Dom Luigi Negri,
da Arquidiocese de Cremona, líder de longa data da ala conservadora
dos bispos italianos, teria manifestado, em novembro de 2015, juízos severos
sobre o Papa Francisco e suas escolhas para o episcopado. Na
quarta-feira, ele renunciou e foi substituído por um prelado claramente a favor
dos imigrantes. A
reportagem é publicada por Crux, 15-02-2017. A tradução é de Isaque
Gomes Correa.
Um
prelado italiano, que esteve no centro de uma polêmica em novembro de 2015 por
supostamente manifestar o desejo de ver o Papa Francisco morrer, renunciou na
quarta-feira, 15-02-2017, e foi substituído por um padre conhecido por
defender migrantes e
refugiados.
Dom Luigi Negri, de Cremona, que completou 75 anos em novembro passado – alcançando a idade em que os bispos devem submeter o pedido de renúncia ao papa –, tinha sido nomeado para conduzir a arquidiocese italiana no norte do país, localizada na Lombardia, pelo Papa Bento XVI 2012.
Dom Luigi Negri, de Cremona, que completou 75 anos em novembro passado – alcançando a idade em que os bispos devem submeter o pedido de renúncia ao papa –, tinha sido nomeado para conduzir a arquidiocese italiana no norte do país, localizada na Lombardia, pelo Papa Bento XVI 2012.
Um dos
mais experientes do influente movimento católico “Comunhão e
Libertação”, Negri há tempos é visto como um dos líderes da ala
conservadora do episcopado italiano.
Em
novembro de 2015, irrompeu uma polêmica em âmbito nacional quando o jornal Il
Fatto Quotidiano publicou uma matéria de capa que descreveu relatos oculares de
um diálogo que Negri teria tido um mês antes a bordo de um trem em direção
a Roma com o seu secretário pessoal, um padre arquidiocesano.
No
diálogo, o prelado de 74 anos teria dito que esperava que a “Madonna” (Nossa
Senhora) realizasse um milagre e causasse a morte do Papa Francisco, em
referência ao exemplo do Papa João Paulo I, que faleceu depois de apenas
33 dias. Em tese, Negri também disse duras palavras sobre as nomeações
episcopais feitas por Francisco para as dioceses de Bolonha e
Palermo. (Em ambos os casos, o pontífice designou prelados
considerados de centro-esquerda para substituir figuras percebidas como mais
conservadoras.)
Nenhuma
das supostas testemunhas ocupares foram identificadas na reportagem, e ninguém
veio a público afirmar ter ouvido o diálogo. De início, Negri negou a
matéria energicamente, dizendo que se baseava em “invenções” tão fantásticas
que o autor precisa “se tratar dos seus delírios”, e ameaçou acionar
juridicamente o jornal por difamação.
Mais tarde, Negri reconheceu ter tido a conversa, mas insistiu que o “milagre” a que se referia era em relação ao Papa João Paulo II e à crença de que a Nossa Senhora havia redirecionado a bala para salvar-lhe a vida durante a tentativa de assassinato de 1981. Sobre os dois bispos, ele disse que estava fazendo observações históricas e culturais, não condenando-os pessoalmente.
Mais tarde, Negri reconheceu ter tido a conversa, mas insistiu que o “milagre” a que se referia era em relação ao Papa João Paulo II e à crença de que a Nossa Senhora havia redirecionado a bala para salvar-lhe a vida durante a tentativa de assassinato de 1981. Sobre os dois bispos, ele disse que estava fazendo observações históricas e culturais, não condenando-os pessoalmente.
Muitos
italianos, no entanto, acharam os sentimentos expressos na reportagem
plausíveis, no mínimo.
Tempos
atrás Negri serviu como o braço direito de Dom Luigi Giussani,
fundador do Comunhão e Libertação, grupo lançado em Milão no começo
do século XX, prelado visto na época como uma espécie de representante rival da
ala progressista liderada pelo falecido cardeal jesuíta Carlo Maria
Martini. (Quando primeiramente surgiu a notícia dos supostos comentários de
Negri, o movimento emitiu uma nota indicando que desde 2005 ele não ocupava
nenhum cargo de responsabilidade na organização e reafirmando a lealdade do
grupo “a todo gesto e a toda palavra” do Papa Francisco.)
Na
política italiana, Negri é visto como um apoiador do
ex-primeiro-ministro conservador Silvio Berlusconi. Ele também está entre
os prelados pró-vida de maior destaque do país, declarando que não daria a
Comunhão a políticos católicos italianos de centro-esquerda que apoiam uniões
civis homoafetivas.
Quando
foi lançado em 2006 o documento do papa Amoris Laetitia,
Negri esteve entre os bispos que insistiam que o texto não abria as portas para
a recepção da Comunhão a fiéis divorciados e recasados no civil, dizendo: “Se
ele pessoalmente pensa isso e ainda não o disse, vamos aguardar para ver quando
ele dirá, mas não podemos dizer que ele já disse que sim, quando ele não
disse!”
Pelo
que tudo indica, o substituto de Negri em Cremona é um
bispo mais aos moldes do Papa Francisco.
Giancarlo
Perego, 56 anos, serviu anteriormente como diretor de uma fundação chamada
“Migrantes”, agência oficial da Conferência dos Bispos da Itália destinada a
atender os migrantes e refugiados. É também o editor de uma revista publicada
pela fundação, e foi consultor para o Pontifício Conselho para a Pastoral dos
Migrantes e Itinerantes que acabou sendo absorvida pelo novo Dicastério para o
Desenvolvimento Humano Integral.
Antes
disso, por muito tempo Perego foi uma referência para as organizações
caritativas católicas italianas, ocupando uma série de cargos na Caritas.
Em Cremona, Perego herda
uma região da Itália conhecida por nutrir um sentimento anti-imigrante. A
arquidiocese inclui duas pequenas cidades, Goro e Gorino, que em
2016 foram motivos de manchetes por erguerem barricadas contra 12 refugiados
que tentavam entrar no país, incluindo uma mulher grávida e oito crianças. Fonte: http://www.ihu.unisinos.br
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