O
governo Dilma Rousseff está ciente das movimentações de grupos de jovens e
evangélicos para a organização de manifestações durante a Jornada Mundial da
Juventude e quer evitar que ocorra um novo desgaste político entre o Executivo
e a Igreja, num momento em que era esperada uma reaproximação entre o governo
Dilma e o Vaticano.
A
Jornada Mundial da Juventude, evento organizado pela Igreja Católica que pode
mobilizar cerca de 3 milhões de jovens e peregrinos, está agendada para os dias
23 a 28 de julho, no Rio de Janeiro.
Representantes
do Palácio do Planalto já alertaram aos seus interlocutores que o evento poderá
acontecer em meio a manifestações, mas que não aceitará a ocorrência de
episódios violentos. O governo federal está em contato permanente com o governo
fluminense e a Prefeitura do Rio de Janeiro. A segurança do evento contará com
o apoio das Forças Armadas e demais tropas federais. A reportagem é de Fernando
Exman e publicada pelo jornal Valor, 04-07-2013.
Autoridades
do governo e do PT acreditam que a Igreja sob o papado de Bento XVI teve um
comportamento inadequado na eleição de 2010, quando às vésperas do segundo
turno de um pleito repleto de debates de ordem moral o papa criticou projetos
políticos favoráveis à legalização do aborto e pediu que os líderes religiosos
orientassem os eleitores. Com a eleição de um novo papa que colocou no centro
de sua agenda a área social e o combate à fome e à pobreza, temas caros à
administração federal, a expectativa de auxiliares da presidente Dilma Rousseff
é de que esse mal-estar passe de vez.
Além
de manifestações semelhantes às que ocorreram nas últimas semanas em que
setores da sociedade aproveitaram a Copa das Confederações para pedir melhores
serviços, há a possibilidade de grupos evangélicos protestarem contra os gastos
públicos na organização da visita do papa. Em resposta, integrantes da Igreja
argumentam que não se pode esquecer que o papa Francisco é um chefe de Estado e
o evento demanda um esquema especial de segurança e logística. Segundo informações
publicadas recentemente pela imprensa, o papa citará a onda de protestos em seu
discurso no Rio por considerar que as reivindicações por maior justiça não
contradizem o Evangelho.
A
missa de abertura da Jornada Mundial da Juventude acontecerá no dia 23, na
Praia de Copacabana. Ela será celebrada pelo arcebispo do Rio de Janeiro, dom
Orani João Tempesta. O papa Francisco participará de cerimônias nos dias
seguintes na Praia de Copacabana e em Guaratiba.
O
papa Francisco também pretende visitar uma comunidade carente na Zona Norte da
cidade e um hospital e centro de recuperação de dependência química. Ele deve
receber jovens detentos e ir ao Santuário Nacional de Nossa Senhora da
Conceição Aparecida, no interior paulista.
Por
ora, está previsto que a presidente receba o papa no aeroporto e tenha em
seguida uma reunião bilateral com o pontífice. A presidente também deve
acompanhá-lo na visita ao centro de saúde, que recebe recursos do governo
federal. Ainda não está fechada a participação de Dilma em algum ato religioso
ou na despedida do papa Francisco.
O
chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, ministro Gilberto
Carvalho, é um dos principais interlocutores do governo com a Igreja e outras
lideranças religiosas e movimentos sociais. Além da ponte feita pela
Secretaria-Geral da Presidência, a organização da Jornada Mundial da Juventude
conta no governo com o apoio de uma comissão especial composta por
representantes da Casa Civil, Gabinete de Segurança Institucional da
Presidência, Secretaria de Aviação Civil e dos ministérios das Relações
Exteriores, Justiça, Defesa, Fazenda, Comunicações e Turismo.
A
última Jornada Mundial da Juventude foi promovida em 2011 em Madri, na Espanha,
e contou com aproximadamente 2 milhões de participantes. A anterior reuniu
menos fiéis, em 2008, na Austrália. A jornada foi criada pelo papa João Paulo
II em 1985 e ocorre anualmente em âmbito diocesano. A cada dois ou três anos,
porém, são realizados grandes eventos internacionais.
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