Na primeira missa de domingo depois do
tiroteio que terminou com dois mortos na porta da Catedral da Sé, o arcebispo
de São Paulo, d. Odilo Scherer, pediu para que os católicos não tenham medo de
entrar na igreja.
Em entrevista, ele também afirmou que
não acredita que a balconista feita refém, Elenilza Mariana de Oliveira
Martins, fosse uma fiel e que estivesse rezando na igreja quando foi abordada.
Para d. Odilo, ela e o criminoso, Luiz Antonio da Silva, 49, talvez já se
conhecessem (leia abaixo).
Dizendo que há violência por toda a
parte, afirmou que tanto a catedral como a praça da Sé são locais de paz e
disse que visitantes continuam sendo bem-vindos.
Para d. Odilo, "na consciência
pública" o tiroteio pode dar à igreja uma imagem de lugar violento, mas
que na região não há mais incidentes do que no resto da cidade.
O líder religioso só falou sobre o
incidente no fim da missa. Ele expressou "veemente repulsa e consternação
diante de fatos tão graves", não só esse que aconteceu na porta da igreja,
mas atos violentos de maneira geral, e pediu para que os fiéis "não se
acostumem" com cenas como as de sexta (4).
No começo da tarde, Luiz Antonio fez a
balconista refém dentro da catedral e a levou à escadaria na frente da igreja.
Pessoas que estavam na praça começaram a
acompanhar a ação. Uma delas, o pedreiro Francisco Erasmo Rodrigues de Lima,
61, se aproximou dos dois, em seguida se jogou em cima de Luiz Antonio e livrou
a refém.
O criminoso conseguiu se desvencilhar e
atirou em Francisco Erasmo. Logo em seguida, a polícia abriu fogo contra Luiz
Antonio. Os dois morreram.
*
Folha
- Por que era importante fazer referência ao acontecimento no fim da celebração
da missa?
D.
Odilo Scherer -
Porque aconteceu na frente da catedral. Na consciência pública se cria certo
medo em relação a vir à catedral, uma imagem de que seria um lugar inseguro. E
eu gostaria de afirmar a todos que não é um lugar inseguro. O que aconteceu
poderia ter acontecido em qualquer lugar.
Há
algo específico que chamou a sua atenção no incidente?
Eu gostaria de dizer que embora a mulher
que estava sendo vítima de violência tenha dito que não conhecia esse homem,
seria importante que as investigações fossem adiante para verificar que tipo de
relação havia. Eu não compartilho com a ideia de que era uma fiel que estava
dentro da catedral rezando e foi abordada por alguém desconhecido com quem ela
não tinha nenhum contato. Seria necessário aprofundar essa questão.
O
relato é que ela estava na catedral e foi tirada pelo homem.
De fato, os dois se encontravam na
catedral, mas é preciso ver se os dois entraram juntos. Se antes dos fatos de
violência os dois já não estavam em conversação juntos, se não havia relação
anterior entre as duas pessoas e que acabaram desencadeando a violência desse
homem que foi morto pelos policiais. Acho que aqui há algo a ser aprofundado.
Eu sei pela imprensa que o vigia viu que havia algo não normal, o que depois se
viu fora da catedral.
O
senhor viu as imagens. Seria possível evitar as mortes?
Concluo que a ação da polícia,
inicialmente, visava evitar o desfecho mais grave, que seria a morte de alguém.
Mas o fato de alguém fora do esquema ter entrado, como uma ação pessoal para
tentar resolver a questão mudou todo o esquema. De fato, o homem que estava
agredindo a mulher estava armado, ameaçando não só a ela, mas outras pessoas. O
que pude ver e perceber é que a polícia estava tentando desarmá-lo, pedindo que
ele soltasse a arma. Porém, no momento que entrou alguém imprevisto na cena e
precipitou a situação [deixando-a] fora de qualquer previsibilidade.
Infelizmente a polícia interveio para atirar no homem que fazia violência
porque ele continuava com a arma na mão e podia continuar a atirar em outras
pessoas. Lamentavelmente foram duas outras mortes que se somam às chacinas,
mortes não explicadas e não explicáveis. Acho que existe a necessidade de
pensar um pouco não só a questão da segurança, mas a das relações sociais e dos
valores. Penso que existe um alto nível de tensão e agressividade que poderia
ser melhor trabalhado para que cenas como essa fossem evitadas.
Era
uma questão de tempo para algo assim acontecer na praça?
A violência acontece em todos os cantos
da cidade. Não é uma questão que estaria concentrada aqui na Sé, embora aqui
haja situações que podem favorecer a violência. Mas também há bastante
vigilância, tanto na praça como dentro da igreja. Até hoje, os fatos de violência
não são tantos. Aqui não está fora da norma em relação a outros ambientes da
cidade. Eu estou com muita frequência na praça, passo por ela e nunca me senti
ameaçado. Claro que é preciso estar atento, porque a insegurança está em todas
as partes. Fonte: http://www1.folha.uol.com.br
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