Na
Palavra de Deus que hoje nos é proposta, cruzam-se vários temas (a fé, a
salvação, a radicalidade do “caminho do Reino”, etc.); mas sobressai a reflexão
sobre a atitude correta que o homem deve assumir face a Deus. As leituras
convidam-nos a reconhecer, com humildade, a nossa pequenez e finitude, a
comprometer-nos com o “Reino” sem cálculos nem exigências, a acolher com
gratidão os dons de Deus e a entregar-nos confiantes nas suas mãos.
Na
primeira leitura, o profeta Habacuc interpela Deus, convoca-o para intervir no
mundo e para pôr fim à violência, à injustiça, ao pecado… Deus, em resposta,
confirma a sua intenção de atuar no mundo, no sentido de destruir a morte e a
opressão; mas dá a entender que só o fará quando for o momento oportuno, de
acordo com o seu projecto; ao homem, resta confiar e esperar pacientemente o
“tempo de Deus”.
O
Evangelho convida os discípulos a aderir, com coragem e radicalidade, a esse
projeto de vida que, em Jesus, Deus veio oferecer ao homem… A essa adesão
chama-se “fé”; e dela depende a instauração do “Reino” no mundo. Os discípulos,
comprometidos com a construção do “Reino” devem, no entanto, ter consciência de
que não agem por si próprios; eles são, apenas, instrumentos através dos quais
Deus realiza a salvação. Resta-lhes cumprir o seu papel com humildade e
gratuidade, como “servos que apenas fizeram o que deviam fazer”.
A
segunda leitura convida os discípulos a renovar cada dia o seu compromisso com
Jesus Cristo e com o “Reino”. De forma especial, o autor exorta os animadores
cristãos a que conduzam com fortaleza, com equilíbrio e com amor as comunidades
que lhes foram confiadas e a que defendam sempre a verdade do Evangelho.
ATUALIZAÇÃO
A reflexão pode fazer-se a partir das
seguintes coordenadas:
A
“fé” é, antes de mais, a adesão à pessoa de Jesus Cristo e ao seu projeto.
Posso dizer, de facto, que é a “fé” que conduz e que anima a minha vida? Jesus
é o eixo central à volta do qual se constrói a minha existência? É Jesus que
marca o ritmo e a cor das minhas opções e dos meus projetos?
O
“Reino” é uma realidade sempre “a fazer-se”; mas apresentam-se, com frequência,
situações de injustiça, de violência, de egoísmo, de sofrimento, de morte, que
impedem a concretização do “Reino”. Como é que eu – homem ou mulher de fé –
ajo, nessas circunstâncias? A minha “fé” em Jesus conduz-me a um empenho
concreto pelo “Reino” e entusiasma-me a lutar contra tudo o que impede a
concretização do “Reino”? A minha “fé” nota-se nos meus gestos? Há algo de novo
à minha volta pelo facto de eu ter aderido a Jesus e pelo facto de eu estar a
percorrer o “caminho do Reino”? Quais são os “milagres” que a minha “fé” pode
fazer?
Nós,
homens, somos, com frequência, muito ciosos dos nossos direitos, dos nossos
créditos, daquilo que nos devem pelas nossas boas ações. Quando transportamos
isto para a relação com Deus, construímos um deus que não é mais do que um
contabilista, que escreve nos seus livros os nossos créditos e os nossos
débitos, a fim de nos pagar religiosamente, de acordo com os nossos
merecimentos… Na realidade – diz-nos o Evangelho de hoje – não podemos exigir
nada de Deus: existimos para cumprir, humildemente, o papel que Ele nos confia,
para acolher os seus dons e para O louvar pelo seu amor. É nesta atitude que o
discípulo de Jesus deve estar sempre.
De
certas pessoas diz-se que “não dão ponto sem nó”, para descrever o seu egoísmo
e as suas atitudes interesseiras. Porque é que fazemos as coisas? O que é que
motiva as nossas ações e gestos: o amor desinteressado, ou o interesse pela
retribuição?
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