Frei
Alonso Malaquias, 0. Carm.
No dia 19 de
fevereiro de 2000, estava eu viajando para Jaboticabal (SP). Ia até o Noviciado
ensaiar melodias para o Ofício Divino com os nossos candidatos. Deveria estar
em boa velocidade, dentro do permitido, afinal a rodovia Washington Luiz é
muito boa. Senti que o sono me tomava de assalto, mas persisti na minha
teimosia, afinal faltavam apenas 40 minutos para chegar. Cochilei. Acordei com
o carro virado no jardim que separa as duas pistas.
Só quem passou
por isso é que sabe do que falo: o carro totalmente fora de controle, barulho
de vidro quebrado, lata amassando, caminhões buzinando e você sendo jogado de
um lado para o outro. É a total impotência. A sensação é de uma força de morte
que iria destruir-me. Vi que era o meu fim!
Foi neste desespero
que gritei por Nossa Senhora do Carmo. Prensei-me contra o banco e, segurando
fortemente no volante, me encolhi o mais que pude. O carro continuou capotando
até para na outra pista de roda para
cima. Com medo de alguma explosão, saí imediatamente pela janela. Estive
consciente o tempo todo. Saí ileso. Cortei somente a palma da mão e a cabeça
devido aos vidros. Ao ficar fora do carro e ver o veículo inteiramente
destruído, é que tomei consciência do que realmente acontecera.
Recebi muita
ajuda dos caminhoneiros e de outras pessoas. Experimentei quão generosas são as
pessoas na estrada. Fui levado para o pronto-socorro. Só na ambulância
lembrei-me que tirara o Escapulário alguns dias antes, pois estava velhinho e
queria trocar por outro. Constatei o quanto Maria me amou e protegeu. Ela não
dependeu de um objeto para socorrer-me.
Você me
perguntará: Mas como? Não é preciso estar sempre com o Escapulário se quiser
que nada de mal me aconteça? Eu respondo, meu irmão: bem mais importante que
apenas usar o Escapulário como objeto de sorte, o que ele não é nem de longe, o
Escapulário nos ajuda na exata medida em que interiorizamos os valores que ele
contém: primeiro, a confiança filial no socorro de Maria; segundo, a
consagração da própria vida a ela em vista da expansão do Reino do seu Filho; o
que se realiza; em terceiro, pela imitação das suas virtudes que são exatamente
as que encontramos nos evangelhos: confiança total na Palavra de Deus e não em
si mesmo; conformidade de nossa vontade com a vontade do senhor; uma vida toda
impregnada da sua presença e, por isso mesmo, por nos sentirmos intensamente
amados por Deus (vida e oração), participando da vida da Igreja, amando o
próximo, principalmente os mais pobres e esquecidos, como foi o amor de Jesus
(vida de serviço).
O santo
Escapulário nos ajuda da seguinte forma: com o passar dos dias, das várias
situações que nos atingem na vida, cada vez que o vemos em nós lembramos de
nossa aliança de amor com Maria e vamos, na medida que nossas fraquezas
permitem, amadurecendo a fé. O Escapulário nos infunde coragem e otimismo.
Maria está conosco! A fé não se reduz ao sentimentalismo nem ao
intelectualismo, embora o sentimento e a razão também a constituam. Mas a fé
tem mais que ver com a vontade: adesão sincera ao Pai cuja única vontade é nos
salvar por seu Filho no Espírito Santo. Fé é construir a nossa vida sobre a
Rocha que é Cristo.
Eu sei que mesmo
padres me diriam: “O que aconteceu com você não se tratou da ação de ninguém.
Foi pura sorte”. Mas eu, que me vi perdido na boca da morte, e tendo invocado
com toda a confiança o socorro de Nossa Senhora, fui atendido e salvo, tenho
consciência do que escrevo.
E você também
poderia perguntar-me: “e como se explica os que morreram mesmo tendo invocado
também o socorro de Maria? No que você é melhor do que eles?” Pergunta justa.
Respondo dizendo que não sou melhor nem pior que ninguém. Somos todos filhos
amados intensamente por Deus. Analiso o que aconteceu a partir da minha
experiência pessoal, de alguém que passou (como todos os dias passam muitos)
por uma experiência limite e voltou novamente à vida. Não pretendo ter a
resposta final. Penso no ocorrido como uma resposta de Maria em vista de uma
missão que tenho a cumprir, ou ainda não estivesse pronto para partir... De fato,
não sei. Só tenho a agradecer e louvar.
Daqui surgem
várias perguntas: “por que nesta terra o justo e o bom sofrem tanto e são os
mais desprezados, enquanto os ímpios injustos gozam sempre de saúde e são cada
vez mais ricos? Deus não vê estas injustiças? Se Deus é bom, por que há no
mundo tantos horrores?” Estas perguntas são corajosas. Estas são as perguntas
de Jó. O credo dos primeiros cristãos era este: “eles mataram Jesus
suspendendo-o numa cruz, Deus, porém, o ressuscitou...” (Cf 1 Cor 6, 14). Em Cristo
temos a resposta para vencer o sofrimento, seja ele pessoal seja social.
Pode ser que num
outro ocidente (Deus nos livre a todos!), eu invoque novamente Nossa Senhora e
não seja salvo, não aconteça nada. Mas, mesmo aqui, o santo Escapulário me lembra
da fé que temos na comunhão dos santos. Maria nos ama mesmo na morte. Ela está
conosco neste momento crucial da nossa existência que é o encontro definitivo
com Deus. Estará aí também nos auxiliando para aceitarmos que a vontade de Deus
nos purifique que saibamos pedir perdão e perdoar àqueles que nos fizeram mal,
e assim, amando a Deus com o coração purificado pelo fogo do Espirito, entremos
na posse definitiva da Trindade.
O santo
Escapulário é uma bênção de Deus, um sinal externo de nossa mútua aliança com
Maria: de seu lado, Maria nos protege e guia para Cristo, único Salvador. Do
nosso lado, procuramos imitar os belíssimos exemplos de seguimentos de Jesus
que ela nos deixou.
Nenhum comentário:
Postar um comentário