*Dom Frei
Vital Wilderink, O Carm, In Memoriam.
A nossa existência humana não é uma realidade
óbvia, algo que nos é devido.Vivemos no espaço e no tempo.; temos um passado,
um presente e um futuro. Não nos possuímos plenamente: freqüentemente temos a
impressão de estarmos juntando fragmentos. A nossa vida parece um tecido feito
de interrogações e respostas, estas últimas se abrindo em novos
questionamentos. Ao mesmo tempo, porém, sentimos que vida é um convite a uma
responsabilidade nossa. Responsabilidade cujos contornos dependem da
perspectiva e do sentido que atribuímos à mesma vida. Responsabilidade supõe
uma liberdade. Para Sartre, filósofo e escritor francês, a liberdade era o
fundamento do homem no seu "être-au-monde". Mas para ele que afirmava
que a existência do homem "nasce sem razão, se prolonga por debilidade e
morre por acaso" a liberdade deveria reduzir-se a uma piada absurda que,
como revelam os heróis de seus romances, lhe corroia a vida. Nesta perspectiva
o aceitar-se a si mesmo significa uma condenação.
Romano Guardini
escreveu um livro que na sua versão em italiano tem como título Accettare se stessi[1]. Em todos os escritos de Guardini há um
motivo condutor: oposição ou tensão em tudo que tem vida; portanto também na
vida do homem. Para Guardini o problema do homem moderno está em considerar
Deus como o oposto oprimente que se opõe à existência de todo indivíduo, ao
invés de ver nele a origem e o sustentador de tudo que é vida[2]. Ao
falar da razão da existência do homem, Guardini já abre uma perspectiva
mística:
Io... ho ricevuto me stesso. Al princípio della mia esistenza... non sta
una decisione di essere, presa da
me stesso. Tanto meno semplicemente ci sono, senza che necessiti di alcuna decisione di essere... Bensì al principio
della mia esistenza sta un'iniziativa, un.Qualcuno,
che ha dato me a me stesso. In ogni caso sono stato
dato, e dato come quest'individuo determinato[3].
Na medida em que esta verdade for aceita, não
só intelectualmente mas também afetivamente, a consciência da pessoa vai se
tornar mais abrangente; o que não deixará de atingir o dinamismo da sua vida. Quem
encontra, pela fé, uma iniciativa de um amor que preferiu a nossa existência à
nossa não-existência, começará a encontrar na sua história sinais de uma
presença, um sentido, um chamado. É uma descoberta-constatação que vai
germinando e desenvolvendo uma consciência vocacional para a partir dela
escrever a sua própria história. Como posso ser chamado se o próprio chamado
não me oferece a habilidade de responder, uma responsabilidade? Evidentemente,
trata-se de uma busca feita às apalpadelas. A vida que nos foi dada é o único
espaço que oferece a possibilidade para um encontro com Deus porque seu amor
criador está intimamente entrelaçado com a nossa própria vida. É um terreno velado que pede ser desvelado. Sem velo não
pode haver revelazione. O próprio ser
é um velo que ao mesmo tempo manifesta a realidade e a esconde. O que faz
entender por que o salmista suplica que o próprio Deus faça nele o
discernimento necessário para fazer o caminho certo: "Scrutami, o Dio, e
conosci il mio cuore; saggiami e conosci i miei pensieri. Vedi se c'è in me uma via di menzogna e guidami
nella via eterna" (Sl 139,23-24).[4]
O salmista tem consciência da presença de Deus: "Alle spalle e di fronte
tu mi stringi, tu poni su di me la tua mano" Sl 139, 5). Mas, ao mesmo tempo, sente que não consegue
captá-la porque não se trata de um "objeto" que pode ser
sistematizado e atingido pelas potencialidades humanas: "Stupenda è per me
la tua conoscenza, talmente alta che no riesco a raggiungerla"(Sl 139,6).
O discernimento visa a práxis da nossa vida: uma decisão, uma
escolha, uma ação concreta.. O discernimento, enquanto define a nossa história
numa dimensão ou tomada de posição, envolve a nossa vida toda como relação com
Deus. O discernimento é um olhar ao mesmo tempo para dentro e para fora. É um
mover-se para Deus presente no mais íntimo do nosso ser. Não posso, porém,
contemplar Deus em mim se não consigo descobri-lo nos que comigo são criaturas
humanas, e na natureza e no universo.
Na nossa reflexão sobre
mística e discernimento vamos seguir dados biográficos de Tito Brandsma,
carmelita místico, figura ainda próxima à nossa geração. O que poderá iluminar
o tema que nos ocupará nestas páginas.
Tito Brandsma:
homem de seu tempo
Ainda recentemente um
historiador holandês anunciou um projeto seu de escrever uma nova biografia de
Tito Brandsma.[5] O que
motivou o escritor foram não só seu estudo de inúmeras fontes que oferecem
novos dados, mas também a importância- de uma visão mais crítica da vida e do trabalho
desse carmelita que corresponda mais à realidade dele mesmo e da época
turbulenta em que ele viveu. A personalidade de Tito seria mais complexa do que
a imagem que dele durante decênios foi apresentada à admiração e à devoção
pública. A compreensível emoção provocada por sua morte, teria comprometido a
visão da realidade. Isto seria uma pena. Jamais deve-se despojar Tito Brandsma
da sua humanidade com as contradições e limitações que ela possa apresentar. Do
contrário perderia seu interesse para a geração de hoje. Tito é uma figura
suficientemente pura para passar por essas provas críticas.
É evidente que não
podemos privar uma pessoa espiritual ou mesmo santa, da sua humanidade. Não
sobraria nenhuma possibilidade para falar da sua espiritualidade ou santidade
que não teriam nenhum significado histórico. Espiritualidade sem história não
existe e é só a partir da sua história que pode ser conhecida e descrita. Daí o
caráter interdisciplinar da espiritualidade como ciência. A experiência da
nossa relação com Deus sempre supõe um contexto histórico caracterizado por
determinados fatores culturais.
O discurso que Tito
Brandsma, como reitor magnífico pronunciou, em 1932, no dies natalis da Universidade Católica de Nijmegen sobre o conceito ou
imagem de Deus, conserva uma atualidade surpreendente. Na época a formação
teológica trazia o carimbo da neo-escolástica caracterizada por uma linguagem
especulativa e abstrata. Falava-se de Deus como se tratasse de uma espécie de realidade
eterna, atemporal e imutável sobre a qual a nossa busca de peregrinos não tinha
muito a dizer. Insistia-se, sem dúvida, na prática das virtudes, mas, como Tito
diz no seu discurso, não sem perigo de reduzir a vida espiritual a uma prática
exterior. Para Tito, porém, Deus não independe de formas humanas de
conhecimento que são marcadas pelo tempo e pelo contexto. Neste ponto o
professor Brandsma quer insistir na necessidade de uma abertura em relação a
novas evoluções na espiritualidade.[6]
"Credo che sia nostro dovere
guardare attorno a noi al fenomeno della negazione di Dio. Non perché,
innanzittutto, dobbiamo assumere verso di esso un atteggiamento di difesa;
bensì, a causa di questo fenomento, trarre motivo per far conoscere l'immagine
di Dio in forme nuove, per adattarne il concetto alla cultura moderna. In modo tale che dalla ricchezza di questo concetto
venga messa in evidenza quell'aspetto della grandezza del nostro Dio che più
oggi affascina... Vi è una così grande ricchezza di aspetti sotto i quali si può
considerare l'immagine di Dio, che dobbiamo stare attenti a non appoggiarci
troppo sul vecchio e a non ritenere sufficienti le immagini tradizionali. Tempi
nuovi richiedono forme nuove....Non basta insistere sull'esigenza di mettere in
pratica la fede in Dio e impegnarci in questa direzione: occorre di più. Dobbiamo
comprendere il nostro tempo e non
estraniarcene. Anche noi siamo figli del nostro tempo: siamo-lo con chiara
conscienza! Lasciamo che il tempo attuale agisca su di noi con quanto di buono
ha"[7].
Neste tempo de
transformação o discernimento torna-se uma necessidade. O conceito de Deus na
nossa época tem um caráter
pragmático. A verdade para o homem moderno é pragmática. O que explica porque
muitos se afastam de Deus e que muita injustiça existente no mundo é
considerada uma realidade evidente. Além disto a imagem que se tem de Deus tem
caráter intuitivo. Mas freqüentemente a intuição não é mais que o resultado de
um simples raciocínio que se tornou inconsciente: o hábito torna-se uma segunda
natureza.
Tito Brandsma iniciou seu discurso com a seguintes
palavras: "Tra le numerose domande che mi pongo, nessuna me preoccupa di
più della questione perché l'uomo con il suo sviluppo e nella fierezza
orgogliosa del suo progresso, si allontani in cosi gran número da Dio".A
época dos anos 20-30 que marcaram mais a atuação de Tito, já era uma época de
mudanças. Já se falava do
aparecimento de uma "sociedade aquisitiva". Nos dias atuais
percebemos que a história se acelerou. As mudanças se tornaram vertiginosas, comunicando-se
a todos os cantos do mundo, configurando uma mudança de época, mais que uma
época de mudanças. É um fenômeno que afeta a vida dos povos e o sentido
religioso e ético dos que buscam o rosto de Deus, mas que são desafiados por
novas linguagens do domínio técnico. É muito significativo o título do livro
escrito em 1977 por Erich From: "Ter ou Ser" mostrando que são os
BENS, não mais o "bem" ou os valores que constituem o eixo
articulador da organização social. É uma caça de bens, não em vista de
necessidades, mas em vista de desejos de possuir[8].
O que Tito defende como
necessária para o nosso tempo é "a contemplação de tudo que existe na sua
dependência de Deus e na sua origem em Deus" É ver assim a sua ação,
discernir assim o seu Ser, antes de tudo em nós mesmos.
Os homens devem reencontrar
Deus e viver na sua contemplação. Chamam isto de mística: que seja! Até aceito
com satisfação se nisso posso ver a expressão da verdade de que na mística
podemos observar o progresso ulterior e mais alto daquilo que potencialmente
foi depositado na natureza humana..Contanto que se saiba que a realização dessa
potencialidade só acontece por especial graça divina. De nenhuma maneira ela é
em conflito com a natureza; pelo contrário, é vocação da natureza humana ver a
Deus como o mais alto que ela possa conhecer. É lamentável que isso não seja
mais entendido"[9].
Percebe-se que o discurso de Tito Brandsma segue
um caminho que partindo da filosofia, passa pela teologia para chegar à
mística. Não recorre a uma retórica que arrasta os auditório.. O pensamento de
Tito em movimento para o mistério de Deus é simples e toca o interior dos seus
ouvintes.Um dos colegas-professores de Tito, o jesuíta Jacques van Ginneken,
observou depois de ouvir o discurso: "Se não me engano, havia no discurso
de Brandsma tonalidades da sua própria experiência mística"
Tito Brandsma aos olhos do povo
É evidente que uma figura como a de Tito
Brandsma não poderia revelar seu significado tirando-a do seu próprio contexto
histórico. De outro lado, a sua memória, ao passar para a posteridade, será
marcada por enfoques preferenciais de outros contextos históricos.
Principalmente quando se trata de um santo, é o próprio povo devoto que vai
revesti-lo de acordo com as suas preferências.
É compreensível que uma
primeira imagem que se formou de Tito Brandsma, principalmente na sua pátria,
foi a de um herói da resistência contra o nazismo. Já na década dos anos 30,
através de cursos e palestras, Tito havia combatido fortemente a ideologia
nazista que ganhava terreno na Alemanha e não deixava de suscitar partidários
na própria Holanda. Arrestado pela polícia do Serviço de Segurança em janeiro
de 1942, Tito fez uma dolorosa peregrinação por várias cadeias e campos de
concentração para morrer no campo de Dachau onde lhe administraram uma injeção
de ácido fenico, metodo più sbrigativo per stroncarne l'ultimo filo di vita. A
enfermeira que executa o serviço, convertida mais tarde, será uma testemunha
importante no processo de beatificação.Em mais de 35 cidades como gesto de
homenagem civil ao herói da resistência, existe uma praça ou uma rua que tem o
seu nome. É provável que, ao passar das gerações, o nome da rua vai servir mais
para identificar os moradores do que o herói de um passado sempre mais longínquo..
Já em 1944, quando a
ofensiva dos aliados consegue libertar o sul da Holanda da ocupação inimiga, é
publicada uma oração escrita em forma de poesia por Tito na prisão de
Scheveningen. A tiragem de 50.000 exemplares se esgota em pouco meses. Alimento
para a devoção popular, a poesia não deixa de irradiar uma proximidade
escondida: O Gesù quando te guardo/sento rivivere il mio amore per te/e che
anche il cuor tuo mi ama/perfino come a un grande amico.... São palavras que
traduzem uma certeza que fazem supor a ameaça do incerto que lhe espreitava de
todos os lados. Afinal as palavras de Cristo para os que querem segui-lo,são normalmente
traduzidas em situações não esperadas:
"Le volpi hanno tane e gli uccelli del cielo nidi, ma il Figlio dell'uomo
non há dove reclinare il capo" (Mt 8,20)
Aparecem depois as
primeiras biografias. Algumas, principalmente na Itália, Espanha e em paises de
língua inglesa acentuam, pelo menos no seu título, o papel de Tito junto aos
jornalistas e à imprensa católicos na Holanda[10].
Ele estimava muito a carteira pessoal de jornalista, que lhe foi conferida pela
Federation Internacionale des Journalistes.
Aliás foi por causa de sua atuação como assistente eclesiástico nacional dos
jornalistas que Tito foi preso. Em acordo com o Arcebispo de Utrecht, ele
procurou convencer as direções e redações dos jornais católicos a não publicar
material do Movimento Nacional Socialista Holandês como lhes havia sido
imposto.. E não hesitou em confirmar durante os interrogatórios, mesmo por escrito,
as razões por que o povo holandês, especialmente a parte católica, se opunha ao
Movimento Nacional Socialista Holandês.
A Família carmelitana
identifica nele a herança de sua tradição. Na estátua de bronze que a
Universidade Católica de Nijmegen lhe ergueu, Tito aparece vestido do habito de
carmelita e segurando no braço esquerdo sua beca de professor catedrático.
Outros, interessados em
cultura no sentido tradicional da palavra, preferem concentrar-se na atuação de
Tito no mundo do ensino, dos estudos, nas reuniões de estudiosos da mística, na
edição de textos manuscritos, em projetos para instituições universitárias,
etc. Não é de admirar que na Holanda cerca de 35 escolas têm o nome de Tito
Brandsma nas suas portas de entrada.
Para o próprio Tito
cultura era também entrar em contacto com pessoas concretas, dialogando sobre
suas alegrias e tristezas, sobre seu desânimo e esperança. Era escutando que
ele conseguia discernir os valores presentes na fé do povo simples, muitas
vezes desprezados pelos intelectuais.
Educado numa família
apegada às tradições, num país em que os católicos procuravam emancipar-se
também na vida social e política, a coesão era uma exigência. Daí a fidelidade
de Tito ao estilo religioso da sua vida, a sua obediência aos que exerciam o
ministério episcopal, e a seriedade na execução das missões e tarefas que lhe
tinham sido confiadas. Tito Brandsma movia-se, sem dúvida, dentro de uma
cultura da palavra dada que não permitia retrocessos. Até o oficial nazista que
o submeteu ao interrogatório reconheceu que Brandsma "se manifestou na sua
firme convicção um homem de caráter". Por isto mesmo ele era "um homem
perigoso" para o nacional socialismo. O oficial do Serviço de Segurança
envia seu veredicto aos seus superiores em Berlim: "Parece-me uma
necessidade evidente que o professor Brandsma seja internado num campo de
concentração por tempo prolongado". Pode ser que a tenacidade de Tito
fosse um traço herdado dos seus antepassados. Afinal ele era filho da Frísia. O
próprio Tito, sorridente, não teria negado essas atribuições, mas teria dado
razões mais profundas que aparecem em palavras suas: "Quem quer conquistar
o mundo para Cristo, deve ter a coragem de entrar em conflito com esse
mundo".
É normal que cada
admirador e cada devoto do beato Tito Brandsma tenha dele uma imagem. Tomás de
Aquino já dizia que "a nossa oração será sempre, de certo modo, a
intérprete do nosso desejo junto de Deus, e que na oração só podemos pedir com
retidão o que com retidão podemos desejar"[11]. O
importante é que a vontade não se fixe nas suas próprias projeções mas que se
dirija para Deus [12]. A
devoção não tem somente um pólo divino, mas também um pólo humano. Os santos se
tornam significativos na medida em que lhes apresentamos as interrogações que
temos como filhos do nosso tempo. Cada época tem a sua cultura. Mas a questão
fundamental não é a cultura, mas está na experiência da fé. Sem uma experiência
da fé não há mensagem a ser inculturada. Se não houver uma experiência da fé, a
"inculturação" não será outra coisa que uma pirotecnia eletrônica
cujo intento consiste em alcançar e agradar às pessoas[13].
Na capela comemorativa,
levantada em Nijmegen em atenção a Tito Brandsma, há um caderno em que os
devotos podem anotar as suas intenções. Com confiança recorrem ao Beato Tito
expondo as suas necessidades: cura de doenças, uma operação cirúrgica que
preocupa, uma crise familiar, procura de um emprego, as provas finais no
colégio... Também não faltam os agradecimentos "ao bondoso padre
Tito"..."ao querido Tito" pela ajuda recebida. Outras intenções
mostram Tito Brandsma como diretor espiritual, como mistagogo: "Beato
padre Tito, reze pelas pessoas que estão caminhando para Deus, Beato Tito
ajude-me para encontrar Deus e me entregar, querido padre Tito, continue a me
acompanhar..."[14].
O homem místico
Tito Brandsma é mais que herói da resistência,
é mais do que professor universitário. Outros
já o disserem. Principalmente em torno da sua
beatificação, em 1985, o acento começa a cair na dimensão mística da vida de
Tito. O impulso nesta direção se deve em grande parte ao Instituto de
Espiritualidade Tito Brandsma, ligado à Universidade de Nijmegen. Meio ano
antes da beatificação o Instituto organiza um simpósio: Tito Brandsma e a
Mística.
Foram, sem dúvida, os
últimos seis meses de sua vida, passados em cadeias e campos de concentração
que atraíram a atenção do grande público. É, porém, evidente que a vida mística
de Tito não se limita a esse último período da sua vida. Tito Brandsma era muito discreto no que se referia
à sua vida espiritual. Não deixou nenhum diário que possibilitasse seguir o
itinerário espiritual dele. Os poucos escritos que permitem um olhar na sua
vida interior foram escritos na sua cela de prisioneiro. Citemos alguns testemunhos
de contemporâneos que o conheceram de perto, não deixam dúvidas de que Tito era
um místico. É o caso dum escritor que durante alguns anos tinha freqüentado na
universidade as aulas de Tito sobre a história da mística: "Quando ele
falava da história da mística, percebia-se que muito daquilo fazia parte da sua
própria experiência". Já em 1939 um professor colega de Tito na
universidade o caracterizava como "um místico em plena vida interiormente
unificado". E no campo de concentração em Dachau um religioso capuchinho,
prisioneiro como Tito: "Ele não era somente um profissional em matéria de
mística, pois estou convencido que ele mesmo também tinha experiência". E
longa a lista de confrades, amigos e conhecidos, mesmo não católicos de Tito
que declararam que nos seus estudos, cursos, homilias, retiros, publicações
manifestava-se a sua paixão-predominante: buscar a Deus para viver unido a Ele[15].
Para Tito a mística não
é um artigo avulso, nem uma fuga do mundo. É evidente que não existe mística
sem história. Não parece que o professor Brandsma quis entrar no campo de
batalha entre as diversas teorias sobre espiritualidade e mística. Se estas várias
teorias de um lado mostram um grande interesse pelo movimento místico, às
vezes, até com válidas contribuições, de outro lado não deixam de alimentar a
confusão sobre certos temas da espiritualidade e da mística. Mas isto pertence
ao bom tom científico. É possível que, por causa disto, segundo a opinião de
outros profissionais na matéria, faltasse um rigor científico nas publicações de
Tito. Para Tito a mística constituía a meta da sua vida. Já se vislumbrava isso
no jovem noviço frei Tito, empenhado em traduzir e publicar textos de Teresa de
Ávila.. Bem mais tarde, no artigo sobre os Carmelitas que ele escreveu para o Dictionnaire de Spiritualité ele cita o Livro dos primeiros monges, considerado durante séculos como a
Regra original do Carmelo. para provar que o caminho da união com Deus e a
contemplação infusa são apresentadas como finalidade da Ordem. E que o
carmelita não se restringe a transmitir aos outros as coisas contempladas, mas é chamado a transmitir aos outros a práxis
da própria contemplação[16].
Para Tito existe uma
unidade, um entrelaçamento harmonioso entre mística e atividade. A experiência mística pode encontrar o seu ponto
de partida e seu solo nutritivo também na realidade terrestre e por meio desta.
Essa realidade - uma ação, uma opção, um encontro, um acontecimento – supõe um
envolvimento e atuação da nossa natureza e das nossas potencialidades humanas, mas
a experiência mística supõe um dom absolutamente gratuito de Deus. Não são duas
vidas de um só sujeito, mas uma só vida de dois sujeitos: é a minha vida e a
vida de Deus em mim. É uma experiência que atinge o homem até o seu intimo mais
intimo, fazendo-o entrar num processo de transformação. Cabe a nós, com a
devida prudência humana direcionar e estruturar essa vida de acordo com as
nossas opções e com a visão que temos das coisas. Mas neste nosso direcionamento
da vida opera a condução divina do Espírito Santo. Sendo assim, a nossa vida de
fé torna-se sempre mais uma vida de Deus em nós, inconscientemente guiada pela
sabedoria de Deus que nos sustenta.[17] É
com o amor com que Deus nos ama que o místico vai ao encontro do mundo.Trata-se
de um conhecimento de Deus que, como diz o Cardeal Newman, não é nocional, mas
real, o que supõe uma conaturalidade Há
quem fala de simpatia infusa, ou como dizia. Aelredo di Rievaulx diria "Dio è
amicizia"[18].
Mística e discernimento
Não se pode negar que, em certo sentido, o
místico vive em dois mundos: o mundo que todos conhecem, e o mundo a partir do
qual ele realmente vive. É precisamente esta tensão entre dois pólos que
constitui a sua biografia espiritual. No seu discurso sobre a imagem de Deus em outubro de 1932, Tito Brandsma se
interrogava: "Come mai l'immagine di Dio
è cosi resa scialba, tanto che molti non ne restano più colpiti? C'è
mancanza soltanto da parte loro? O si richiede qualcosa anche a noi affinché
risplenda questa immagine nuovamente sul mundo di una luce chiara?" É a hora do discernimento. Não é possível fazer
um discernimento fora da história. Se não estivermos atentos ao contexto da
nossa vida como encontrar Deus no fundo da própria existência? Tito reconhece que
na sua época existe uma corrente desastrosa. Não basta, porém, constatá-la. É também
preciso descobrir e fortalecer as perspectivas positivas que ela abre. Neste
ponto ele chama a atenção para o interesse pela mística que se manifesta em
numerosas publicações sobre este e outros temas afins, que não deixam de
apontar para uma sensibilidade e aspirações mais profundas. É o caso de
filósofos e teólogos católicos tomarem consciência da sua missão especial: acompanhar
passo a passo a direção que o pensamento da época está tomando. É para que
todos percebam que é por esse caminho que podem e devem unir-se mais
intimamente a Deus. Tito
completa neste ponto o seu pensamento:
"Affinchè tutto questo
diventi realtà non possiamo considerare il mistico come qualcuno che sta fuori
della vita. Anzi, chiunque vive la storia e ne porta il peso con responsabilità,
deve sentire come suo primario, supremo compito, arrivare alla conoscenza di sé
stesso: la più difficile ma anche la più bella di tutte le imprese umane. E
attravrso il suo intelletto guingere ad incontrare Dio nella profondità della
propria esistenza. Lì si deve arrivare.
Possa pure l'acqua della esistenza essere intorpidita dalle burrasche della
vita! Tornerà la quiete, lo sguardo pacificato andrà nella profundità: lì
saremo capaci di vedere Dio. Dio può essere conosciuto nel nostro intimo, dove
possiamo vederlo e vivere nella sua contemplazione. Questa contemplazione influenzarà
in tutta la nostra condotta. Dio allora si manifestrarà anche nelle nostre
opere.(...) Non basta insistere sul vivere nella prática la nostra fede e
stimularci a questo: occorre fare di più. Dobbiamo capire il nostro tempo e non
isolarci dalla sua influenza. Anche noi siamo figli del nostro tempo. Siamolo
con chiara coscienza e esponiamoci con libertà ai suoi buoni incentivi"[19]
É evidente que na presente reflexão os termos discernimento e discrição que lhe é afim não são entendidos num sentido comum,
referente a um dado puramente natural e sempre necessário a quem se move na
vida social. No contexto que nos ocupa, eles fazem lembrar as palavras
relatadas no evangelho de João:"Quando verrà lo Spirito de verità, egli vi
guidarà in tutta la verità" (16,13).
Discernimento é busca
da verdade. Os textos escritos que dão acesso ao pensamento de Tito Brandsma, como
também a sua atuação em diversos campos de pastoral evidenciam que para ele a
verdade conotava sempre uma relação. Se a busca da verdade não comporta um
entrar no jogo daquilo que eu mesmo sou, não haverá verdadeira busca da
verdade. Pode ser uma busca de congruência entre sistemas conceituais, ou uma
sondagem científica. Mas para isto um computador pode prestar ótimos serviços.A
busca da verdade, o discernimento atingia o próprio Tito naquilo que ele era..
O que vem confirmado por tantas testemunhas que ouviram seu discurso sobre o
conceito de Deus, as suas preleções na universidade ou as suas meditações em retiros.
"Quando ele falava sobre a história da mística, percebia-se que muito
daquilo ele tinha experimentado pessoalmente". E nos variados contactos
com outras pessoas: "sempre tinha tempo para as pessoas que chegavam para
falar com ele, e nunca lhes dava a impressão de que não eram bem-vindas.
Conseguia ouvi-las com paciência e na despedida dava-lhes a impressão de que
ele mesmo tinha sido o beneficiado com "[20]. Quando
a busca da verdade não envolve a própria pessoa numa relação, não há uma
verdadeira busca da verdade porque falta um élan, o élan da santidade. Por isto
o discernimento não consiste em fazer cálculos. Trata-se da busca daquela
verdade que faz viver. Como pode a verdade
fazer viver se ela deixa de ser pessoal, viva, subjetiva e ao mesmo tempo
objetiva?
O discernimento é um
processo interpretativo que leva a uma tomada de decisão. De acordo com o campo
em que o discernimento é feito, este pode adquirir distintos significados. No
discernimento o acento pode cair em experiências individuais, em relações
pessoais ou na vida da inteira comunidade. Um discernimento não é feito num
espaço vazio, mas em contextos bem concretos de maneira que dificilmente deixa
de carregar o carimbo não só do sujeito que discerne mas também dos
condicionamentos históricos[21]. No
seu discurso sobre o conceito de Deus Tito caracteriza a "crise" do
seu tempo como "noite escura" "tempos sombrios", como caos,
labirinto, conseqüência da primeira guerra mundial. Mas não deixa de observar um crescimento da
consciência social, antídoto contra o isolacionismo do indivíduo. O que não lhe
impede de constatar que o social é restringido à própria nação, à própria raça
e à própria classe. Qual é a saída que Brandsma propõe? Sua resposta constitui
precisamente o núcleo do seu discurso: o que deve ser enfocado é o conceito que
se tem de Deus[22].
Como seres humanos
estamos constituídos por uma Profundidade que nos ultrapassa e nos faz aspirar
ao que nos supera. É uma aspiração ontológica, uma urgência interior que
provoca uma tensão entre a experiência de uma plenitude do fim a ser alcançado
e ao mesmo tempo de sua ausência. No ser humano a sua perfeição não representa a
plenitude da natureza humana porque esta não existe só em mim. Aprendíamos na
teologia que não somos como os anjos: cada um deles é sua própria espécie. Cada
um de nós não esgota a natureza humana na sua plenitude. Esta não é a essência
da humanidade, mas o que cada pessoa tem como inalienável é a sua existência
que e incomunicável e única.. Cada um à sua maneira pode realizar a sua
perfeição. No entanto, Deus é o Horizonte, Primeiro e Último que nos convoca,
nos coloca no centro de nós mesmos e ao mesmo tempo, nos faz relacionar com a
comunidade humana e nos ajuda a descobrir nosso lugar no mundo. Daí a
necessidade de uma interiorização para descobrir a Presença de Deus no mais
profundo de nós mesmos. nos despojamos do que é acessório. É um processo de
transformação que nos despoja do que é acessório e nos leva inclusive a uma
integração da afetividade que faz ressoar na nossa consciência a nossa relação
existencial. A consciência afetiva no sujeito, cresce, toma forma a partir da
relação com o outro. No processo espiritual Deus é reconhecido gradualmente
como fim em si mesmo que não pode ser degradado a um objeto a nosso serviço. O
que transforma a consciência afetiva dando-lhe uma abertura cada vez mais
radical na forma de dom de si mesmo num movimento de reciprocidade com o Amado[23]. A
linguagem metafórica em que o(a) mística(a) expressa essa sua relação com Deus,
tem suas razões na psicologia da pessoa, na cultura ambiental, e na riqueza,
mesmo poética, de vários livros da Bíblia..
O místico adquire uma
capacidade de ver a realidade com os olhos de Deus. O que chamamos de
contemplação. A contemplação supõe sempre um movimento para fora no terreno em
que nos relacionamos com os outros, com a natureza, com o cosmos. O movimento
para dentro faz descobrir o inefável, o silêncio, o "sem-lugar", onde
somos despojados, enquanto o movimento para fora torna-se o lugar, onde o
milagre de ter se recebido a si mesmo das mãos de Deus é traduzido em dádiva, comunicação
e comunhão entre os seres humanos e em promoção da vida dos povos.Os dois
movimentos são como os dois lados de uma mesma medalha. A contemplação tem em
si uma capacidade para o discernimento. O que faz entender a advertência de
Tito Brandsma de não perder o equilíbrio entre esses dois pólos através de um
ativismo e de uma espiritualidade meramente exterior[24].
Na Sexta Feira Santa de
1942, Tito Brandsma, internado no campo de concentração de Amersfoort, faz uma
meditação sobre a paixão de Cristo.Um caixote, colocado entre dois beliches lhe
serve de púlpito. Seus mais de cem ouvintes mantêm-se em silêncio. Conforme uma
testemunha, podia ouvir uma mosca voando. São católicos e protestantes,
comunistas, descrentes e outros peregrinos da humanidade Depois, terminada a palestra do "tio
Tito" eles saem do dormitório em silêncio, como se tivessem vislumbrado nas
suas palavras a miséria e a grandeza que estão sempre juntas na nossa vida.
O homem descobre e
sente que no seu ser há algo mais, um mais que está por construir. O que
constitui sua grandeza e dignidade.É uma dimensão que não consegue manipular porque
sempre há mais do que consegue ver, sempre mais do que pode comover o seu
coração[25]. O
que freqüentemente torna a nossa vida incompreensível para nós mesmos, às
vezes, mesmo como se fosse uma mentira. Há momentos em que no nosso interior
pensamos entrever riquezas escondidas, para, num momento seguinte,
confrontar-nos com carências abismais. Como agarrar-se àquilo que nos escapa? Temos
dificuldade em decifrar os autores místicos. Pensamos que a dificuldade provém
de diferenças culturais. Certamente existe a necessidade de uma inculturação em
direção ao contexto do leitor. A estranheza maior, porém, não provém das
distâncias culturais. É que a linguagem de um místico expressa uma experiência
que fez com que o autor do texto chegou a situar-se na vida de um modo
diferente. É isto que é estranho para nós porque acaba com o ritmo da vida que
nos é familiar. O próprio místico se torce e retorce para encontrar palavras
que se prestam a descrever o que aconteceu com ele. Sua linguagem é feita de
paradoxos, e mesmo de contradições, e de metáforas cujo uso nos parecem não
caber na nossa vida cotidiana. Mas o problema está precisamente aí: para muitos
a espiritualidade e a mística são vistas como artigos avulsos, indicados como
lenitivos para as durezas da nossa vida cotidiana.
A vida é uma realidade
que nos é dada em mãos. Nem sempre é como gostaríamos que fosse. Ela é como um
campo visual que oferece diversas perspectivas, dependendo do ponto a partir do
qual nos situamos diante da realidade. Pode ser que, filhos do nosso tempo,
cada vez mais imersos numa cultura de tecnocracia pragmática, o
nosso olhar tenha dificuldade para enxergar uma relação com o Transcendente.
Olhar esse que pode tornar-se sempre mais débil quando na comunidade eclesial a
que pertencemos cresce o hiato entre a Palavra pregada e a prática vivida. Vivendo
num mundo com sua tendência de globalizar tudo, existe o perigo de tornar a
própria experiência de Deus um produto a mais nesse sistema da sociedade que
deixa cada um deitado no seu egocentrismo.
No lugar do nosso dia-a-dia pode acontecer
uma descoberta do não-lugar. É como
sair da realidade da vida cotidiana para entrar mais profundamente nela. O
místico é alguém que dá provas de uma liberdade que brota do centro dele mesmo.
Ele sabe que o ápice da liberdade é dizer sim a Deus. O que lhe importa é viver
essa profundidade da vida, assumir a sua identidade sem carteira. O Sermão da
montanha fala desses homens e os chama bem-aventurados mesmo se há quem fala
mal deles. Penso em Tito Brandsma que perdoava ao guarda nazista que lhe
maltratava com bastonate e calci a non finire..Penso nele, já no hospital do
campo de Dachau, oferecendo seu tosco terço à enfermeira descrente que alguns
dias depois haveria de injetar no seu pulso uma ampola de ácido fênico. Pode
ser perigoso denunciar a quem afirma possuir a verdade quando, ao contrário, é
a verdade que nos possui
[2] A.Ward, Guardini Romano, nel Dizionario
di Mística, Libreria Editrice Vaticana, 1998, p.609.
[3] Citação in Amadeo Cencini, Dio della mia vita, Paoline, Milano,
2007, p.40.
[4] A esse respeito João da Cruz cita santo
Agostinho: Conóscame yo, Señor, a mi, y
conoscerte he a ti, e comenta: "Porque, como dicen los filósofos, un
extremo se conosce bien por otro" (1 Noche oscura, 12,5).
[5] O historiador Ton Crijnen falou do seu projeto numa palestra feita em 3
de novembro de 2007. Uma síntese dessa palestra foi publicada no Informativo da
Província holandesa dos carmelitas Achter
de Karmel, 2007/5 pp.11-12
[6] Kees Waaijman, Naar God toe denken met Titus Brandsma, in Achter de Karmel, 2008/3, pp 8-12. Trata-se de uma parte de uma
palestra de Kees Waaijman, feita
no simpósio realizada em Nijmegen, em 12 de abril de 2008 por ocasião dos 40 anos do
Instituto Tito Brandsma.
[7] O texto do discurso, sobre Godsbegrip (conceito de Deus) e outros
textos de Titus Brandsma, foram publicados numa antologia a cura de Bruno
Borchert- Tius Brandsma, Mystiek
leven/Een bloemlezing, Ed. B.Gottmer, Nijmegen, 1985, O texto citado
encontra-se nas páginas 75-77. .
[8] Ver Diretrizes Gerais da ação evangelizadora da Igreja no Brasil 2008-2010 , Documento aprovado na Assembléia Geral dos
Bispos do Brasil, em abril de 2008. Capítulo I A realidade que nos interpela.
[10]
Citamos José Alzin, Ce petit moine
dangereux, Paris, 1954.; M.M. Arribas, Un
periodista martir, Madrid, 1984; F. Vallainc, Un giornalista martire: Tito Brandsma, Milano, 19853;
S.Scapin, Nella notte la libertà: Tito
Brandsma giornalista martire a Dachau, con una antologia dei suoi scritti,
Roma, 1985.
[11] Oratio est quodammodo desiderii nostri interpres apud Deus: illa recte
solum orando petimus, quase recte desiderara valemus" (Summa Theologiae, II-II, q.83, a 9)
[12] São João da Cruz insiste neste ponto quando
fala das devoções aos santos. Imagens de santos não representam somente o pólo
divino, mas envolvem também o pólo humano. Ver o artigo elucidativo de Kees Waaijman, Heilige beeldvorming – zou Titus zich
verzetten? in C.E.M. Struyker Boudier (redação), Titus Brandsma herzien-herdacht-herschreven, Gooi $ Sticht, Baarn,
1993, pp 98-124.
[13]
Inculturar a fé, evangelizar a cultura, Editorial da Revista teológica,
Nº 110, jan/abr 2008 p.6.
[15]
O.Steggink, Titus Brandsma
herdacht em herzien, in Titus
Brandsma herzien-herdacht-herschreven, Gooi en Sticht, Baaar,.1993,
pp.36-38.
[16]
Ibid. pp. 38-39. Diz O Livro dos primeiros monges: "Di questa vita
viene riconsciuto un duplice fine. Uno è quello che conseguiamo con l'aiuto
della grazia divina atraverso l'esercizio faticoso e la pratica delle virtù;
questo fine, che consiste nell'offrire a Dio un cuore santo e puro da ogni
macchia attuale di peccato. (....) L'altro fine di questa vita, che viene
assegnato per esclusivo dono di Dio, consiste nel gustare in qualche modo nel
propio cuore e nello sperimentare nella propria mente, non solo dopo la morte,
ma anche in questa vita mortale, la potenza della presenza divina e la dolcezza
della gloria celeste".Filippo Ribot
(+1391) carmelitano Istituzione e gesta dei primi monaci, Edizione italiana
a cura di Edmondo Coccia, Libreria Ed.Vaticana, 2002, pp35-36.
[17] J.H.Walgrave em P.Moyaert, Mystiek em liefde, Leuven, 1988, p. 73. Citado por Joris Baers, Evoluerend Westers denken over m,ystiek in
de twintigste eeuw, in Encyclopedie
van de mystiek, Ed. Kok-Kampen, Lannoo. Tielt, 2003, pp.137-238, p.150.
[18] Aelredo di Rievaulx, L'amicizia spirituale, Paoline, Milano, 1996, I, 70, p.130:
"Ma non esito ad applicare all'amicizia la frase che segue, e che Giovanni
dice della carità: Chi rimane nell'amicizia, rimane in Dio, e Dio in lui".
[20] Kees Waaijman, in Titus
Brandsma herzien-herdacht-herschreven, p.117.
[21].Assim o escritor que prometeu
uma nova biografia de Tito, aponta na pessoa deste certas "contradições”
no modo de pensar e de agir. Assim ligava idéias agora obsoletas com outras de
uma abertura moderna surpreendente. Participava com dedicação no movimento
ecumênico mas não tirava "os óculos tradicionais do monopólio
católico-romano". A tudo o que lhe era pedido ele atendia de modo que não
distinguia o que era realmente importante e o que era secundário. Estas "contradições"
fazem parte da história; elas não existiriam vivêssemos fora do tempo e do
espaço.
[22] Kees Waaijman, Naar God toe denken met Titus Brandsma, in Achter de Karmel, 2008/3, pp 11-12
[23] Charles André Bernard, Teologia affetiva, Ed. Paoline,
Milano,1985,-p. 424.
[25] Raimon Panikkar, La intuición cosmoteándrica, Las
tres dimensiones de la realidad, Ed. Trotta, Madrid, 1999, p.96
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