*Padre Lorenzo van den Eerenbeemt, O. Carm.
Pelos fins de setembro, na graciosa
cidadezinha de S. Marinella (Roma), nota-se um curioso movimento. Todos
accorreram para assistir a uma comovente cerimônia na igreja das Vitórias, que
a princesa Ginetti, duquesa de Valmy, mandara construir em 1919 como recordação
da vitória das nossas armas. No novo Instituto das Missionárias Carmelitas,
posto sob a proteção de S. Teresa do Menino Jesus, - obra nascida por
iniciativa da Rev. da Madre Crucifixa Cúrcio, coadjuvada pelo subscrito –
receberam o hábito religioso, depois de três meses de postulantado, as
senhoritas Francisca Boi (Irmã Maria Assunta), Maria Musio (Irmã Maria
Anunziata), Josefina Scodini (Irmã Maria Teresa do Menino Jesus) e Júlia Aironi
(Irmã Maria Carmela).
Celebrou a Missa o Padre Lourenço o
qual, depois do Evangelho, apresentou em breves palavras a finalidade do
Instituto que é o de preparar almas que desejam consagrar-se à obra das Missões
e dedicar-se à educação dos filhos do povo.
Depois da Missa houve a comovente cerimônia da vestição religiosa, na presença
dos Superiores da Ordem e do povo que enchia a igreja. Estavam presentes também
uma ampla representação das Reverendas Irmãs do Calvário e as Irmãs da Caridade
com suas jovenzinhas, as quais tornaram a cerimônia mais solene com belos
cantos religiosos.
***
Damos aqui alguns traços acerca
da origem do novo Instituto.
Na cidade de Spaccaforno, na província de
siracusa, há dezesseis anos atrás, algumas jovenzinhas, movidas por sentimentos
de profunda fé religiosa e pelo desejo de consagrar-se à conversão das almas,
uniram-se com o santo propósito de dedicar-se ao apostolado missionário. Mas
nas amenas vilas da Sicília, onde o povo é eminentemente religioso, não era
fácil encontrar algum pagão a ser convertido; por isso, as piedosas jovenzinhas
concentram toda a sua atividade em
educar os filhos do povo, que por elas eram instruídos na religião.
A alma de todo este movimento era a
piedosíssima jovem Rosa Cúrcio, hoje Irmã Maria Crucifixa, superiora do novo
Instituto S. Teresa do Menino Jesus.
Consagrada a Deus desde a idade de doze anos na Ordem Terceira
Carmelita, seu grande ideal foi sempre o Carmelo e por este sofreu humilhações
e sacrifícios de toda sorte. Nem as adversidades serviram para desviá-la do seu
firme propósito, tendo grande confiança Naquele que lhe inspirou tão ardente
amor pela Ordem de Maria.
Em 1909 a Cúrcio reuniu na casa paterna as mais
entusiastas e fiéis companheiras que espontaneamente já haviam se colocado sob
sua guia. Alí, se reuniu pela primeira vez a nascente comunidade carmelitana.
Mas o demônio não dormia: raivoso com tanto fervor, desencadeou na calma
Spaccaforno uma violenta borrasca contra as piedosas jovenzinhas, algumas das quais
foram a toda força arrancadas da paz religiosa e literalmente arrastadas pelas
ruas até suas casas. Em defesa delas, porém, velava o anjo da diocese de Noto,
o Venerável Bispo Dom Blandini.
Um homem de grande fé apostólica e profundo
conhecimento das almas ele, extraordinariamente, assumiu de coração a pequena
comunidade e orientou-a com suas palavras e com seus escritos. Conservam-se
ainda muitas cartas do piedoso e douto
prelado, dirigidas à M. Cúrcio. No mesmo ano 1909, Dom Blandino propôs às coirmãs
Terceiras, como protetora uma jovem Irmã
Carmelita, morta poucos anos antes em odor de Santidade, Irmã Teresa do Menino
Jesus, a qual deveria atrair a si, em breve tempo, todo mundo. “Vocês trinfarão
junto com ela”; assim predisse em tom profético o ilustre Bispo: e agora, que
depois de quinze anos de lutas sua profecia se realiza, nós agradecemos ao
Senhor e bendizemos a venerada memória de Bom Blandini, cujas palavras foram,
para as bondosas Terceiras, como uma tocha ardente de iluminada confiança na
Divina Providência.
A vestição da Madre Cúrcio como Terceira
Carmelita, foi feita em Catânia, pelos Padres Pappalardo e Faro. Este último
deu-lhe o nome de Irmã Maria Crucifixa, quase como um presságio das amarguras
que ela deveria suportar. De fato, quando em 1911 Dom Blandini, de acordo com o
prefeito de Módica, Jorfe Frasca Papanno, confiou às nossas Terceiras o
orfanato de Módica, fundado pela piedosa tia da cúrcio, Carmela Polara, uma
gravíssima pneumonia no espaço de poucos dias raptou dos vivos o santo Bispo.
Os achaques da velhice despedaçaram a forte fibra do Venerado Pastor, quase
octagenário, o qual, não podendo cumprir sua obra, deixou que a Providência
completasse o plano que ele em grandes linhas havia traçado.
Seja-nos lícito expressar aqui o vivo desejo de
ver uma tão nobre figura de Bispo evocado por algum bom escritor que queira
transmitir à posteridade sua vida ilibada, sua douta e eloquente palavra que
atraia as multidões, seu trato gentil que aproximava de si os humildes e os
grandes, os amigos e até mesmo os inimigos da Igreja.
Os quinze anos que se seguirai à morte de D.
Blandini foram anos de grandes sofrimentos e de amarguras para as piedosas
Terceiras Carmelitas. Nem podemos aqui falar das tristes peripécias e dos danos
sofridos. Só constatamos agora com verdadeira alegria que se realizaram as
palavras do anjo da diocese de Noto: Vocês triunfarão junto com S. Teresa do
Menino Jesus!”. E, no mesmo ano em que a Igreja decretou o completo triunfo da
Pequena Flor do Carmelo, despontou uma aurora de paz para as nossas Coirmãs.
Assim o novo Instituto das Terceiras Missionárias, com a fundação da nova casa
em Santa Marienella, começou a florescer
e o pequeno grupo de Irmãs já constitue a vanguarda de um grande
exército que - assim esperamos – avançar-se-á pelo mundo à conquista das
almas.
A população de S. Marinella acolheu com entusiasmo a vinda das Missionárias Carmelitas, que nestes primeiros meses de permanência
puderam um atelier e uma pré-escola; e pessoas da mais alta classe social
mostraram a mais viva simpatia pelo novo Instituto.
Mas o maior
interesse foi demonstrado pela gentil senhora Maria Angelelli Galassi e pela
nobre família Astuto, aos quais dirigimos os mais vivos agradecimentos.
Que a querida Santa Teresa do Menino Jesus proteja o novo Instituto, a
fim de que as Terceiras da Rainha do Carmelo se tornem dignas do seu apostolado
em favor da religião e da civilidade.
*Artigo publicado em: Il Monte Carmelo, outubro
de 1925 – pp. 311-314.
Nenhum comentário:
Postar um comentário