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terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

A Espiritualidade do Escapulário

Frei Alonso Malaquias, 0. Carm.

          No dia 19 de fevereiro de 2000, estava eu viajando para Jaboticabal (SP). Ia até o Noviciado ensaiar melodias para o Ofício Divino com os nossos candidatos. Deveria estar em boa velocidade, dentro do permitido, afinal a rodovia Washington Luiz é muito boa. Senti que o sono me tomava de assalto, mas persisti na minha teimosia, afinal faltavam apenas 40 minutos para chegar. Cochilei. Acordei com o carro virado no jardim que separa as duas pistas.

Só quem passou por isso é que sabe do que falo: o carro totalmente fora de controle, barulho de vidro quebrado, lata amassando, caminhões buzinando e você sendo jogado de um lado para o outro. É a total impotência. A sensação é de uma força de morte que iria destruir-me. Vi que era o meu fim!

Foi neste desespero que gritei por Nossa Senhora do Carmo. Prensei-me contra o banco e, segurando fortemente no volante, me encolhi o mais que pude. O carro continuou capotando até para  na outra pista de roda para cima. Com medo de alguma explosão, saí imediatamente pela janela. Estive consciente o tempo todo. Saí ileso. Cortei somente a palma da mão e a cabeça devido aos vidros. Ao ficar fora do carro e ver o veículo inteiramente destruído, é que tomei consciência do que realmente acontecera.

Recebi muita ajuda dos caminhoneiros e de outras pessoas. Experimentei quão generosas são as pessoas na estrada. Fui levado para o pronto-socorro. Só na ambulância lembrei-me que tirara o Escapulário alguns dias antes, pois estava velhinho e queria trocar por outro. Constatei o quanto Maria me amou e protegeu. Ela não dependeu de um objeto para socorrer-me.

Você me perguntará: Mas como? Não é preciso estar sempre com o Escapulário se quiser que nada de mal me aconteça? Eu respondo, meu irmão: bem mais importante que apenas usar o Escapulário como objeto de sorte, o que ele não é nem de longe, o Escapulário nos ajuda na exata medida em que interiorizamos os valores que ele contém: primeiro, a confiança filial no socorro de Maria; segundo, a consagração da própria vida a ela em vista da expansão do Reino do seu Filho; o que se realiza; em terceiro, pela imitação das suas virtudes que são exatamente as que encontramos nos evangelhos: confiança total na Palavra de Deus e não em si mesmo; conformidade de nossa vontade com a vontade do senhor; uma vida toda impregnada da sua presença e, por isso mesmo, por nos sentirmos intensamente amados por Deus (vida e oração), participando da vida da Igreja, amando o próximo, principalmente os mais pobres e esquecidos, como foi o amor de Jesus (vida de serviço).

O santo Escapulário nos ajuda da seguinte forma: com o passar dos dias, das várias situações que nos atingem na vida, cada vez que o vemos em nós lembramos de nossa aliança de amor com Maria e vamos, na medida que nossas fraquezas permitem, amadurecendo a fé. O Escapulário nos infunde coragem e otimismo. Maria está conosco! A fé não se reduz ao sentimentalismo nem ao intelectualismo, embora o sentimento e a razão também a constituam. Mas a fé tem mais que ver com a vontade: adesão sincera ao Pai cuja única vontade é nos salvar por seu Filho no Espírito Santo. Fé é construir a nossa vida sobre a Rocha que é Cristo.

Eu sei que mesmo padres me diriam: “O que aconteceu com você não se tratou da ação de ninguém. Foi pura sorte”. Mas eu, que me vi perdido na boca da morte, e tendo invocado com toda a confiança o socorro de Nossa Senhora, fui atendido e salvo, tenho consciência do que escrevo.

E você também poderia perguntar-me: “e como se explica os que morreram mesmo tendo invocado também o socorro de Maria? No que você é melhor do que eles?” Pergunta justa. Respondo dizendo que não sou melhor nem pior que ninguém. Somos todos filhos amados intensamente por Deus. Analiso o que aconteceu a partir da minha experiência pessoal, de alguém que passou (como todos os dias passam muitos) por uma experiência limite e voltou novamente à vida. Não pretendo ter a resposta final. Penso no ocorrido como uma resposta de Maria em vista de uma missão que tenho a cumprir, ou ainda não estivesse pronto para partir... De fato, não sei. Só tenho a agradecer e louvar.

Daqui surgem várias perguntas: “por que nesta terra o justo e o bom sofrem tanto e são os mais desprezados, enquanto os ímpios injustos gozam sempre de saúde e são cada vez mais ricos? Deus não vê estas injustiças? Se Deus é bom, por que há no mundo tantos horrores?” Estas perguntas são corajosas. Estas são as perguntas de Jó. O credo dos primeiros cristãos era este: “eles mataram Jesus suspendendo-o numa cruz, Deus, porém, o ressuscitou...” (Cf 1 Cor 6, 14). Em Cristo temos a resposta para vencer o sofrimento, seja ele pessoal seja social.

Pode ser que num outro ocidente (Deus nos livre a todos!), eu invoque novamente Nossa Senhora e não seja salvo, não aconteça nada. Mas, mesmo aqui, o santo Escapulário me lembra da fé que temos na comunhão dos santos. Maria nos ama mesmo na morte. Ela está conosco neste momento crucial da nossa existência que é o encontro definitivo com Deus. Estará aí também nos auxiliando para aceitarmos que a vontade de Deus nos purifique que saibamos pedir perdão e perdoar àqueles que nos fizeram mal, e assim, amando a Deus com o coração purificado pelo fogo do Espirito, entremos na posse definitiva da Trindade.

O santo Escapulário é uma bênção de Deus, um sinal externo de nossa mútua aliança com Maria: de seu lado, Maria nos protege e guia para Cristo, único Salvador. Do nosso lado, procuramos imitar os belíssimos exemplos de seguimentos de Jesus que ela nos deixou.

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