Na
quarta-feira, 7 de dezembro, o Vaticano declarou que “pessoas com tendências homossexuais” não podem ser admitidas nos seminários
católicos. Isso reafirma uma norma de 2005 aparentemente em desacordo com o
famoso “Quem sou eu para julgar?”, resposta dada pelo Papa
Francisco ao ser perguntado sobre padres gays em 2013. A reportagem é de Michael
O’Loughlin, publicada por America, 07-12-2016. A tradução é de Isaque
Gomes Correa.
O
documento, intitulado “O dom da vocação presbiteral”, foi elaborado pela Congregação para o Clero e apresenta
diretrizes gerais para a formação sacerdotal. Além de várias citações do Papa
Francisco, o documento baseia-se fortemente nos escritos de São João Paulo
II e do Papa Bento XVI.
Três
dos 210 parágrafos do documento são dedicados a “pessoas com tendências
homossexuais” que desejam se tornar padres, sustentados principalmente em um documento de 2005 que
proíbe candidatos com “tendências homossexuais profundamente radicadas”.
O Papa
Francisco aprovou o documento, segundo uma carta assinada pelo Cardeal
Beniamino Stella, que preside a Congregação para o Clero.
Citando
o ensinamento de 2005, o novo texto diz que os homens “que praticam a
homossexualidade, apresentam tendências homossexuais profundamente radicadas ou
apoiam a chamada ‘cura gay’” não podem ser admitidos aos seminários.
Segue
dizendo que “estas pessoas encontram-se, de fato, numa situação que constitui
um grave obstáculo a um correto relacionamento com homens e mulheres”.
“De modo algum, se hão de descuidar as consequências negativas que podem derivar da Ordenação de pessoas com tendências homossexuais profundamente radicadas”, diz.
“De modo algum, se hão de descuidar as consequências negativas que podem derivar da Ordenação de pessoas com tendências homossexuais profundamente radicadas”, diz.
Mas
aqueles que expressam uma atração “transitória” a outros homens poderiam ser
admitidos aos seminários, lê-se no documento, repetindo novamente o documento
de 2005, embora tais tendências “devem estar claramente superadas, pelo menos
três anos antes da Ordenação diaconal”.
A
Igreja permite que bispos individuais, reitores de seminários e superiores de
ordens religiosas selecionem candidatos para as ordens santas, e como uma
consequência as diretrizes emitidas em 2005 vêm sendo implementadas de maneiras
amplamente diversas.
Em
alguns exemplos, as pessoas encarregadas pela entrada nos seminários e em
ordens religiosas, assim como aqueles encarregados pela formação sacerdotal,
interpretam que gays estão proibidos de ser admitidos em seminários
católicos.
Em
outros, os homens que fizeram da homossexualidade a sua identidade primeira, ou
que têm apoiado abertamente aquilo que o Vaticano chama de “a chamada
cultura gay”, são barrados.
Mas uma
terceira interpretação tem sido a de que os homens que se identificam como gays
podem entrar na medida em que não ajam com base em seus desejos e mantenham os
votos de castidade ou promessas de uma vida celibatária. (Embora haja raras
exceções, tais como padres casados vindos de outras tradições religiosas que se
tornaram católicos, em regra todos eles devem praticar o celibato.)
Por
exemplo, o Cardeal Timothy Dolan, arcebispo de Nova York e
ex-reitor do Colégio Norte-Americano em Roma – residência para
seminaristas americanos –, disse em 2005 que gays que satisfizessem todos as
exigências do Vaticano “não deveriam se sentir desencorajados” a se
tornarem padres.
O novo
documento diz que os gays que procuram entrar para o seminário devem ser
honestos com os seus diretores espirituais, “numa relação de diálogo sincero e
de recíproca confiança”, e que, por sua vez, as autoridades eclesiásticas têm o
dever de “dissuadir” esses candidatos de prosseguir para a ordenação.
Essa
linguagem, barrando os gays ao sacerdócio, veio à luz primeiramente em 2005 com
o Papa Bento XVI, tendo sido elaborada logo após romper os escândalos de
pedofilia clerical no começo dos anos 2000.
Na
época, alguns analistas disseram que as lideranças católicas estariam tentando
associar estes escândalos a padres homossexuais, muito embora a psicologia e
especialistas em direito dizem não haver ligação entre homossexualidade e abuso
sexual infantil.
Uma
carta divulgada com o documento em 2005 dizia que os padres gays teriam a permissão para continuar no
ministério, mas que não deveriam trabalhar na formação dos atuais seminaristas.
Em
2008, o Vaticano emitiu uma atualização, que afirmava que os
responsáveis pela supervisão dos processos de formação de futuros padres devem
olhar para “áreas de imaturidade”, incluindo “identidade sexual incerta” e
“tendências homossexuais profundamente radicadas”, ao determinarem a adequação
dos candidatos ao sacerdócio.
No novo documento, os parágrafos sobre sacerdotes gays aparecem entre uma seção sobre os seminaristas que sofrem de problemas psíquicos e seminaristas considerados ameaças a menores de idade.
No novo documento, os parágrafos sobre sacerdotes gays aparecem entre uma seção sobre os seminaristas que sofrem de problemas psíquicos e seminaristas considerados ameaças a menores de idade.
Não
existem dados estatísticos confiáveis sobre o número de padres nos EUA que
são gays. Mas o padre jesuíta James Bretzke, professor de teologia moral
na Boston College, disse em 2013 que “é um fato empírico que muitos homens
gays são padres. E que eles são padres muito bons”.
“Eu
também faria a observação de que o número de gays e lésbicas no ministério
católico é provavelmente maior do que na população geral, exatamente porque
eles não estão em busca de se casar”, afirmou o professor na ocasião.
O novo
documento vaticano, datado de 8 de dezembro – Festa da Imaculada Conceição –,
foi elaborado na primavera de 2014, cerca de um ano após o Papa Francisco ser
eleito. Ele então passou por várias rodadas de edição após sugestões de vários
dicastérios romanos e bispos de todo o mundo. Fonte: http://www.ihu.unisinos.br
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