Nathan Lopes
Do UOL, em São Paulo
A fanpage do UOL Notícias no Facebook compartilhou um texto do jornal português "Público" que
analisava o julgamento de crianças e adolescentes que cometeram crimes. Com a
pergunta "Menores devem ser julgados em tribunal de adultos?", o post
teve mais de 420 comentários. Entre uma série de respostas com "sim",
"sem dúvida" e "com certeza", houve um "não",
dito pela psicóloga Erika Andrade. Foi o que bastou para ela começar a ser alvo
de outros internautas que discordavam da posição dela.
Sim, mas não me importei
9,38%
Sim, e retruquei
65,62%
Não, e nem ligo para o que pensem sobre minha
opinião
3,12%
Depende da opinião
0%
Não gosto de opinar nas redes sociais
21,88%
32 votosVotar
Entre os comentários sobre a fala de Erika,
sobressaiu-se o de uma internauta: "espera ele matar a sua mãe ou um filho
seu para ver se vai continuar pensando assim". A psicóloga respondeu:
"Sim, continuarei". O contra-argumento da internauta --que chamou a
psicóloga de "lixo de ser humano"-- foi que Erika seria uma pessoa
que "deixou o Satanás entrar no couro". A resposta? "Se quiser,
podemos falar sobre estatísticas. Nenhum país que reduziu a maioridade penal diminuiu o índice de crime praticado por
menores, muito pelo contrário. Ou seja, alternativa burra. Mais argumentos?
Tenho mil".
Respeitar uma opinião divergente tem sido algo cada
vez mais raro nas redes sociais. Para a professora da FESPSP (Faculdade de
Sociologia e Política de São Paulo) Rosemary Segurado, quando uma pessoa é
qualificada como "lixo" por uma opinião afeta-se a sociedade. "A
gente perde a raiz, a essência do debate por uma intolerância a quem pensa
diferente. Isso é muito grave".
O professor e pesquisador do CTS (Centro de
Tecnologia e Sociedade), da FGV Rio, Eduardo Magrani concorda. "Temos um
problema grave de polarização em debate online. As pessoas no Brasil estão
acostumadas a debater com quem pensa como elas", diz o autor do livro
"Democracia Conectada - A Internet como Ferramenta de Engajamento
Político-Democrático".
Repensar
No caso de Erika, o ambiente hostil que aquela área
de comentários estava se tornando ao pensamento dela não a assustou. "Não
tenho medo, acho importante mostrar a minha opinião. Talvez eu consiga quebrar
alguns tabus ou fazer com que algumas pessoas repensem acerca da temática de direitos
humanos", disse Erika ao UOL.
Ela também não se sentiu atacada. "Uma coisa
que aprendi a desenvolver, nesses longos anos de psicologia, foi a empatia.
Tento me colocar no lugar desta pessoa. Quem sabe ela já não teve muitas
experiências negativas com esse tipo de situação? Mas não justifica ofender o
outro. As pessoas têm dificuldade em dialogar", afirma.
Essa não foi a primeira vez que Erika foi ofendida
na internet. E nem deve ser a última. "Creio que na internet seja mais
difícil [haver um debate produtivo]. É um espaço em que as pessoas costumam
falar o que querem e que, dificilmente, ouvem e buscam compreender o
outro".
Mas, mesmo que seja difícil, precisamos debater,
ouvir algumas ofensas e tentar assim, ser um dispositivo de mudança"
A nova experiência deve fazê-la pesquisar mais
sobre o comportamento das pessoas na rede. "Pretendo ler, em breve, 'O Que
Aprendi Sendo Xingado na Internet', do Leonardo Sakamoto [blogueiro do UOL].
Talvez me ajude a lidar melhor com isso", brinca. "As redes sociais
são de extrema importância para discussão e propagação de ideias, mas creio que
tudo isso precisa ser de forma respeitosa. E que as pessoas busquem compreender
um pouco do assunto antes destes debates".
Alvo
Sakamoto, inclusive, é alvo constante nas redes
sociais por suas opiniões. Hoje, porém, o blogueiro do UOL até brinca
com isso. Ele criou a camiseta "Grandes Pensamentos de Comentaristas Estranhos na Internet" com
todas as ofensas que já ouviu: de "Volta pra Cuba!" até "Tá com
dó? Leva pra casa!". "Muitos interpretam opiniões com críticas feitas
por terceiros como discursos de ódio. E, ao mesmo tempo, acreditam que os
discursos de ódio que eles mesmos proferem são apenas críticas e opiniões. Ou
seja, ódio é tudo aquilo com o qual não concordam", avalia Sakamoto.
Por suas análises na internet, o blogueiro já foi
alvo de pessoas contrárias à sua opinião, inclusive com ameaças de morte.
"Os piores casos são aqueles que transbordam para fora da internet e
atingem a vida pessoal, como quando você é xingado na rua, perseguido no
supermercado, stalkeado na casa lotérica, cuspido em cruzamentos ou agredido
fisicamente por bandos que te reconhecem".
Sakamoto, porém, não se esquece de quando "uma
grande empresa frigorífica pagou, anonimamente, anúncios no Google" para
difamá-lo.
As mentiras correram a rede, fazendo com que muitas
pessoas acreditassem e duvidassem da minha honestidade"
"Fui xingado na rede, atacado na rua,
escrutinado por autoridades --para depois de um longa investigação, relatada
pelo jornal Folha de S.Paulo, ser revelado que tudo começou com uma calúnia paga e distribuída online", lembra o blogueiro.
Boa educação à parte, é sempre bom lembrar que
autores de injúria, calúnia, difamação, ameaça, por exemplo, também podem ser
punidos casos os crimes ocorram no ambiente virtual. "Valem as mesmas
regras do mundo físico", comenta Magnani. Dependendo do crime, a pena pode
chegar a até dois anos de detenção (em caso de calúnia, por exemplo) ou multa.
O Ministério da Justiça nem o CNJ (Conselho
Nacional de Justiça) têm um levantamento específico sobre esses crimes no mundo
virtual.
As dicas de
Sakamoto
Mas se você for ofendido online por ter determinada
opinião, siga estas dicas de Leonardo Sakamoto:
respire fundo, conte até três, tome uma água,
enfim, acalme-se;
não caia na provocação de responder da mesma forma
(isso serve apenas para realimentar um ciclo de raiva);
se você tiver tempo, vale a pena tentar abrir um
diálogo respeitoso com alguém que te atacou: o resultado pode ser
surpreendentemente bom;
se não funcionar, não se estresse: deixe o
semovente em questão falando sozinho;
caso ele seja insistente e comece a ser violento,
dê uma de Dona Florinda ("Tesouro, não se misture com essa gentalha")
e bloqueie-o;
se, ainda assim, ele continuar, sugiro que denuncie
o caso à rede social e/ou à Polícia Civil. Fonte: www.uol.com.br
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