Dom Orani, Cardeal Tempesta
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do
Rio de Janeiro, RJ
Na
mensagem para o Dia Mundial da Paz deste ano, o Papa Francisco anunciou o
princípio da missão de um novo dicastério: “No dia 1º de janeiro de 2017, nasce
o novo Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral, que
ajudará a Igreja a promover, de modo cada vez mais eficaz, «os bens
incomensuráveis da justiça, da paz e da salvaguarda da criação» e da solicitude
pelos migrantes, «os necessitados, os doentes e os excluídos, os marginalizados
e as vítimas dos conflitos armados e das catástrofes naturais, os reclusos, os
desempregados e as vítimas de toda e qualquer forma de escravidão e de
tortura». Toda a ação nesta linha, ainda que modesta, contribui para construir
um mundo livre da violência, o primeiro passo para a justiça e a paz”. A
preocupação com a situação de exclusão e pobreza tem sido constante do Papa
Francisco.
Temos
que fomentar essas virtudes que, juntamente com a salvação, nos ajudam a servir
bem a Deus e ao próximo. A grande virtude é o amor e a caridade. A caridade
leva-nos a compreender, a desculpar, a conviver com todos, de maneira que
aqueles que pensam ou atuam de um modo diferente do nosso em matéria social,
política ou mesmo religiosa, devem ser objeto também do nosso respeito e do
nosso apreço. Esta caridade e esta benignidade não se devem converter, de forma
alguma, em indiferença no tocante à verdade e ao bem; mais ainda, a verdade que
salva. Mas é necessário distinguir entre o erro, que sempre deve ser evitado, e
o homem que erra, pois este conserva a dignidade da pessoa mesmo quando está
dominado por ideias falsas, insuficientes em matéria religiosa.
A
caridade incita-nos à oração, à exemplaridade, ao apostolado, à correção
fraterna, confiando em que todo o homem é capaz de retificar os seus erros. Se
vez por outra as ofensas, as injúrias, as calunias forem particularmente
dolorosas, pediremos ajuda a Nossa Senhora, que contemplamos frequentemente ao
pé da Cruz, sentindo muito de perto todas as infâmias contra o seu Filho;
grande parte daquelas injúrias, não o esqueçamos, saíram dos nossos lábios e
das nossas ações. Os agravos que nos fazem hão de doer-nos, sobretudo pela
ofensa a Deus que representam e pelo mal que podem ocasionar a outras pessoas,
e hão de mover-nos a desagravar a Deus e a oferecer-lhe toda a reparação que
pudermos.
O
coração do Cristão tem de ser grande. A sua caridade, evidentemente, deve ser
ordenada e, portanto, deve começar pelos mais próximos, pelas pessoas que, por
vontade divina, estão à sua volta. No entanto, o seu afeto nunca pode ser
excludente ou limitar-se a âmbitos reduzidos. O Senhor não quer um apostolado
de horizontes estreitos. A atitude do Cristão, a sua convivência com todos,
deve ser como uma generosa torrente de carinho sobrenatural e de cordialidade
humana, que banha tudo à sua passagem.
As cartas
do Apostólo João insistem no mesmo aspecto catequético, e, com clareza
apostólica, afirmam que aquele que diz amar a Deus e não amar a seus irmãos é
um mentiroso. E continuam: que é muito fácil proclamar que amamos a Deus, a
quem não vemos, mas se desprezamos os irmãos que estão a nosso lado, onde está
a caridade, onde está o amor? (1Jo.4,20).
São
Paulo, na sua Carta aos Coríntios (Coríntios 13), proclama e exalta a caridade.
Quase sabemos de cor o texto maravilhoso. Somos levados a interpretar esse hino
como o amor ao Pai Celeste. Mas, o apostólo fala da excelência do amor entre os
irmãos. Ainda que eu falasse todas as línguas dos anjos, ou tivesse toda a
ciência, sem a caridade seria um bronze que soa e cujo som se perde nas
quebradas dos montes. Logo a seguir nos ensina em que consiste a caridade: na
paciência, na humildade, no fazer o bem, na longanimidade, na partilha da dor e
da alegria com os irmãos, no perdão tão difícil. E conclui pela perenidade do
amor e da caridade. Tudo cessa quando vier a perfeição, exceto a caridade, pela
qual seremos medidos.
Documentos
não faltam para colocar em pauta que a consequência do amor a Deus e ao próximo
é a caridade, que se concretiza em ações de quem ama o seu próximo. Na festa de
São Sebastião sempre temos a ação social, com o recolhimento de alimentos para
os necessitados. Em geral, o fazemos na procissão, porém, dependendo da
ocasião, durante toda a Trezena.
A
própria Trezena marca esse gesto com algumas visitas específicas a locais que
estão ligados à caridade social: teremos, ao longo destes treze dias em que
festejamos o nosso padroeiro, várias visitas em basílicas, paróquias e capelas,
mas teremos as visitas que marcam a questão social e caritativa. São elas: casa
Betânia - Asilo Orionita, hospital Federal de Bonsucesso, Puericultura e
Pediatria Martagão Gesteira, Hospital Universitário Clementino Fraga Filho,
Hospital HFAG, Casa Gerontológica da Aeronáutica, Centro de sócioeducação Dom
Bosco – DEGASE, Centro de sócioeducação Prof. Antônio Carlos Gomes da Costa –
DEGASE, Escola João Luís Alves, Hospital da Gamboa, Santa Casa de Misericórdia,
Hospital Naval Nossa Senhora da Glória, Associação Beneficente São Martinho,
Inca (Instituto Nacional do Câncer), Hospital Central do Exército, Instituto
Nacional de Traumatologia e Ortopedia (INTO), Casa de Idosos Socorrinho,
Hospital Mario Kroeff, Casa Geriátrica, Hospital São Vicente, Hospital da
PMERJ, Educandário Santo Expedito, DEGASE, Presídio Talavera Bruce (feminino),
Complexo Penitenciário de Gericinó, Comunidade das Irmãs de Calcutá, Hospital
Marcílio Dias, Secretaria de Segurança Pública e Missa na Casa do Padre.
Portanto,
queremos que estes dias da Trezena sejam marcados pela celebração e sejam assim
ressaltadas três atitudes: o amor, a misericórdia e a caridade. É claro que, ao
exercitarmos estas três atitudes, aumenta em nós o dom da fé. Que São Sebastião
nos ilumine nesta caminhada da Trezena e nos ajude a plantar o amor, a viver a
misericórdia e a testemunhar vivamente a caridade.
Ao
iniciar a Trezena, lançaremos a Campanha de Solidariedade Especial, na qual
pedimos o incremento das ofertas para a caridade social às paróquias para fazer
frente às novas situações de necessidades que grassam em nossa cidade, como a
questão do desemprego, a falta de pagamento dos salários, além das situações de
miséria já existentes. “Somos solidários como São Sebastião”, que não hesitou
de visitar os cárceres para ajudar os cristãos perseguidos. Agora é necessário
esse socorro especial para minimizar a crise pela qual passam as pessoas. A
Caritas da Arquidiocese coordenará esse trabalho. Cada Paróquia arrecada e
distribui as cestas básicas para as pessoas que as necessitam em seu âmbito
paroquial. O dinheiro depositado na conta da Caritas e a arrecadação da
procissão de São Sebastião irão para algumas entidades que distribuem alimentos
para os que o necessitam hoje.
Dessa
forma, a nossa resposta capilarizada através das paróquias ajudará a tantas
pessoas que passam por angústias diante da situação pessoal ou familiar. É uma
tradição de a Igreja ir ao encontro das pessoas para socorrê-las. E isso sem
distinção de religião ou situação familiar.
Dessa
forma, a missão popular na festa de nosso padroeiro – “São Sebastião, padroeiro
das famílias cariocas” – vai desabrochar e aumentar a dimensão com a
solidariedade dos cristãos com as pessoas que sofrem, pois “somos solidários
como São Sebastião”.
São
Sebastião, rogai por nós! Fonte: http://www.cnbb.org.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário