Frei Emanuele Boaga, O.Carm. - Augusta de Castro
Cotta, CDP
A história no seu contexto
A
história do chamado de Eliseu se liga bem com a precedente a ela. Nesta vemos
Elias seguir uma das ordens de Deus (19,16b) e assim agir para desenvolver o processo
que levaria a vitória sobre o baalismo como Deus prometera (19,17). Será Eliseu
que realizará as outras duas ordens: instigou a Hazael para que usurpasse o
trono de Damasco (2 Reis 8,7-15) e a Jeu, o trono de Israel (2 Reis 9,1-13).
Foi durante uma guerra de Hazael contra Jorão, rei de Israel, que Jeu mata
Jorão e se proclama rei no seu lugar (2 Reis 9,14-26). Jeu mata também Jesabel
(2 Reis 9,30-37) e os outros membros da família de Acab (2 Reis 10,1-11).
Enfim, reúne os fiéis de Baal no seu templo, mata-os, destrói o templo (2 Reis
18-27). Assim Jeu exterminou Baal de Israel (2 Reis 10,28) e realiza-se a
promessa que Deus fizera a Elias (1 Reis 19,17).
Interpretação
A ordem
de Deus era a de ungir Eliseu como profeta. Mas os profetas não eram ungidos. O
uso deste termo impróprio no v.19,16 pode-se explicar com o paralelismo, uma
vez que ao nome de Eliseu segue-se o de Hazael e de Jeu, que como reis recebiam
a unção.
Na nossa
história o elemento principal para a eleição de Eliseu não é a unção, mas o
manto de Elias. Talvez que um certo tipo de manto fosse a veste distintiva de
um profeta (2 Reis 2,13-14). Neste caso o manto simboliza sempre a missão da
pessoa e contém os poderes daquele que o usa (2 Reis 2,13-14). Também, jogar o
manto sobre alguém indicava ainda o direito do proprietário do manto sobre a
pessoa que o recebia (ver Ruth 3,9). Então, Elias com aquele seu gesto adquire
um direito sobre Eliseu que começa a servir a Elias (v.21) e ao mesmo tempo o
reveste da sua missão e dos seus poderes como Profeta. Neste sentido pode-se
considerar esta história como paralela a 2 Reis 2,1-18.
Eliseu
aceita o chamado, pede apenas para ir despedir-se dos seus familiares antes de
partir. A resposta de Elias tem provocado muitas discussões porque é assaz
ambígua. Literalmente o texto hebraico diz: "Vai, mas volta porque sabes
que coisa te fiz. (ou: ?)". Isto pode significar que Elias deixa Eliseu
livre para escolher de segui-lo ou não. Mas, provavelmente significa: "Vai
e volta porque tu sabes bem o que te fiz: eu te investi dos meus poderes".
Eliseu oferece um sacrifício para o qual
convida as pessoas de sua terra. Mas aqui o que é mais significativo é o fato
de que para oferecer o sacrifício ele destrói o arado e mata seus bois, o que
indica uma definitiva ruptura com o passado. É o mesmo que faz ao deixar as
próprias vestes para vestir o manto de Elias (2 Reis 2,13). Agora possui uma
nova identidade: é o servidor de Elias. Realmente o texto não nos diz que se
tornou sucessor de Elias mas seu servidor. É necessário também ler este
detalhe, como tantos outros da história de Elias, fazendo-se referência a
história de Moisés. Josué, filho de Num, era servidor de Moisés na sua
juventude, tornando-se depois seu sucessor. Assim também Eliseu inicia a sua
carreira como servidor de Elias para tornar-se depois o seu sucessor.
*Institutum Carmelitanum- Comissão Internacional-
Carisma e Espiritualidade.
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