Dom
Pedro Casaldáliga: ‘O problema é ter medo do medo’
O bispo emérito de São Félix do
Araguaia, Dom Pedro Casaldáliga, conta nesta entrevista ao sítio Quem tem medo
da democracia? - QTMD -um pouco das suas vivências, falando sobre o contexto do
Estado do Mato Grosso e do Brasil na atualidade. Fala também da importância das
ações sociais que são desenvolvidas e do descaso com a Causa Indígena. A
entrevista é de Ana Helena Tavares e publicada por Quem tem medo da
democracia?, 21-10-2012.
A voz é baixa, o corpo já não permite
lutar no front, mas a lucidez do catalão D. Pedro Maria Casaldáliga, bispo
emérito da Prelazia de São Félix do Araguaia, é capaz de constranger. Por
várias vezes quase assassinado, devido à sua opção pela defesa dos pequenos e o
conflito com os grandes, D. Pedro ainda recebe ameaças.
O QTMD? viajou ao Araguaia para ver e
ouvir de perto um pouco da história deste homem que optou por viver
"descalço sobre a terra vermelha”. "’Descalço’ quer dizer sem
consumismo. ‘Sobre a terra vermelha’. Uma terra ensopada de suor,… Mas também
ensopada de sangue”, definiu Casaldáliga.
Para ele, todos os partidos e governos
têm três dividas com o povo: A da Reforma Agrária – reforma que "não há,
não há, não há…”, a da Causa Indígena – "os índios sobram frente ao
agronegócio” – e a dos Pequenos Projetos – "a obsessão pelos grandes
projetos é marca do governo atual”.
O bispo, que enfrentou a repressão do
regime militar, lembrou que "Jesus enfrentou as forças do Império Romano”,
e falou sobre Comissão da Verdade, lamentando a falta de punição aos
torturadores: "A memória histórica tem que servir de lição”, sublinhou.
Recebido
por tochas
"Eu cheguei em 1968 ao Rio de
Janeiro (onde ficou cerca de 4 meses). Saímos de Madrid a 11 graus abaixo de
zero e chegamos ao Rio de Janeiro a 38. Tinha aquelas tochas do aeroporto para
a cidade. Umas tochas acesas… Eu ainda estou vendo… Aquele calor, com aquelas
tochas… Passamos uma noite sem dormir.”
Casaldáliga aparece sentado, de óculos
escuros, no ano em que chegou ao Brasil.. Foto: arquivo da Prelazia de São
Félix.
"Há
muitos Brasis”
"E depois, em Petrópolis, eu fiz um
curso que tem a Igreja Católica no Brasil para missionários que vêm de fora.
Para estudar a língua e ter uma noção de história do país. Da Igreja no país. E
foi providencial. Porque, na época da ditadura militar, se tivéssemos chegado
diretamente, da maneira como nós chegamos (foto), para São Félix do Araguaia…
Nós estaríamos perdidos. Completamente despistados, sem saber da situação
verdadeira… As causas da situação. As migrações: por que motivo? A história do
país. Que há muitos Brasis…”.
Sete
dias de caminhão
"Foram quase sete dias de caminhão
de São Paulo até aqui (São Félix do Araguaia). Porque a estrada estava se
abrindo, não tinha estrada. As pontes eram pequenas. Tinha muitos córregos…
Agora, quando se faz o caminho de Barra do Garças para cá, não se tem nem ideia
de como era a região.”
"Cadê
a mata do posto?”
"Está tudo desmatado. Os córregos
todos profanados, alguns deles secos já perderam toda a vitalidade. Tinha mata…
Se fala do Posto da Mata… Cadê a mata do posto?”
"Terra
de ninguém”
D. Pedro Casaldáliga chegou ao Brasil em
janeiro de 68, portanto antes do AI-5 (que foi em dezembro do mesmo ano), mas
garante: "já era clima de ditadura tensa”. E São Félix do Araguaia era,
segundo ele, "um lugar onde o Estado não estava presente. Terra de ninguém.”
"Conflito
com a política oficial”
D. Pedro lembra que, em 68,
"começavam a vir as grandes fazendas com os incentivos fiscais da SUDAM.”
E prossegue: "Automaticamente, para nós, a convivência com os pobres, pelo
povo e pelos pequenos, significava entrar em conflito com o latifúndio. Entrar
em conflito com a política oficial.”
Na imagem, um dos documentos a que o
QTMD? teve acesso nos arquivos da Prelazia de São Félix. É um dos muitos
"Estavam de um lado os índios, os
posseiros, os peões… Do outro, os fazendeiros, a polícia, o Exército, o
governo, o Estado… Logo, quase bem do início, já percebemos que a luta seria
essa. Se nos posicionávamos do lado do povo, entrávamos em conflito com a
política oficial.”
A
guerrilha
"Aqui não teve guerrilha. A
guerrilha foi no sul do Pará e no norte de Goiás. Só que para a repressão nós
éramos guerrilha. Porque não conseguiam entender que uns estrangeiros se
enfronhassem nesse mundo onde não tinha comunicação de jeito nenhum.
Infraestrutura nenhuma… E rapazes novos que deixassem os estudos, o emprego e
viessem para cá para não ganhar nada praticamente, só podiam ser guerrilheiros
ou respaldo da guerrilha. Por isso, tivemos a repressão em cima… Sempre.”
"Diálogo
de surdos”
"Foram presos muitos agentes de
pastoral. Torturados. As presidências da CNBB foram muito solidárias conosco. E
tivemos possibilidade de discutir com as autoridades por esse respaldo da CNBB.
Só que era um diálogo de surdos.”
"Veio, em 1972, o ministro da
Justiça da época. (Alfredo) Buzaid, ministro da Justiça (governo Médici).
Estive com ele. Discutimos… Ele prometia o que não queria dar. Se impressionou
no máximo pelo início da Reforma Agrária. Pelos sucessos de Santa Terezinha dentro
da região.”
"Um
grito!”
"E no dia da minha sagração (foto),
lançamos uma carta pastoral. "Uma igreja da Amazônia em conflito com o
latifúndio e a marginalização social.” E foi um grito! Porque escrevíamos dando
nomes aos bois… Isso provocou mais presença da repressão.”
"Ação
Cívica e Social do Exército”
"Nós tivemos aqui na região quatro
operações da ACISO - Ação Cívica e Social do Exército. Que vinha para esses
interiores arrancar dentes e consultar… Vinham de fato inspecionar. Porque
abrangia a área estrita da Prelazia.”
"Vasculhavam as nossas casas…
Exigiam a prisão… Levavam os agentes de pastoral presos e torturados para o
Quartel do Exército de Campo Grande. Porque tudo era suspeito… Havia um clima
de terror nessas regiões todas.”
"O
povo foi torturado como cúmplice”
"Muitos anos depois, o povo se
sentia livre para agir, para conversar. Em certas celebrações que tivemos,
ainda havia uma reticência. Porque, além dos guerrilheiros que foram mortos, o
povo foi torturado, maltratado como cúmplice… Os guerrilheiros tinham criado
amizades, alguns eram médicos, professores.”
"Os
índios sobram frente ao agronegócio”
Quanto aos índios, "já era uma
atitude que continuava a política toda da colonização… Os índios sobravam. E
estamos no mesmo problema… Sobram frente ao agronegócio. Porque a política
indígena, a cosmovisão indígena, a cultura indígena, a economia indígena… É
contrária à política e à economia do agronegócio. Por isso, eu dizia que
tivemos problema na defesa desses três grupos de pessoas Os povos indígenas, os
posseiros e os peões.”
"O
problema é ter medo do medo”
"Detectamos o trabalho escravo. E o
denunciamos… Foi aqui onde primeiro se denunciou o trabalho escravo.”
Perguntado se em algum momento teve medo de morrer, o bispo do Araguaia não
hesitou:
"Vários! Ainda agora, por exemplo…
Essa situação dos intrusos, os que comandam a intrusão. Acham que a culpa
principal é minha por eu ter defendido esses índios.”
"Mas (na ditadura) éramos todos
ameaçados… Eu tenho uma significação por ser bispo. Lógico… Eu digo sempre que
o problema não é ter medo… O problema é ter medo do medo, (porque o medo) é uma
reação defensiva.”
A
morte do padre Burnier
Casaldáliga e o padre João Bosco
Burnier, assassinado por um policial, estavam numa delegacia para defender
mulheres torturadas. Uma delas é a que aparece na foto ao lado, observada por
Casaldáliga, de óculos. Aquela foi uma das quatro ocasiões em que o bispo foi
quase expulso do Brasil.
"O povo de Ribeirão Cascalheira
derrubou a cadeia e a delegacia. Disseram que eu estava comandando esta
derrubada da cadeia… Cadeia funcionando… E que podiam pedir a minha expulsão.
Eu precisamente tinha saído rapidamente a Goiânia levando a denúncia da morte
do Padre João Bosco (Burnier) e eu já não estava (em São Félix).”
As
três dívidas dos governos com o povo
"Não há… Não há… Não há Reforma
Agrária.”, enfatiza Dom Pedro Casaldáliga. "A Reforma Agrária supõe
Reforma Agrícola também. Uma política a favor da Agricultura Familiar. Um
acompanhamento dos assentamentos. Se tem feito alguns acordos… Mas não entram
no que eu digo…”
"Eu digo que esses partidos, esses
governos todos têm três dívidas: a da Reforma Agrária; a da Causa Indígena; e a
dos Pequenos Projetos. De Agricultura Familiar, de Mini-Empresas… Têm essa
dívida.”
"E com o capitalismo neoliberal…
Com a política da exportação… Se confirma que esses países da América Latina e
o Brasil, particularmente… Estão destinados a serem exportadores de matéria
prima. É uma política contrária completamente às necessidades do povo.”
"O povo tenta fazer (a Reforma
Agrária)… O MST e outras forças populares tentam gestos da Reforma Agrária. Mas
a política oficial não é da Reforma Agrária. Insistindo: o que se pede é uma
Reforma Agrária que seja uma Reforma Agrícola também. Porque terra é mais do
que terra! Para o índio, sobretudo, é o habitat.”
"O
bispo Pedro é comunista”
"Nós éramos comunistas, aqui na
região, na Prelazia. E se deram casos pitorescos. Numa ocasião (na ditadura
militar), a polícia lá em Santa Terezinha dizendo que: "O bispo Pedro é
comunista”! Um dos camponeses falou: ‘Eu não sei o que é comunista. Agora, se
comunista é ser da comunidade, trabalhar para a comunidade, o bispo Pedro é
comunista’”.
"Os
primeiros socialistas se inspiraram no Evangelho”
"No problema da justiça e da
igualdade, estamos na mesma. Por motivos filosóficos, históricos e de fé…
Também se diz: "Estamos no mesmo barco.” E, em certa medida, é verdade.
Estamos no mesmo barco, mesmo que nós acrescentemos o motivo da fé. A procura
da justiça social, da fraternidade universal… Os primeiros socialistas se
inspiraram no Evangelho.”
"Dialético,
marxista, humano”
"Por outra parte, se critica a
Teologia da Libertação de ser marxista. Não é marxista. Porque existem
categorias que são comuns… Dizer que os ricos cada vez mais ricos à custa dos
pobres cada vez mais pobres… Isso é dialético! É marxista! É humano! Uma
consideração humana da realidade dá esse resultado: que os ricos são cada vez
mais ricos à custa dos pobres cada vez mais pobres.”
Socialização:
a prerrogativa para a paz
"Quando fomos investigados aqui (na
ditadura militar)… A Polícia Federal me parou e perguntava sobre socialismo. Eu
dizia: se querem falar de socialismo, vamos falar de socialização. Se não se
socializa a terra… A terra do campo e a terra urbana. A saúde, a educação, a comunicação…
Se não se socializa esses bens maiores, essenciais… Não haverá paz.”
"Como
Jesus optou…”
"Há um passado, um presente e um
futuro (para a Teologia da Libertação). E, em todo caso, toda verdadeira
teologia tem de ser Teologia da Libertação. A teologia cristã tem que optar
pela igualdade fraterna da humanidade. Tem que optar pelos pobres, pelos
pequenos, pelos marginalizados. Como Jesus optou.”
"Enfrentando, se preciso, as forças
do poder. Como Jesus enfrentou as forças do Império Romano. As forças de uma
religião utilizada… As forças do latifúndio na Palestina. Então… Um cristão que
queira ser cristão de verdade tem que fazer essas opções. Isso chamamos de
Teologia da Libertação.”
"A
memória histórica tem que servir de lição.”
Dom Pedro Casaldáliga concorda que se
investiguem as violações dos direitos humanos que tenham ocorrido entre 1946 e
1988, como está fazendo a Comissão da Verdade. "Eu acho que é bom que se
abranja também essa outra área.”
"Porque o perigo de torturar
fisicamente e psicologicamente está nas mãos de todos os governos que sejam
mais ou menos ditatoriais. A ditadura foi o momento alto dessa repressão… Desse
abuso de poder. Mas devemos prevenir para qualquer outro momento.”
O bispo, porém, discorda da falta de
punição aos torturadores: "Deveriam ser punidos. A memória histórica tem
que servir de lição. Não pode ser apenas evocar estaticamente uns heróis e uns
torturadores. Vários países da América Latina têm dado o exemplo disso”.
América
Latina: "Pátria Grande”
Casaldáliga considera que a América
Latina "está melhor hoje do que ontem. Porque temos governos mais ou menos
de esquerda. Porque há uma maior consciência de que somos um continente.”
"Uma "Pátria Grande”, como
diziam os libertadores. "A nossa América”, diziam eles também. Eu digo
sempre que a América Latina e o Caribe ou se salvam continentalmente todos ou
não se salvam. Tem que ser uma comunidade de nações, porque temos uma
característica especial.”
"Paixão
latino-americana”
"Já, em parte, se está conseguindo
que a América Latina não seja tão abertamente o quintal dos Estados Unidos. Se
está dando passos importantes. Quando se fala da Venezuela, eu digo que, com os
erros de Hugo Chávez, tem umas contribuições significativas. Uma delas é essa
paixão latino-americana.”
"O
Brasil é outra coisa”
"Custou o Brasil tomar consciência
de que somos América Latina. Pelo idioma… Por uma certa atitude hegemônica…
Que, às vezes, não é suficientemente controlada… O Brasil é outra coisa.”
Não
acredito, mas…
O bispo não acredita em novo golpe. Ao
menos, não nos moldes do que ocorreu em 64. "Nem aqui nem em outros
lugares da América Latina. Mas há outros tipos de golpes… Por isso, é bom
prevenir… Para que as ditaduras não sejam camufladas… Podem ser ditaduras
militares, podem ser ditaduras civis também…”
Os
"outros tipos de golpes”…
"O governo do Paraguai não é
legítimo, o governo de Honduras não é legítimo. Evidente. São golpes de Estado,
são ditaduras camufladas a serviço dos interesses do Império. (o grande
capital) Que agora é menos expressivamente dos países… A globalização os tem
metido a todos no mesmo saco.”
"O
nosso DNA é ser raça humana”
"Por outra parte, há um cenário,
uma nova consciência de sermos uma unidade. Somos a família humana. Agora não
se pode prescindir do resto do mundo. Sempre temos dito que o pecado dos EUA é
se considerar como ele só no mundo. E o resto é resto.”
"Agora com a globalização e suas
malezas, e seus abusos… Tem se aberto um espaço… Uma unidade. A característica
primeira é de ser humanos…”
"Eu digo que o nosso DNA é ser raça
humana. Família humana. Existem ("raças”) como identidade. Mas, dentro
dessa identidade, primeiro é o fato de ser humanos. E toda a verdadeira
política se devia dedicar a humanizar a humanidade.”
"Capitalismo
com rosto humano é impossível”
Perguntado se há possibilidade de haver
uma verdadeira democracia dentro do capitalismo, o bispo do Araguaia foi
enfático: "Não! O capitalismo é nefasto. E não tem solução… O capitalismo
é o egoísmo coletivo. É a segregação da imensa maioria. É o lucro pelo lucro. É
a utilização das pessoas e dos povos a serviço de um grupo de privilegiados.
Quando se trata de um "capitalismo com rosto humano” se está pedindo o
impossível. É impossível.”
"A
democracia é uma palavra profanada.”
Para D. Pedro Casaldáliga, não há
democracia verdadeira em lugar nenhum do mundo. "Porque se tem uma
democracia formal… Uma democracia, entre aspas, política. Mas não se tem
democracia econômica… Não se tem democracia hênica (étnica). Os povos indígenas,
dentro destes Estados democráticos… São coibidos. São marginalizados. Se veem
obrigados a reivindicar os direitos que são elementares para eles. A democracia
é uma palavra profanada.”
Quem
tem medo da democracia?
"Da verdadeira democracia… Têm medo
todos àqueles que continuam defendendo privilégios para umas pessoas…
Privilégios para uns poucos.”
"Todos aqueles que fazem da
propriedade privada um direito absoluto.”
"Todos aqueles que não entendem que
a propriedade tem uma hipoteca social.”
"Todos aqueles que considerem que
podem existir pessoas, governos e Estados que vivam de privilégio à custa da
dominação e da exploração…”
"Não há liberdade de imprensa”
"A grande mídia é a mídia dos
grandes. Com isso está dito tudo… Não há liberdade de imprensa. Eu tenho visto
jornalistas chorando de raiva porque fizeram matéria e o editor tergiversou
(distorceu) tudo praticamente… Colocando o título tal e tergiversa (distorce)
tudo o que foi dito no texto. Sim. Sim. Tem tido casos assim.”
Governo
Dilma: "obsessão pelos grandes projetos”
"A crítica que eu faço é dessas
três dívidas: A dívida da Reforma Agrária. A dívida da Causa Indígena. E a
dívida dos pequenos projetos. Se faz os grandes projetos… Belo Monte. São
Francisco. Hidrelétricas… Grandes projetos… O Brasil é destinado a ser uma
grande fábrica a serviço deles.”
"Um índio Carajá dizia uns anos
atrás… Numa coletiva de imprensa na Europa: "Eu acho que o nosso governo
está mais interessado em engordar os porcos de obra…” "Do que em cuidar do
seu povo…” Engordar os porcos… Sem recolher a soja… Fazer da soja a grande
exportação. Há uns atrás ele falava… Mas ainda devemos dizer que essa obsessão
pelos grandes projetos… Define em grande parte o governo atual.”
A
política internacional vai bem
"Eu reconheço a história da Dilma.
Reconheço as ações de solidariedade que ela está fazendo… A atitude que se tem
adotado com respeito ao Paraguai… A atitude que se tem adotado com respeito à
Venezuela… A atitude que se tem adotado quando se trata de defender o direito
dos povos. Se Equador toma uma decisão, ela é acolhida ou respaldamos. Sim (a
política internacional vai bem). Pela primeira vez se fez uma política, que
buscava a independência com respeito aos EUA.”
"Descalço
sobre a terra vermelha”
Quando o QTMD? esteve em São Félix do Araguaia,
estava sendo rodado um filme sobre D. Pedro Casaldáliga, baseado em livro
homônimo. O homenageado se opunha, mas depois acabou permitindo. "Eu me opunha de todo jeito. Porque
eu tinha medo de duas coisas: que se partisse para o pedantismo… O culto da
personalidade. E também que não se destacassem bastante… As nossas causas. Por
que estamos aqui? O que defendemos aqui? Por que temos assumido essas
atitudes?”
"Isso de um modo comunitário.
Porque não tem sido eu… Tem sido essas equipes de pastoral… Tem sido o
movimento popular. O povo da região… Que tem lutado, que luta, para vingar seus
direitos. Eu fiz questão de não interferir. Deixar liberdade absoluta. Sem
censura. Criticamos a censura, eu não vou fazer censura agora…”
"Tem uma vantagem, acho, o filme…
Ajudará a evocar uma memória que não estava viva, sobretudo, na juventude… Do
governo daquela época. Poderão agora descobrir um passado, que afeta o presente
e o futuro.”
"’Descalço’ quer dizer sem
consumismo. Despojado, sem consumo. ‘Sobre a terra vermelha’. Uma terra
ensopada de suor,… Mas também ensopada de sangue. Sangue mártir.”, finalizou o
bispo.
Fonte: http://www.ihu.unisinos.br
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