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quinta-feira, 10 de setembro de 2015

A foto do menino Aylan e o poder das imagens.

Registro da criança síria morta numa praia turca provocou reações intensas e influenciou o debate político. Mas por que algumas fotografias nos tocam mais que outras e acabam entrando para história?
O tabloide Bild, jornal de maior circulação na Alemanha, dispensou o uso de imagens em uma edição pela primeira vez em sua história. "Dessa forma, queremos mostrar como as fotos são importantes no jornalismo", afirmou a redação do diário. A reportagem foi publicada por Deutsche Welle, 10-09-2015.
Mas nem todas as fotos são iguais: há imagens que ficam guardadas na memória. E há outras, por mais fortes que sejam, que não tocam tanto o espectador e desaparecem rapidamente de sua mente. Mas o que transforma uma foto num ícone? Como a fotografia consegue captar não apenas um momento, mas é capaz de eternizar o zeitgeist ou contextos complexos numa única imagem?
As imagens de Aylan Kurdi, o menino sírio de três anos de idade que morreu afogado no Mediterrâneo e foi encontrado na costa turca, provocaram reações e emoções intensas nas mídias sociais. O debate político em torno da política de refugiados da Europa mudou após a publicação da fotografia.
O historiador da arte e curador Felix Hoffmann acredita na força das imagens. Para ele, fotos podem influenciar e mudar o pensamento e a ação. Mas somente se elas perdurarem por determinado tempo e se fixarem nas mentes das pessoas. Na galeria de arte c/o Berlim, ele pesquisou as fotos apocalípticas do 11 de Setembro e se ocupou da questão de por que algumas dessas imagens permanecem em nossa memória.
Segundo Hoffmann, a fotografia possui a capacidade de personificar catástrofes, de lhes dar um rosto. Sem tais imagens, muitas pessoas não poderiam compreender a dimensão da guerra e de catástrofes. "As fotos de Aylan Kurdi são um bom exemplo da força das imagens", explica. "A Europa se encontra agora num momento de extrema gravidade. Agora resta a pergunta de quanto tempo essa foto permanecerá na mídia."
Hoffmann, que também é pai, afirmou ter ficado "emocionalmente chocado" com a imagem do menino de três anos, encontrado morto na praia de Bodrum. Segundo o historiador, a onda de refugiados, que se vê diariamente na mídia, ganha assim um história pessoal. Além disso, muitas pessoas acabaram se identificando com a imagem e disseram: "Poderia ser meu filho."

Mais forte que a TV
Historiadores como ele, diz Hoffmann, foram treinados para investigar os mecanismos de ação das imagens. O especialista explica que o fotojornalista francês Henri Cartier-Bresson já chamava a sua profissão de "negócio com o momento decisivo".
"Fotografar significa levar cabeça, olho e coração para a mesma linha de visão", afirma o jornalista e cofundador da agência de fotografia Magnum.
Cartien-Bresson também trabalhou em zonas de guerra e fez história com suas fotos. Mas através da cobertura ao vivo, a relação entre o espectador e o jornalista mudou, diz Hoffmann. Ele recorda os Jogos Olímpicos de Munique em 1972, que foram ofuscados pelo assassinato de atletas israelenses tomados como reféns.
"Pela primeira vez na história, os espectadores puderam assistir ao vivo a um atentado na TV", lembra. O terrorismo adentrou, por assim dizer, as salas de estar da população, explica o historiador.
Mas, apesar da cobertura ao vivo ininterrupta e do burburinho permanente nas redes sociais, a foto continua o meio de comunicação mais intenso para captar uma tragédia, afirma Hoffmann. Diante da enxurrada de informações, também depende da qualidade da imagem, ressalta.

Empatia pelo fotografado
Ninguém pendurou em suas paredes de sua sala de estar imagens de catástrofes ou tragédias humanas, como o assassinato de John F. Kennedy, em 1963, ou a menina de nove anos Kim Phùc, no Vietnã, fotografada nua com queimaduras graves na pele, enquanto fugia do ataque de bombas napalm em 1972. Mesmo assim, tais imagens se tornaram ícones.
Elas formam a decoração da narrativa de nossa era, explica o historiador, acrescentando que ninguém pode se lembrar com exatidão de quando viram tais imagens, mas elas se tornaram parte de uma memória visual coletiva – ao menos no Ocidente.
"Isso está bastante ligado à forma como lidamos com histórias e fotos. Você pode observar por toda parte o poder que as imagens podem ter", continua Hoffmann.

Segundo ele, algumas vezes, sentimos empatia somente quando entramos numa espécie de relação amorosa ambivalente com uma fotografia, mesmo no caso da morte de alguém. Na avalanche de imagens de sofrimento, dor ou paixão, tornam-se ícones somente aquelas que provocam em nós um sentimento de dó, também por estarem mostrando a realidade dos acontecimentos. Fonte: http://www.ihu.unisinos.br

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