Por
Frei Pedro Caxito, 0. Carm (In Memoriam).
Um Carmelita Terceiro
é um religioso que, ouvindo a voz de Deus, como São Paulo, no caminho de
Damasco, procura amar e servir a Deus, de acordo com os mandamentos de sua lei,
que são: - Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo, por
amor desse mesmo Deus, não fazendo aos outros o que não quer que lhe façam.
Um Carmelita
Terceiro, pois, é um filho de Nossa Senhora do Carmo, cujo hábito tem a ventura
de vestir, deve ter uma vida irrepreensível, não só em relação à Ordem do Carmo, como também à sociedade que
ele deve edificar seguindo os passos do Profeta Elias, nosso Pai Espiritual e
dos santos e santas Carmelitas.
Ora, um
Carmelita Terceiro que traz para o seio da sua Ordem as irregularidades do
mundo versátil não só se torna um elemento de escândalo para a mesma Ordem
Terceira, como ainda escandaliza a própria sociedade que o olha com mais
atenção para lhe apontar as faltas. É um hábito, aliás, justo, do povo taxar de
hipócritas os religiosos que pregam a moral e dela vivem divorciados.
Não cumprindo os
votos que fez na investidura do seu hábito, o mal Carmelita Terceiro,
necessariamente, comete um ato de injustiça para com a sua Ordem, que dele
espera o exato cumprimento dos seus deveres, que não é mais do que um ato de
justiça para com Deus, sob cuja lei ele prometeu viver livrimente, e para com a
sociedade que ele tem o dever de edificar com a sua vida exemplar. Essa justiça
é de tal modo inalienável, que violá-la importa nada menos do que perder o
próprio homem a sua dignidade pessoal, a honestidade e todos os atributos que
devem constituir a integridade do seu bom caráter.
A justiça é uma
grande e nobre virtude e um dos mais belos ornatos da alma! Por ventura não é
um ato de justiça amar a Deus que nos criou para sua honra e glória, como ele
exige que o amemos? Ele nos deu a vida, nos dá a paz e nos promete a felicidade
que o mundo não pode dar. Não é isso verdade?
Abramos a história e lancemos os olhos
para a vida dos Santos. Eles, os santos carmelitas, nasceram como nós; viveram
no mundo como nós, e muitos tivemos em sua mocidade as nossas imperfeições. Um
dia, porém, ouviram eles a voz de Deus, como nós Terceiros já ouviu, e, fazendo
um ato de justiça, passaram a viver para Deus, dando ao mundo, somente o que a
sociedade precisa que o homem de bem lhe dê. Viver no mundo, aceitando tudo o
que mundo tem de mal e leviano, é, indubitavelmente, a cega condição do homem
que não segue o Evangelho e nós, da Ordem do Carmo, a sua regra e
espiritualidade carmelitana. Viver, porém, no mundo, seguindo a lei de Deus e a
nossa espiritualidade é a mais bela e mais heroica virtude de todos nós,
carmelitas, de cuja lealdade Nossa Senhora do Carmo espera o cumprimento desse
dever para que a sua justiça se faça completa, na promessa do Santo
Escapulário.
Um mal Terceiro
Carmelita, isto é, o que não cumpre os seus deveres para com a sua Ordem, na
exata observância da sua regra, se tiver um momento de verdadeira meditação, um
lampejo de justiça, ha de reconhecer que o Santo Escapulário, em vez de ser a
sua salvação, será unicamente a sua condenação, porque em vida não soube
honrá-lo. A má ovelha põe o rebanho a perder.
O mal Terceiro Carmelita
também é um elemento perigoso a Ordem, porque, ou ele falta às missas, reuniões
e a vivência espiritual na família e na sociedade a que é obrigado por um voto
formal, de acordo com a Regra, e isso leva outros a fazerem o mesmo; ou ele não
sendo obediente humilde e casto, de acordo com o seu estado, produz o
escândalo, introduzindo na Ordem o espírito de rebeldia.
No tempo, em
relação à eternidade, breves e alternados de alegria e acerbas dores são os dia
do homem, nos quais procura ele sempre o desígnio de realizar uma ideia: a ideia
da felicidade. Esta felicidade o que é? A saúde? A fortuna? Os prazeres? De certo que
não. Essas coisas são de tal modo instáveis que, se aproximando o temo da vida,
tudo desaparece menos dores psíquicas que nos consomem, e as dores morais que
nos acompanham se não fizermos boas escolhas dos nossos atos, praticando o bem
e combatendo o mal, como um ato de justiça para com Deus, que nos deu a paz,
única riqueza que acompanha o homem do berço ao túmulo. Essa paz, o mal
Carmelita Terceiro não tem, porque ele não ama como deve a sua Ordem e porque
desconhece a sua Regra cujo cumprimento o faria bom e feliz.
O mal Terceiro Carmelita
serve mais ao mundo do que a Deus. Haverá serviço mais duro do que o mundo, com
suas inquietações, temores, ciúmes, ódios, vinganças, perturbações, espantos,
lágrimas, penas, orgulho abatido, vaidade não satisfeita, amor próprio
ofendido, enfim, todo o desencadear das paixões que lhes são próprias? No
entanto o serviço de Deus é suave e doce.
O Terceiro que
não cumpre o seu dever, que não conhece e não obedece à Regra da sua Ordem, em
um instante de recolhimento, diante da imagem de Nossa Senhora do Carmo, ha de
sentir uma grande amargura, considerando a sua ingratidão, a sua falta de amor
à Ordem que o acolheu, como o pai que recebe o filho pródigo.
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