jesus e começa a suplicar pela cura da filha que estava
possuída por um espírito impuro. Os pagãos não tinham problema em recorrer a
Jesus. Os judeus é que tinham problemas em conviver com os pagãos!
*
Marcos 7.27: A resposta de Jesus
Fiel às normas
da sua religião, Jesus diz que não convém tirar o pão dos filhos e dar aos
cachorrinhos. Frase dura. A comparação vinha da vida em família. Até hoje,
criança e cachorro é o que mais tem nos bairros pobres. Jesus afirma uma coisa
certa: nenhuma mãe tira o pão da boca dos filhos para dar aos cachorrinhos. No
caso, os filhos eram o povo judeu e
os cachorrinhos, os pagãos. Na época do AT, por causa da rivalidade entre os
povos, um povo costumava chamar o outro povo de “cachorro” (1Sam 17,43). Nos outros evangelhos Jesus explica o porque da sua
recusa: “Não fui enviado a não ser para
as ovelhas perdidas da casa de Israel” (Mt 15,24). Ou seja: “O Pai não quer
que eu atenda à senhora!”
*
Marcos 7,28: A reação da mulher
Ela concorda
com Jesus, mas amplia a comparação e a aplica ao caso dela: “É verdade, Jesus!
Mas também os cachorrinhos comem as migalhas que caem da mesa das crianças!” É
como se dissesse: “Se sou cachorrinho, então tenho o direito dos cachorrinhos,
a saber, as migalhas me pertencem!” Ela simplesmente tirou as conclusões da
parábola que Jesus contou e mostrou que, até na casa de Jesus, os cachorrinhos
comiam das migalhas que caíam da mesa das crianças. E na “casa de Jesus”, isto
é, na comunidade cristã, a multiplicação do pão para os filhos foi tão
abundante que estavam sobrando doze cestos (Mc 6,42) para os “cachorrinhos”,
isto é, para ela, para os pagãos!
*
Marcos 7,29-30: A reação de Jesus:
“Pelo que
disseste: Vai! O demônio saiu da tua filha!” Nos outros evangelhos se
explicita: “Grande é a tua fé! Seja feito como queres!” (Mt 15,28). Se Jesus
atende ao pedido da mulher, é porque compreendeu que, agora, o Pai queria que ele
acolhesse o pedido dela. Este episódio ajuda a perceber algo do mistério que
envolvia a pessoa de Jesus e como ele convivia com o Pai. Era observando as
reações e as atitudes das pessoas, que Jesus descobria a vontade do Pai nos
acontecimentos da vida,. A atitude da mulher abriu um novo horizonte na vida de
Jesus. Através dela, ele descobriu melhor que o projeto do Pai é para todos os
que buscam a vida e procuram libertá-la das cadeias que aprisionam a sua
energia. Assim, ao longo das páginas do
evangelho de Marcos há uma abertura crescente em direção aos outros povos.
Deste modo, Marcos leva os leitores e as leitoras a abrir-se, aos poucos, para
a realidade do mundo ao redor e a superar os preconceitos que impediam a
convivência pacífica entre os povos. Esta abertura para os pagãos aparece de
maneira muito clara na ordem final dada por Jesus aos discípulos, depois da sua
ressurreição: ”Ide por todo o mundo, proclamai o Evangelho a toda criatura”
(Mc 16,15).
4) Para um confronto pessoal
1. Como você faz, concretamente, para conviver em paz
com pessoas de outras igrejas cristãs ou com espíritas? No bairro onde você
vive tem gente de outras religiões? Quais? Você conversa normalmente com
pessoas de outra religião?
2. Qual a abertura que este texto pede de nós, hoje, na
família e na comunidade?
5) Oração final
Felizes aqueles que
observam os preceitos, aqueles que, em todo o tempo, fazem o que é reto. Lembrai-vos
de mim, Senhor, pela benevolência que tendes com o vosso povo. Assisti-me com o
vosso socorro. (Sl 105, 3-4)
Sexta-feira, 15 de fevereiro-2019. 5ª SEMANA DO TEMPO COMUM-C. Evangelho
do dia- Lectio Divina- com Frei Carlos Mesters, Carmelita.
1) Oração
Velai, ó Deus, sobre a vossa
família, com incansável amor; e, como só confiamos na vossa graça, guardai-nos
sob a vossa proteção. Por nosso Senhor Jesus Cristo,
vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (Marcos 7, 31-37)
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo, segundo Marcos - Naquele
tempo, 31Jesus deixou de novo as fronteiras de Tiro e foi por
Sidônia ao mar da Galiléia, no meio do território da Decápole. 32Ora,
apresentaram-lhe um surdo-mudo, rogando-lhe que lhe impusesse a mão. 33Jesus
tomou-o à parte dentre o povo, pôs-lhe os dedos nos ouvidos e tocou-lhe a
língua com saliva. 34E levantou os olhos ao céu, deu um suspiro e
disse-lhe: Éfeta!, que quer dizer abre-te! 35No mesmo instante os
ouvidos se lhe abriram, a prisão da língua se lhe desfez e ele falava
perfeitamente. 36Proibiu-lhes que o dissessem a alguém. Mas quanto
mais lhes proibia, tanto mais o publicavam. 37E tanto mais se
admiravam, dizendo: Ele fez bem todas as coisas; fez que ouçam os surdos e
falem os mudos. - Palavra da salvação.
3) Reflexão
No evangelho de
hoje, Jesus cura um surdo que gaguejava. Este episódio é pouco conhecido. No
episódio da Mulher Cananéia, Jesus ultrapassou as fronteiras do território
nacional e acolheu uma mulher estrangeira que não era do povo e com a qual era
proibido conversar. A mesma abertura continua no evangelho de hoje.
*
Marcos 7,31. A região da Decápole
“Jesus saiu de novo da região de Tiro,
passou por Sidônia e continuou até o mar da Galiléia, atravessando a região da
Decápole”. Decápole significa,
literalmente, Dez Cidades. Era uma
região de dez cidades ao sudeste da Galiléia, cuja população era pagã.
*
Marcos 7,31-35. Abrir o ouvido e soltar a língua.
Um surdo gago é levado a Jesus. O jeito de curar é
diferente. O povo queria que Jesus apenas impusesse as mãos sobre ele. Mas
Jesus foi muito além do pedido. Ele levou o homem para longe da multidão,
colocou os dedos nas orelhas e com saliva tocou na língua, olhou para o céu,
fez um suspiro profundo e disse: “Éfata!”, isto é, “Abra-se!” No mesmo
instante, os ouvidos do surdo se abriram, a língua se desprendeu e o homem
começou a falar corretamente. Jesus quer que o povo abra o ouvido e solte a
língua!
*
Marcos 7,36-37: Jesus não quer publicidade.
“Jesus recomendou com insistência que não
contassem nada a ninguém. No entanto, quanto mais ele recomendava, mais eles
pregavam. Estavam muito impressionados e diziam: "Jesus faz bem todas as
coisas. Faz os surdos ouvir e os mudos falar". Ele proíbe a divulgação
da cura, mas não adiantou. Quem teve experiência de Jesus, vai contar para os
outros, queira ou não queira! As pessoas que assistiram á cura começaram a
proclamar o que tinham visto e resumiram a Boa Notícia assim: "Jesus faz bem todas as coisas. Faz os
surdos ouvir e os mudos falar". .
Esta afirmação do povo faz lembrar a criação, onde se diz: “Deus viu que tudo
era muito bom!” (Gn 1,31). E evoca ainda a profecia de Isaías, onde este diz
que no futuro os surdos vão ouvir e os mudos vão falar (Is 29,28; 35,5. cf Mt
11,5).
* A recomendação de não contar nada a
ninguém.
Às vezes, se exagera a atenção que o evangelho de
Marcos atribui à proibição de divulgar a cura, como se Jesus tivesse um segredo
a ser preservado. Na maioria das vezes que Jesus faz um milagre, ele não pede
silêncio. Uma vez até pediu publicidade (Mc 5,19). Algumas vezes, porém, ele dá
ordem para não divulgar a cura (Mc 1,44; 5,43; 7,36; 8,26), mas ele obtém o
resultado contrário. Quanto mais proíbe, tanto mais a Boa Nova se espalha (Mc
1,28.45; 3,7-8; 7,36-37). Não adianta proibir! Pois a força interna da Boa Nova
é tão grande que ela se divulga por si mesma!
* Abertura
crescente no evangelho de Marcos
Ao longo das páginas do evangelho de Marcos há uma
abertura crescente em direção aos outros povos. Assim, Marcos leva os leitores
e as leitoras a abrir-se, aos poucos, para a realidade do mundo ao redor e a
superar os preconceitos que impediam a convivência pacífica entre os povos. Na
sua passagem pela Decápole, região pagã, Jesus atende ao pedido do povo do
lugar e cura um surdo gago. Ele não tem medo de contaminar-se com a impureza de
um pagão, pois ao curá-lo, toca-lhe os ouvidos e a língua. Enquanto as
autoridades dos judeus e os próprios discípulos têm dificuldades de escutar e
entender, um pagão que era surdo e gago passa a ouvir e a falar pelo toque de
Jesus. Lembra o cântico do servo “O Senhor Iahweh abriu-me os ouvidos e eu
não fui rebelde” (Is 50,4-5). Ao expulsar os vendedores do templo, Jesus
critica o comércio injusto e afirma que o templo deve ser casa de oração para todos os povos (Mc 11,17). Na parábola
dos vinhateiros homicidas, Marcos faz alusão ao fato de que a mensagem será
tirada do povo eleito, os judeus, e será dada aos outros, aos pagãos (Mc
12,1-12). Depois da morte de Jesus, Marcos apresenta a profissão de fé de um
pagão ao pé da cruz. Ao citar o centurião romano e seu reconhecimento de Jesus
como Filho de Deus, está dizendo que o pagão é mais fiel do que os discípulos e
mais fiel do que os judeus (Mc 15,39). A abertura para os pagãos aparece de
maneira muito clara na ordem final dada por Jesus aos discípulos, depois da sua
ressurreição: ”Ide por todo o mundo, proclamai o Evangelho a toda criatura”
(Mc 16,15).
4) Para um confronto pessoal
1. Jesus teve muita abertura
para as pessoas de outra raça, de outra religião e de outros costumes. Será que
nós cristãos hoje temos a mesma abertura? Será que eu tenho?
2. Definição da Boa Nova: “Jesus fez bem todas as
coisas!” Sou Boa Nova de Deus para os outros?
5) Oração final
Cantai ao Senhor um
cântico novo. Cantai ao Senhor, terra inteira. Cantai ao Senhor e bendizei o
seu nome, anunciai cada dia a salvação que ele nos trouxe. (Sl 95, 1-2)
Sábado. 16 de fevereiro-2019 5ª SEMANA DO TEMPO COMUM-C. Evangelho do
dia- Lectio Divina- com Frei Carlos Mesters, Carmelita.
1) Oração
Velai, ó Deus, sobre a vossa
família, com incansável amor; e, como só confiamos na vossa graça, guardai-nos
sob a vossa proteção. Por nosso Senhor Jesus Cristo,
vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (Marcos 8, 1-10)
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo, segundo Marcos - 1Naqueles
dias, como fosse novamente numerosa a multidão, e não tivessem o que comer,
Jesus convocou os discípulos e lhes disse: 2Tenho compaixão deste
povo. Já há três dias perseveram comigo e não têm o que comer; 3Se
os despedir em jejum para suas casas, desfalecerão no caminho; e alguns deles
vieram de longe! 4Seus discípulos responderam-lhe: Como poderá
alguém fartá-los de pão aqui no deserto? 5Mas ele perguntou-lhes:
Quantos pães tendes? Sete, responderam. 6Mandou então que o povo se
assentasse no chão. Tomando os sete pães, deu graças, partiu-os e entregou-os a
seus discípulos, para que os distribuíssem e eles os distribuíram ao povo. 7Tinham
também alguns peixinhos. Ele os abençoou e mandou também distribuí-los. 8Comeram
e ficaram fartos, e dos pedaços que sobraram levantaram sete cestos. 9Ora,
os que comeram eram cerca de quatro mil pessoas. Em seguida, Jesus os despediu.
10E embarcando depois com seus discípulos, foi para o território de
Dalmanuta. - Palavra da salvação.
1 Naqueles dias, havia de novo uma grande
multidão e não tinham o que comer. Jesus chamou os discípulos e disse: 2
"Tenho compaixão dessa multidão, porque já faz três dias que está comigo e
não têm nada para comer. 3 Se eu os mandar para casa sem comer, vão desmaiar
pelo caminho, porque muitos deles vieram de longe." 4 Os discípulos disseram: "Onde alguém
poderia saciar essa gente de pão, aqui no deserto?" 5 Jesus perguntou: "Quantos pães vocês
têm?" Eles responderam: "Sete." 6 Jesus mandou que a multidão se
sentasse no chão. Depois pegou os sete pães, agradeceu, partiu-os e ia dando
aos discípulos, para que os distribuíssem.
7 Tinham também alguns peixinhos. Depois de pronunciar a bênção sobre
eles, mandou que os distribuíssem também. 8 Comeram e ficaram satisfeitos, e
recolheram sete cestos dos pedaços que sobraram. 9 Eram mais ou menos quatro mil. E Jesus os
despediu. 10 Jesus entrou na barca com
seus discípulos e foi para a região de Dalmanuta.
3) Reflexão
*
O texto do evangelho de hoje traz a segunda multiplicação dos pães. O
fio que costura os vários episódios desta parte do evangelho de Marcos é o alimento, o pão. Depois do banquete
de morte (Mc 6,17-29), vem o banquete
da vida (Mc 6,30-44). Durante a travessia do lago, os discípulos têm medo,
porque não entenderam nada do pão
multiplicado no deserto (Mc 6,51-52). Em seguida, Jesus declara puros todos os alimentos (Mc 7,1-23). Na conversa de
Jesus com a mulher Cananéia, os pagãos vão comer das migalhas que caem da mesa dos filhos (Mc 7,24-30). E aqui no
evangelho de hoje, Marcos relata a segunda multiplicação do pão (Mc 8,1-10).
*
Marcos 8,1-3: A situação do povo e a reação de Jesus
A multidão,
que se juntou ao redor de Jesus no deserto, estava sem comida. Jesus chama os
discípulos e coloca o problema: Tenho dó
desse povo. Estão três dias comigo e não têm o que comer. Não posso mandá-los
de volta para casa, porque alguns deles vieram de longe e poderiam desfalecer
pelo caminho! Nesta preocupação de Jesus transparecem duas coisas muito
importantes: 1) O povo esqueceu casa e comida e foi atrás de Jesus no deserto!
Sinal de que Jesus deve ter sido uma simpatia ambulante, a ponto de o povo
andar atrás dele no deserto e ficar com ele durante três dias! 2) Jesus não manda resolver o problema. Ele
apenas manifesta a sua preocupação aos discípulos. Parece um problema sem
solução.
*
Marcos 8,4: A reação dos discípulos: o primeiro mal-entendido
Os discípulos
pensam logo numa solução, segundo a qual alguém deve arrumar pão para o povo. Não lhes passa pela cabeça
que a solução possa vir do próprio povo. Eles dizem: “Como poderia alguém, aqui
no deserto, saciar com pão a tanta gente?” Com outras palavras, eles pensam
numa solução tradicional. Alguém deve juntar dinheiro, comprar pão e distribuir
ao povo. Eles mesmos percebem que, naquele deserto, esta solução não é viável,
mas não vêem outra possibilidade para resolver o problema. Ou seja: se Jesus
insiste em não mandar o povo de volta para casa, não haverá solução para a fome
do povo!
*
Marcos 8,5-7: A solução encontrada por Jesus
Primeiro, ele
pergunta quantos pães eles têm: “Sete!”
Em seguida, manda o povo sentar-se. Depois, tomou os sete pães, deu graças, partiu-os e deu aos seus discípulos
para que os distribuíssem. E fez o mesmo com os peixes. Como na primeira multiplicação (Mc 6,41), a
maneira de Marcos descrever a atitude de Jesus lembra a Eucaristia. A mensagem
é esta: a participação na Eucaristia deve levar-nos à doação e à partilha do
pão com os que não têm pão
*
Marcos 8,8-10: O resultado
Todos comeram,
ficaram saciados e ainda sobrou! Solução inesperada, nascida de dentro do
próprio povo, a partir do pouco que eles mesmos tinham trazido. Na primeira
multiplicação, sobraram doze cestos. Aqui, sete. Na primeira, foi para cinco
mil pessoas. Aqui, para quatro mil. Na primeira, havia cinco pães e dois
peixes. Aqui, sete pães e alguns peixes.
* O perigo da ideologia dominante
Os discípulos pensavam de um jeito, Jesus pensa de
outro jeito. No modo de pensar dos discípulos transparece a ideologia
dominante, o modo comum de pensar das pessoas. Jesus pensa diferente. Não é
pelo fato de uma pessoa andar com Jesus e de viver na comunidade que ela já é
santa e renovada. No meio dos discípulos, cada vez de novo, a mentalidade
antiga levantava a cabeça, pois o “fermento
de Herodes e dos fariseus” (Mc 8,15), isto é, a ideologia dominante, tinha
raízes profundas na vida daquele povo. A conversão que Jesus pede vai longe e
fundo. Ele quer atingir a raiz e erradicar os vários tipos de “fermento”:
+
o “fermento” da comunidade fechada sobre si mesma sem abertura. Jesus
responde: “Quem não é contra é a favor!" (Mc 9,39-40). Para Jesus, o que
importa não é se a pessoa faz ou não faz parte da comunidade, mas sim se ela
faz ou não o bem que a comunidade deve realizar.
+
o “fermento” do grupo que se considera superior aos outros. Jesus
responde "Vocês não sabem de que espírito estão sendo animados" (Lc
9,55).
+
o “fermento” da mentalidade de classe e de competição, que caracterizava
a sociedade do Império Romano e que já se infiltrava na pequena comunidade que
estava apenas começando. Jesus responde: "O primeiro seja o último"
(Mc 9, 35). É o ponto em que ele mais insistiu e em que mais deu o próprio
testemunho: “Não vim para ser servido, mas para servir” (Mc 10,45; Mt 20,28; Jo
13,1-16).
+
o “fermento” da mentalidade da cultura da época que marginalizava os
pequenos, as crianças. Jesus responde:”Deixem vir a mim as crianças!” (Mc
10,14). Ele coloca criança como professora de adulto: “Quem não receber o Reino
como uma criança, não pode entrar nele” (Lc 18,17).
Como no tempo de Jesus, também hoje, a mentalidade
neoliberal renasce e reaparece na vida das comunidades e das famílias. A
leitura orante do Evangelho, feita em comunidade, pode ajudar-nos a mudar de
vida e de visão e a continuar na conversão e na fidelidade ao projeto de Jesus.
4) Para um confronto pessoal
1. Mal-entendidos podem ocorrer
sempre, com amigos e com inimigos. Qual o mal-entendido entre Jesus e os
discípulos por ocasião da multiplicação dos pães? Como Jesus enfrenta todos
estes mal-entendidos? Você já teve algum mal-entendido em casa, com os vizinhos
ou na comunidade? Como foi que você reagiu? A sua comunidade já enfrentou algum mal-entendido ou
conflito com as autoridades do município ou da igreja? Como foi?
2. Qual o
fermento que hoje impede a realização do evangelho e que deve ser eliminado?
5) Oração final
Senhor, fostes nosso
refúgio de geração em geração. Antes que se formassem as montanhas, a terra e o
universo, desde toda a eternidade vós sois Deus. (Sl 89, 1-2)
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