O
cardeal de Lima, Juan Luis Cipriani, qualificou, no último sábado, o prefeito
da Congregação para a Doutrina da Fé, o arcebispo Gerhard Müller, de “ingênuo”
por propiciar uma aproximação entre o Vaticano e a Teologia da Libertação. A
reportagem está publicada no sítio espanhol Religión Digital, 15-09-2013. A
tradução é de André Langer.
Müller
é “um bom alemão, um bom teólogo, mas um pouco ingênuo”, disse o arcebispo de
Lima, primeiro cardeal da Opus Dei na América Latina e crítico da Teologia da
Libertação.
O
arcebispo alemão propiciou a reunião da quarta-feira entre o Papa Francisco e o
sacerdote dominicano peruano Gustavo Gutiérrez, considerado o pai da Teologia
da Libertação.
“Minha
leitura (dessa reunião) é que (Müller) quis aproximar-se do seu amigo
(Gutiérrez), por quem tem um carinho todo especial, a quem quer de alguma
maneira ajudar a corrigir e inserir-se na Igreja Católica”, assinalou Cipriani
durante o seu programa semanal “Diálogos de Fé”, na rádio RPP.
A
reunião, revelada na quinta-feira pelo Vaticano, “está sendo utilizada” para
descrever uma aproximação com uma corrente teológica que “foi prejudicial à
Igreja”, afirmou Cipriani, cabeça visível da ala mais dura da Igreja Católica
na região.
Segundo
Cipriani, enquanto Joseph Ratzinger era prefeito da Congregação para a Doutrina
da Fé, isto é, o guardião da ortodoxia do Vaticano, exigiu, entre 1984 e 1986,
que Gutiérrez “corrigisse dois de seus livros: Teologia da Libertação e A Força
dos Pobres, que foram prejudiciais à Igreja”. “Se, afinal, se corrigiu, não
sei”, disse o cardeal peruano.
No
entanto, segundo Müller, embora Ratzinger tenha criticado a Teologia da
Libertação em seus documentos doutrinais, também reconheceu intuições justas,
principalmente a preferência pelos pobres.
O
professor estadunidense Jeffrey Klaiber, historiador das religiões na
Universidade Católica do Peru, disse à AFP, na sexta-feira, que a reunião “é um
novo e grande passo para tirar das sombras a Teologia da Libertação”.
Klaiber
destacou que “esta teologia foi revista e aprovada por Bento XVI, mas depois
foi marginalizada (...) pela cúpula vaticana”, onde a Opus Dei exerceu um papel
relevante.
A
reunião do papa com Gutiérrez marca o ponto mais alto até hoje do que se
considera ser a reabilitação da Teologia da Libertação, corrente nascida na
América Latina nos anos 1970 e combatida pelo Vaticano.
O
confronto entre o Vaticano e a Teologia da Libertação remonta ao Pontificado de
João Paulo II, que, em 1979, declarou que “uma concepção de Cristo como
político, revolucionário, como o subversivo de Nazaré não corresponde à
catequese da Igreja”.
O
Papa Francisco, defensor de uma Igreja dos pobres, sempre foi crítico em
relação a estes teólogos pelas mesmas razões que seu antecessor.
Gutiérrez
disse esta semana que as ações do “Papa Francisco me lembram muito o Papa João
XXIII”, que convocou o Concílio Vaticano II que impulsionou mudanças e a
modernização da Igreja na década de 1960.
Gutiérrez
nunca foi censurado nem sancionado pelo Vaticano, ao contrário do que aconteceu
com teólogos brasileiros, como Leonardo Boff.
Fonte:
http://www.ihu.unisinos.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário