A Solenidade
que hoje celebrámos não é um
convite a decifrar a mistério
que se esconde por detrás de “um Deus em três pessoas”; mas é um convite
a contemplar o Deus que é amor, que é família, que é comunidade e que criou os
homens para os fazer comungar nesse mistério de amor.
A primeira leitura sugere-nos a contemplação do Deus
criador. A sua bondade e o seu amor estão inscritos e manifestam-se aos homens
na beleza e na harmonia das obras criadas (Jesus Cristo é “sabedoria” de Deus e
o grande revelador do amor do Pai).
A
segunda leitura convida-nos a contemplar o Deus que nos ama e que, por isso,
nos, “justifica”,
de forma
gratuita e incondicional. É
através do Filho
que os dons
de Deus/Pai
se derramam sobre nós e nos oferecem a vida em plenitude.
O
Evangelho convoca-nos, outra
vez, para contemplar
o amor do
Pai, que se manifesta na doação e na entrega do Filho
e que continua a acompanhar a nossa caminhada
histórica através do Espírito.
A meta final desta
“história de amor” é a nossa inserção plena na comunhão com o
Deus/amor, com o Deus/família, com o Deus/comunidade.
O Espírito
aparece, aqui, como
presença divina na
caminhada da comunidade cristã, como essa realidade que
potencia a fidelidade dinâmica dos crentes às propostas que o Pai, através de
Jesus, fez aos homens. A Igreja de que fazemos parte tem sabido estar atenta,
na sua caminhada histórica, às interpelações do Espírito? Ela tem procurado,
com a ajuda do Espírito, captar a Palavra eterna de Jesus e deixar-se guiar por
ela? Tem sabido, com a ajuda do Espírito, continuar em comunhão
com Jesus? Tem-se
esforçado, com a
ajuda do Espírito,
por responder às interpelações da
história e por actualizar, face aos novos desafios que o mundo lhe coloca, a
proposta de Jesus?
Sobretudo, somos convidados a contemplar o mistério de
um Deus que é amor e que, através do
plano de salvação/libertação do
Pai, tornado realidade
viva e humana em Jesus, e
continuado pelo Espírito presente na caminhada dos crentes, nos conduz para a
vida plena do amor e da felicidade total – a vida do Homem Novo, a vida da
comunhão e do amor em plenitude.
A celebração da Solenidade da Trindade não pode ser a
tentativa de compreender e decifrar essa estranha charada de “um em três”. Mas
deve ser, sobretudo, a contemplação de um Deus que é amor e que é, portanto,
comunidade. Dizer que há três pessoas em Deus, como há três pessoas numa
família – pai, mãe e filho – é afirmar três deuses e é negar a fé;
inversamente, dizer que o Pai, o Filho e o Espírito são três formas de
apresentar o mesmo Deus, como três fotografias do mesmo rosto, é negar a
distinção das três pessoas e é, também, negar a fé. A natureza divina de um
Deus amor, de um Deus família, de um Deus comunidade, expressa-se na nossa
linguagem imperfeita das
três pessoas. O Deus
família torna-se trindade de pessoas distintas, porém unidas. Chegados
aqui, temos de parar, porque a nossa linguagem finita e humana não consegue
“dizer” o mistério de Deus.
As nossas comunidades
cristãs são, realmente, a
expressão desse Deus que é amor e
que é comunidade-
onde a unidade
significa amor verdadeiro,
que respeita a identidade e a especificidade do outro, numa experiência
verdadeira de amor, de partilha, de família, de comunidade?
BILHETE DE EVANGELHO.
O pintor crente Roublev tentou mostrar, numa troca de
olhares, a relação de amor que existe entre o Pai, o Filho e o Espírito: quando
o Pai e o Filho se olham, cada um guarda a sua personalidade e revela ao mesmo tempo a personalidade do outro, e esta relação de amor faz existir o Espírito
que olha o Pai e o Filho, eles próprios deixando-se olhar,
olhando ao mesmo
tempo o Espírito
de Amor que
faz a sua unidade. Muitas vezes basta um olhar para
dizer muitas coisas, basta um olhar para dar de novo esperança, confiança e
vida, basta um olhar para dizer “amo-te!” e ouvir dizer em eco: “amo-te!”
A Trindade é um intercâmbio de “amo-te!” Há unidade e,
ao mesmo tempo, personalidades diferentes: cada um diz “amo-te!” e pode
acrescentar “eu sou amado!” Tal é o segredo da sua existência e da sua
eternidade. Mistério! Não por ser incompreensível, mas por, sem cessar, merecer
ser melhor compreendido. E a Trindade não é o único mistério, a humanidade
também o é, porque criada à imagem de Deus, homens e mulheres capazes de dizer
“amo-te!” e capazes de dizer “eu sou amado!”
(adaptadas
de “Signes d’aujourd’hui”)
É
sempre difícil falar da Trindade, de explicá-la, de descrevê-la… Daí a
importância de prever algum (ou alguns) momento forte de interiorização e de
adoração durante a celebração: depois da homilia… depois da comunhão… Dar
espaço ao silêncio para que a Trindade ecoe em nós.
Fonte: http://www.dehonianos.org/
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