A leitura
que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho segundo João 11-1-45 que
corresponde ao Quinto Domingo de Quaresma, ciclo A do Ano Litúrgico. O teólogo
espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.
Eis o texto
Jesus
nunca escondeu seu carinho pelos três irmãos que vivem em Betânia. Seguramente
são os que o acolhem na sua casa sempre que sobe a Jerusalém. Um dia, Jesus
recebe um recado: «O nosso irmão Lázaro, o teu amigo, está doente».
Ao fim de pouco tempo Jesus encaminha-se para a pequena aldeia.
Quando se
apresenta, Lázaro já morreu. Ao vê-lo chegar, Maria, a irmã mais
jovem, põe-se a chorar. Ninguém a pode consolar. Ao ver chorar a sua amiga e
também os judeus que a acompanham, Jesus não pode conter-se. Também Ele
«se põe a chorar» junto deles. As pessoas comentam: “Como o queria!”.
Jesus não
chora só pela morte de um amigo muito querido. Quebra-se sua alma ao
sentir a impotência de todos ante a morte. Todos levamos no mais íntimo do
nosso ser um desejo insaciável de viver. Por que temos de morrer? Por que a
vida não é mais feliz, mais longa, mais segura, mais vida?
O homem
de hoje, como em todas as épocas, leva cravada no seu coração a pergunta mais
inquietante e mais difícil de responder: que vai ser de todos e cada um de nós?
É inútil tratar de nos enganarmos. Que podemos fazer ante a morte?
Revoltar-nos? Deprimir-nos?
Sem
dúvida, a reação mais comum é esquecer e «seguir em frente». Mas, não está
o ser humano chamado a viver a sua vida e a viver-se a si mesmo com lucidez e
responsabilidade? Só próximo do nosso fim, havemos de nos acercar de forma
inconsciente e irresponsável, sem tomar qualquer posição?
Ante o
mistério último da morte, não é possível apelar a dogmas científicos nem
religiosos. Não nos podemos guiar mais para além desta vida. Mais honrada
parece a postura do escultor Eduardo Chillida, o qual, em certa ocasião,
escutei-o dizer: «Da morte, a razão me diz que é definitiva. Da razão, a razão
me diz que é limitada».
O cristão
não sabe da outra vida mais que os outros. Também nós devemos
aproximar-nos com humildade ao acontecimento obscuro da nossa morte. Mas
fazemos com uma confiança radical na bondade do Mistério de Deus que
vislumbramos em Jesus. Esse Jesus a quem, sem o termos visto, amamos e a quem,
sem o ver ainda, damos a nossa confiança.
Esta
confiança não pode ser entendida a partir de fora. Só pode ser vivida por quem
respondeu, com fé simples, às palavras de Jesus: «Eu sou a ressurreição e a
vida. Acreditas nisto?». Recentemente, Hans Küng, o teólogo católico
mais crítico do século XX, próximo já do seu fim, disse que, para ele, morrer é
«descansar no mistério da misericórdia de Deus». Assim eu quero morrer. Fonte: www.ihu.unisinos.br
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