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quarta-feira, 26 de agosto de 2015

OLHAR CARMELITANO: MASS MEDIA E ESPIRITUALIDADE

Frei Henk Husktra, O. Carm

Desenvolvimento da comunicação e da cultura

Visão geral
A comunicação sempre acontece através de um meio, meio e comunicação estão sempre ligados. A revolução na comunicação significa também revolução na cultura: nos costumes, na fé, etc.

Cultura oral
Comunicação Oral = comunicação interpessoal, com os sujeitos presentes um ao outro, podem reagir um com o outro diretamente. É a comunicação das pequenas comunidades, garantia para a continuidade da vida, centro da comunidade. Nesta nasceu e se desenvolveu a cultura cristã (passando da cultura oral - judia - para a cultura escrita - grega). É a comunicação através da presença física  de emissor e receptor.

Cultura Literária
Comunicação Literária =  não tem necessidade de presença física, não é uma comunicação face a face. Criação do alfabeto, primeira revolução cultural.
A mensagem fixa nos sinais visíveis do alfabeto permitiu conservar esta mensagem ao longo dos tempos e também distribuir esta mensagem. Começou com a escrita à mão. Os manuscritos são determinantes daquilo que se transmite, por isso a comunicação escrita é considerada mais importante do que a comunicação oral.
Logo que se começou a usar a escrita começou a haver uma reflexão mais elaborada: se reflete mais quando se escreve do que quando se fala, porque o que se escreve é conservado e distribuído.
Os manuscritos passam a ser mais importantes do que a comunicação interpessoal, direta, porque podia ser controlada e perdurava no tempo.
A cultura escrita teve mais influência do que a cultura oral.

Imprensa:
A situação mudou radicalmente com a imprensa. A máquina reforçou a linguagem escrita e a cultura literária. Deu-se a produção em massa de livros, com a possibilidade de fornecer textos idênticos. Era o inicio da cultura literária, a criação da biblioteca.
O primeiro livro impresso foi a Bíblia, produzido em massa e colocado à disposição de muitas pessoas. A maquina impressora possibilitou a distribuição em massa da Bíblia, e também a possibilidade de ler, reler e apropriar-se do texto.
A imprensa foi à primeira forma de comunicação de massa. Criou-se um modo novo de sentir, de pensar, de expressar-se, de comunicar, de crer. O alfabeto muda os relacionamentos interpessoais, a religião, a ética, etc., produz uma cultura nova. Criou a cultura literária.
Uma revolução dos MCS significa também uma revolução na cultura, em todos os relacionamentos humanos. A imprensa criou a cultura literária e esta significou uma revolução na fé e na Igreja.
O crescimento da Igreja protestante coincidiu com a imprensa. A imprensa possibilitou as diferentes correntes de pensamento e sua difusão, deu lugar à revolução do pensamento. Provocou mudanças na Igreja, na sociedade, na fé. Era o fim do monopólio da fé e da unidade da igreja. Foi o fim do monopólio da Igreja Católica sobre a educação e sobre a verdade. A Igreja teve medo destes meios e os combateu a imprensa, sublinhou sempre mais a uniformidade da fé e a racionalidade da fé católica.
Roberto Belarmino colocou a imprensa a favor da Igreja, favoreceu a imprensa na Igreja e promoveu a doutrina e a própria Igreja. Foi o inicio de uma nova forma de educação e de formação, nas escolas, nos colégios. Causou uma revolução na comunicação, na fé, na Igreja, na ética e na sociedade em geral.
Deu-se a transição entre a cultura dos manuscritos à cultura impressa.
Esta foi à segunda revolução na comunicação.

Cultura audiovisual
Terceira. Revolução na comunicação =  transição entre a cultura de imprensa para a cultura tecnológica.
Audiovisuais : comunicação de pessoas com os olhos, os ouvidos e a boca. Usa dois binários: áudio (ouvidos) e  visual (olhos).
È a combinação da linguagem, dos olhos, dos ouvidos e da boca com os meios eletrônicos e a tecnologia. Esta foi a terceira revolução na comunicação - informação por meio da tecnologia: TV, computador, Internet, etc.
A Internet è a combinação, a conexão dos vários computadores dispersos em todo o mundo via linha telefônica, cabos e satélites.

Linguagem na qual se pode ver, ouvir e falar.
Novo matrimonio entre palavras e imagens, sob a presidência dos meios eletrônicos.
A cultura literária é uma cultura de cérebro, è lógica, racional, reflexiva, cognitiva, é mais abstrata, è mais polêmica.  A cultura audiovisual è mais afetiva, emotiva, mais fantasiosa, é a linguagem do coração. A cultura literária é a linguagem do cérebro. A comunicação literária é mais conceptual,  a comunicação audiovisual  è mais perceptiva.
Existe enorme diferença entre cultura literária e cultura audiovisual. A linguagem audiovisual e uma nova forma de comunicação. O povo é enamorado deste tipo de comunicação.
Devemos refletir sobre o uso destes meios:
- O que significa os meios audiovisuais para a fé, para a Igreja e para a Ordem?
- Qual deve ser a contribuição da fé, da Igreja e da Ordem para os Mass Media?
A transição da cultura literária para a audiovisual é uma mudança profunda e com muitos efeitos e       tendências, uma verdadeira revolução.
È uma transição da cultura da palavra à cultura da imagem. A palavra escrita era o centro da nossa comunicação e agora vivemos em uma época onde o elemento dominante é a imagem. Não significa que a palavra já não seja  importante, porém a ênfase é sobre a imagem, combinada com a palavra. Nas estradas, nas cidades, nos MCS a imagem domina sobre a palavra, vivemos em uma cultura da imagem, mundo altamente simbólico: temos o mundo natural, o mundo da sociedade e o mundo simbólico. A Igreja vive também neste mundo.
Na cultura literária o elemento mais importante era a racionalidade, os silogismos, levava a tirar conclusões. Na cultura audiovisual o elemento mais importante é a narrativa, contar a vida como drama e não mais com silogismos. É uma mudança extremamente importante. O processo da razão era domínio de uma elite social, o qual requer uma formação, enquanto a cultura da narrativa faz parte de qualquer ambiente. Os meios audiovisuais criaram esta transição do processo racional para o mundo da narrativa. Mudança da verdade para a credibilidade. Na cultura literária a verdade era o elemento mais importante, na AV. o mais importante é a credibilidade.
A verdade requer correspondência entre os fatos e a credibilidade fala mais de quem conta estes fatos. A pessoa é verdadeira se é aceita se é acreditada, se não é aceita, se não é acreditada, não è verdadeira. Na cultura AV. a verdade depende da credibilidade, na cultura literária a credibilidade depende da verdade. A verdade depende da coerência de vida. A pessoa è importante pela coerência de vida e não pelos conceitos que formula.
Este é um ponto de suma importância para a Igreja.
O que é mais importante para a catequese, quem dá catequese ou o que diz na catequese?
A verdade do conteúdo ou a credibilidade da pessoa que o apresenta? A doutrina ou o testemunho? A mesma coisa acontece na pregação.
É a tendência da racionalidade rumo à irracionalidade.  A cultura literária è intelectual, abstrata, a AV. é mais um fato de coração, o que conta não é tanto o elemento intelectual.
Este momento da história è crucial para determinar o equilíbrio entre estes elementos.
Na TV são tantos os programas que se baseiam nas emoções humanas: ódio, amor, expressões de aspecto emotivo.
È a tendência revolucionária de passagem do dogma ao drama, da doutrina para à vida, da palavra à imagem, do conceito à narrativa, da racionalidade à emotividade, da verdade à credibilidade. Devemos explorar estes pontos e ver como criar o equilíbrio. Há. o perigo de valorizar demais um elemento em detrimento do outro.
Neste campo existe os pessimistas e otimistas: há quem diz que estamos nos divertindo rumo à morte, que a diversão é suicídio, que a TV não é boa, que é preciso eliminá-la.
O MCS são uma criação humana, utilizados por humanos, tem traços humanos positivos e negativos, é ambíguo, depende do uso que deles fazemos. Em vez de perder tempo em condenar o que não é bom, devemos promover o que bom, mas não podemos nos iludir que podemos mudar todo o mundo do Mass Media.
Estes podem ser uma ajuda para contarmos nossa história, para nossa cultura de fé, para celebrar, fonte de espiritualidade, de interioridade, expressão ativa da vida, como experiência espiritual, como sabedoria de vida. Devemos mudar nossa mentalidade, andar em direção das possibilidades positivas para nosso ministério espiritual e pastoral, na formação, para celebrar, etc. São fontes de espiritualidade e novas formas de tecnologia que nos podem ajudar a compreender nossa época, exercer nosso papel de líderes na Igreja.
 O Papa disse que “O Mass Media são os areópagos da nossa época”. Devemos olhar e escutar o MM, estes nos mostram a vida de hoje, contam as historias de ânsias e esperanças e o destino da nossa gente. Se formos receptivos com relação a eles, compreenderemos sua mensagem e compreenderemos também qual pode ser a contribuição que podemos dar à nossa época. Como S. Paulo poderemos ser representantes do Deus Desconhecido ao MM. Devemos aprender do MM e depois dar a estes nossa contribuição.

A Espiritualidade dos filmes
Os audiovisuais têm hoje um papel predominante sobre a linguagem escrita, sobre a impressa.
O desafio para nós carmelitas hoje è expressar nossa espiritualidade por meio dos audiovisuais.
Existe muitos estudos sobre a espiritualidade hoje e muito interesse sobre este assunto.

A linguagem dos filmes.
A comunicação por meio de filmes, é um modo de contar a vida, de contar a própria história.
A vida está à procura de um narrador. A vida deve ser contada. Se contamos nossa história podemos começar a viver de um modo mais humano. A vida sem ser contada não é vida verdadeira.  Na nossa época, mais que nunca, a história está no centro de nossas vidas, ajudada pelos meios audiovisuais. Está procurando um narrador. Os filmes e a TV são aqueles que narram a história de hoje. Tantos programas de TV se dedicam a contar a história. Um “super star”  conta sua história para que o povo possa reconhecer-se nela. E isto ajuda a encontrar a própria identidade, a própria história.  Um dos motivos porque o povo assiste TV é justamente este. Não é só um fato de cérebro, mas é um fato de coração, falam das emoções humanas de base: sobre a vida e sobre a morte; sobre o ódio e sobre o amor, sucesso e falência, etc. O poder dos meios audiovisuais é justamente a capacidade de contar a história, apresentar o drama da vida. A vida humana se expressa em todas as suas direções. O povo é fascinado por este tipo de programas, assiste com prazer estas entrevistas. Na tradição católica aprendemos a amar as coisas celestes e a desprezar as coisas da terra. Podemos tornar fascinantes também as coisas terrenas, sentir prazer nas coisas terrenas, sem cultivar, naturalmente, uma cultura egoísta. Se é possível divertir sem esperar as coisas do céu. A cultura audiovisual trouxe precisamente a cultura do prazer, sem esperar pelo céu. Os meios audiovisuais não influem somente nas emoções de base, mas são agradáveis também do ponte de vista estético. A linguagem audiovisual possui muito mais possibilidades do que a imprensa de dar uma forma à mensagem. Tem a possibilidade da música, dos sons, cores, movimento, palavra falada,  palavra escrita: o binário áudio e o binário visual, imagens que se movem, combinações que permitem expressões detalhadas e ricas do pensamento.

Como descobrir a espiritualidade de um filme?
Questões Fundamentais para a formação sobre os filmes:
1. Que relação há entre filme e espiritualidade?
2. Como a espiritualidade é expressa na linguagem dos filmes?
3. Como podemos despertar a sensibilidade para a espiritualidade dos filmes?
4. Como preparar-nos para coordenar encontros, cursos e seminários sobre filme e espiritualidade?

Linguagem audiovisual e espiritualidade
A linguagem audiovisual é um matrimônio entre imagem e palavra, sob a presidência dos meios eletrônicos.  É uma combinação do que vemos e ouvimos: imagens, cor, movimento, sons, musica, palavras, canções, postos juntos para contar uma história, para dar uma mensagem.

Perguntas Fundamentais:
1. O que è espiritualidade?
2. Como a espiritualidade pode ser expressa na linguagem dos filmes e TV?
3. Como podemos tornar-nos mais sensíveis à espiritualidade dos filmes?
4. Como podemos coordenar encontros e seminários sobre a espiritualidade dos filmes?

O Instituto Tito Brandsma, de Nimega, Holanda, pode ser um modelo de pesquisa sobre a espiritualidade dos filmes.

Palavras Chaves na espiritualidade dos filmes:
1. Spiritus = respiro.
Sem respiro não existe vida.
Aspiração = motivação, força que motiva, que inspira.
Descobrir o spiritus, a motivação do protagonista do filme.

2. Experiência.
Todos nós temos experiências: experiências quotidianas, pequenas experiências, mas também grandes experiências, de dimensões mais profundas.
Como podemos definir nossa vida a partir destas experiências? Como podemos experimentar o mistério da vida através destas experiências?  Como fazer a experiência do santo, do sacro, do mistério, dos Santos, de Jesus Cristo, e do próprio Deus.
Temos tantas experiências e precisamos criar uma certa unidade em nossa vida. A criação da unidade è necessária para o nosso espírito em um tempo de fragmentação, de incoerências, de pluralismo.
A experiência è o ponto central na espiritualidade. Podemos explorar esta dimensão nas histórias dos filmes, descobrindo como os protagonistas tratam e integram suas experiências.
Descobrir quais são as experiências quotidianas do protagonista do filme e comparar com as nossas.
3. Contexto sociocultural. Ninguém vive no vácuo, no vazio, todos nós vivemos numa certa época, em um certo lugar. Temos um contexto sócio -  cultural - religioso.
Podemos indagar em que contexto vive o protagonista e este contexto nos fornecerá muitas informações sobre o protagonista.
O contexto constrói a pessoa e a pessoa reage de acordo com o contexto. Este è um ponto chave na espiritualidade. O protagonista, no filme, critica o contexto em que vive com a posição que toma. Esta è a espiritualidade do filme.
4. Processo. A espiritualidade implica um processo mais ou menos explicito. A vida humana è um processo, processo de mudança, de desenvolvimento, de crescimento. Um processo consciente faz parte da espiritualidade. Podemos perguntar como os protagonistas do filme dão forma a este processo, com as decisões que tomam. É um processo consciente. Podemos perguntar qual è o processo explicito do protagonista e não podemos menosprezar este ponto.
Estudos revelam que o telespectador muitas vezes se identifica com o protagonista do filme, mesmo se é um caráter malvado. Isto é importante para a espiritualidade.
5. Perspectiva ou ponto de vista. Nós sempre temos um ponto de vista, uma tomada de posição, da qual vemos a realidade. Pode ser um ponto de vista global, religioso, de fé. È uma visão que forma sobre a realidade, sobre a vida, sobre o mundo, sobre a sociedade, também sobre a Igreja. Hoje temos tantas formas de espiritualidade precisamente por causa destes pontos de vista.
A palavra Espiritualidade hoje tem um significado muito amplo: Espiritualidade da Nova Era, da Mulher, etc., e é usada de acordo com os diferentes pontos de vista.
Pode haver um dialogo entre a espiritualidade cristã e a espiritualidade secular?
Nós carmelitas podemos descobrir a espiritualidade secular dos filmes?  O que significa isto? È possível um dialogo entre a minha espiritualidade e a espiritualidade do Mas Media? Pode ser uma experiência de enriquecimento? Podemos contribuir para o desenvolver isto? São questões sobre as quais devemos refletir.

 6. Transformação.  A espiritualidade implica uma mudança, uma transformação na vida, no sentido de integração, unidade, realização, humanismo, cristianismo.
Podemos notar que os personagens no final do filme não são iguais a antes. Que processo sofreram, que tipo de transformação tiveram?

7. Modelos Místicos. Todos os fenômenos da vida são conexos,  têm uma origem comum. Misticismo é um fenômeno que se encontra em todas as religiões e culturas. As formas de expressão são diversas mas a chave é igual em qualquer lugar. Escritores dizem que muitas pessoas em nossa época tem experiências místicas. É possível que o protagonista de um filme tenha experiência mística? Devemos ser abertos a esta possibilidade.

Devemos usar estas palavras chaves para construir um modelo, “spiritus”, de experiência. Com estas podemos explorar e definir a espiritualidade. Podemos usar este modelo para explorar o fenômeno espiritual nos vários filmes.
Quando falamos sobre  filme e espiritualidade, não falamos só dos filmes ou só de nós, devemos comparar nossas experiências com a do filme. Em um encontro ou seminário a coisa mais importante não é o filme, mas a reflexão ou debate que se faz sobre o filme. O filme è um ponto importante, mas é somente um ponto, outro ponto é nossa reflexão comum sobre a espiritualidade que se quer descobrir no filme, que se deve construir juntos.
1. Espiritualidade é o cultivo do espírito, do ponto de vista cristão,  carmelita.
2. Filme é a linguagem audiovisual, com seus dramas e histórias, com as emoções, afetos, fantasias, todas as emoções humanas básicas: amor, ódio, ternura, etc. contadas de forma concentrada, reduzida, . Existe momentos cruciais do protagonista que são expressos no filme, momentos de transformação, por isso é uma linguagem excelente para a espiritualidade.
3. A linguagem do filme pode expressar muito bem o contexto em que vive o protagonista. O filme usa uma linguagem especial que toca as emoções. A primeira possibilidade que usa é o drama, a  segunda é a concentração, muito necessária na vida, e a terceira é o contexto, encarnado em pessoas vivas. Mais que reflexões, o comportamento das pessoas tocam as sensibilidades. A espiritualidade è incarnada em uma pessoa. A linguagem do filme é um meio excelente para apresentar a vida espiritual como uma viagem, como uma peregrinação, como caminhada, como desenvolvimento.
4. A experiência de vida do protagonista  - è  uma comunicação não verbal - revelada nos gestos, na expressão do rosto, nas reações. A linguagem audiovisual pode revelar a vida no espírito de uma pessoa, na qual acontecem transformações  emotivas: A alma se transmite pelo rosto.
5. Relação entre a historia do filme e o telespectador. O telespectador pode entrar em dialogo com a historia do filme. Partilhando com outros suas emoções, torna-se uma espiritualidade dialógica. A linguagem do filme pode estimular muita gente a falar, criando possibilidades amplas para exprimir os fenômenos espirituais e enriquecer-nos.
Com ajuda dos filmes, podemos tomar consciência do fenômeno central da espiritualidade em nossas vidas com seus dramas. Pode-se tomar consciência que os vários processos de purificação, os dramas, a noite escura, podem mudar nossas vidas, é um desafio para o qual não encontramos todas as respostas.
É necessário explorar as possibilidades dos filmes para a espiritualidade. O que nós carmelitas podemos fazer a respeito desse fenômeno da espiritualidade?

Filmes e espiritualidade
Depois um pouco de discussão se pode integrar os vários significados, devemos ter confiança no público, que tem a capacidade de compreender juntos, na sua partilha,  o que significa o filme para eles sem violar o sentido da fé.
È importante também à direção do animador, que tenha a capacidade de centralizar alguns pontos.
O dialogo feito a partir do filme é mais importante do que o próprio filme.
1. O filme pode oferecer um maior conhecimento cristão
2. Externar um processo de partilha.
3. Dar uma orientação à nossa experiência, nossa visão, nossa expectativa.
4. Desenvolver o significado espiritual.
5. O uso do filme na espiritualidade oferece enorme possibilidades para o ministério pastoral em uma cultura audiovisual.

Nem todos os filmes tem a mesma importância para a espiritualidade.
Os filmes são fontes de uma experiência forte, a historia do filme conta uma reorganização da vida, com seus momentos de felicidade, crises, de rupturas, etc.
Na coordenação de estudos, encontros e seminários sobre filme e espiritualidade é importante ter bem presente os critérios para a seleção dos filmes.
O grupo deve tornar-se uma comunidade de interpretação, desenvolve um senso de espiritualidade à luz do Evangelho, criando uma nova forma de ministério pastoral, nos grupos de jovens, nas paróquias, nas casas de formação religiosa.
É um campo muito importante que deve ser explorado, apresenta muitas possibilidades para conhecer melhor a cultura na qual vivemos.
Podemos criar na Ordem uma política de comunicação em um mundo em transformação.
  Relacionamento entre regista e consumidor - técnica do mercado
Pensamos que estamos comprando aquilo de que temos necessidade, mas na realidade è que compramos aquilo que a propaganda quer que eu compre.
O relacionamento entre regista e telespectador é o mesmo - o regista
Devemos fazer com que o publico seja mais autônomo com relação à TV
Devemos perguntar: - que uso faz o publico faz da mensagem?  Deve-se construir o significado.
Devemos fazer com o MM como se faz nas CEBs, onde as pessoas se reúnem para refletir a Bíblia, que è um livro que se lê sem exaurir o significado.
Pode-se formar comunidades que sejam capazes de interpretar o filme.

Publicidade
Vejamos por exemplo uma publicidade de tinta segundos que apresentam uma mensagem fascinante, convencem as pessoas só em 30 segundos.
Embora empregue muito tempo para preparar, a estética tem uma função muito importante: preparar o telespectador para receber a mensagem. Cria interatividade entre quem transmite a mensagem e quem a recebe e os usuários podem determinar o uso destes, podem ser ativos ou inativos.

A publicidade usa dois tipos de meios:
-  audiovisual: prepara o telespectador  à mensagem
- parte verbal: que é a verdadeira mensagem.
È uma mensagem agradável, porque é acompanhada de cor,  música, sons, movimento,  è uma história dramatizada, de fácil compreensão,

Pode ser analisada a partir de 3 critérios de avaliação:
-  Econômico : custa muito
- Ético :  aspecto moral da vida. Os meios audiovisuais são abertos às dimensões humanas e
espirituais. È importante explorar e descobrir a dimensão religiosa, moral e espiritual dos mesmos.
- A estética é utilizada para criar espaço no telespectador para receber a mensagem.

Às vezes em uma publicidade de 25”, só nos últimos 5” se revela a mensagem. 20” para criar expectativa, preparar para a recepção da mensagem, criar tensão, abrir  o telespectador ao acolhimento. A mensagem vem só no fim. È uma mensagem atraente, com belas imagens. Usa da estética para atrair o telespectador.
Para nós, Igreja, é importante refletir sobre esta utilização dos audiovisuais na publicidade.
Usamos muito a imprensa, mas a expressão audiovisual, que são os meios principais de hoje, ainda não. O povo hoje é audiovisual. Nos arrependeremos se não os usarmos. Devemos perguntar-nos como transmitir o nosso carisma através destes meios.  Passamos da cultura impressa à cultura audiovisual. Por muito tempo estas meios foram vistos com suspeita, mas hoje sabemos que eles são interativos. Além do mais, o telespectador pode escolher o que assistir. Pensou-se que estes eram contra a vida religiosa, mas os tempos são mudados e estes meios mudaram nossa vida.
Nós que somos da cultura literária temos dificuldades em compreender a cultura tecnológica. Mas as novas gerações está domesticada nesta cultura, mais envolvida nela, comeu e bebeu da mesma. Mas também nos devemos aprender a apropriar-nos desta cultura.
Como expressar nossa tradição com os meios audiovisuais?

Apresentação de filmes

Foret Gamp:
 Filme popular. Ponto central: A vida humana tem um destino. Porque estamos sobre a terra? Qual é o nosso destino?
Toca as diversas sensibilidades de milhões de pessoas. As questões de destino da Providencia são simbolizados no início e no fim do filme por uma pluma branca que desce e sobe.
Um jovem, um pouco retardado mentalmente, com um Q.I. de 75%, conta sua vida. Em uma série de flashs, cenas, imagens, mostram como as pessoas reagem com relação a ele, o consideram um tolo, um bobo. Se de uma parte é considerado bobo, por outra é alguém que faz esforços sobre-humanos, é considerado um herói, honrado por diversos presidentes dos USA. Ama muito Jane, sua esposa. È uma pessoa muito simples e é orientado pelos sábios provérbios d sua mãe.
Jane è uma jovem inquieta, sempre insegura, olha sempre para o alto, quer transformar tudo em céu, longe da realidade cruel. É difícil para os dois viverem juntos. Quando se esforçam por conviverem, Jane o abandono imprevistamente e então ele começa uma maratona pelos USA, corre por 3 anos, 2 meses, 14 dias e 6 horas.  Depois, Forest vai à casa de Jane. Ela tem um filho, Forest Gamp Júnior,  e está muito mal de saúde. Ele a leva para sua casa, cuida dela até à morte.
No fim do filme, Forest fala com Jane no túmulo. Depois leva seu filho à escola, como sua mãe fazia com ele, e aquela pluma sobe dos seus pés para o alto. Forest evoca associações e compreende o que é essencial na vida humana.
Com sua amabilidade, Forest nos apresenta um mundo de amizade, de amor, de honestidade, de caridade. Tudo isso é ressaltado nas suas atitudes. Portanto, o filme é uma lição de realidades eternas, é um mito sobre as origens e o destino da raça humana. Tem um direcionamento moral, espiritual e também humorista.
Porque este filme? Porque feito nos USA em tempos de racionalismo e eficiência técnica?

Para os Grupos:
1. Refletir sobre: como o filme trabalha a imagem, a música, o drama e identificar cenas, música, frases que mais tocam sua sensibilidade.
2. Quais valores espirituais  pode-se encontrar e experimentar no filme?

Os últimos passos de um Homem
O filme gira em torno do tema Vida & Morte.
Feito em 1995, nos USA. Uma freira americana escreveu um livro sobre seu trabalho com 2 condenados à morte e este foi transformado em filme. È um filme sobre a pena de morte.
O protagonista, com outro companheiro, matou uma moça e um rapaz e foi condenado à morte. O papel central é ocupado pela freira, Ir Helena. O filme mostra o lado desumano da pena de morte.

Para os grupos:
1. Que experiência você fez sobre a direção espiritual da Ir Helena: imagens, palavras, expressões...
2. Fazer relação entre a direção da freira e a conversão do assassino.
Devemos ser prudentes ao utilizar a arte na espiritualidade. Saber fazer a diferença entre: o que o filme mostra em si e aquilo que percebemos com nossa sensibilidade. Aquilo que percebemos está no filme ou está em nós? Às vezes vemos no filme nossas projeções mentais. Não interpretar no filme aquilo que o autor não quis dizer, estar atentos às nossas projeções. As experiências subjetivas referentes ao filme depende da historia pessoal.

O filme pode ser interpretado em dois níveis:
- O que o filme mostra em si
- O que o telespectador percebe a partir da sua vivência, a partir de sua experiência.
Depois integrar os dois aspectos.
Como fazer um grupo de pessoas tornar-se uma comunidade de interpretação, que descubram juntos o que o filme quer dizer? Saber descobrir sinais de vida expressos nos filmes.

Meios de Comunicação e Evangelização
Pierre Babin
Como usar os MCS para aumentar nosso impacto na sociedade, para comunicar nossa mensagem? 
Como superar nossos preconceitos?
Um conceito – “Os meios de comunicação ajudam a tornar a mensagem aceitável”
São ajudas.  – Este conceito não é correto.  É uma concepção instrumental.  Devemos passar a uma concepção cultural. Se mudar o nosso modo de comunicar, mudará a sociedade.
Taizé não usa meios, todo o conjunto celebrativo  constitui os meios.
Nós consideramos o que Cristo disse como a mensagem, em vez, a mensagem é o próprio Cristo, seu relacionamento com as pessoas.
Se evangeliza quando se une ao povo que se quer evangelizar, não transmitindo doutrinas, mas criando laços.
A Redemptoris Missio diz que “não basta usar os meios,  é necessário integrar a mensagem na nova cultura”. Não só conhecer o aspecto técnico dos MCS, mas conhecer e integrar-se na nova cultura.
Nesta nova cultura o conteúdo é a pessoa que evangeliza. Eu leio a Bíblia, ela me converte, eu me torno seu conteúdo.
A chave desta nova cultura é a vibração  =  modulação.

Os cinco aspectos desta nova cultura:
Modulação – ( impacto )  linguagem fundamental:
Para evangelizar é necessário despertar a interioridade.  Para entrar nesta cultura devo ser receptivo, é uma linguagem que exerce um impacto, que não é intelectual. Não precisa pensar, só receber o impacto no sistema nervoso (ex: uma visita do Papa) .
 Se entramos nesta cultura compreenderemos como as novas gerações vivem esta modulação.
Há 5 séculos vivemos na cultura intelectual, hoje devemos adotar a pastoral da modulação.
Qual é o papel da pregação?
- Devemos estar atentos para que nossa modulação desperte a interioridade.

Os ouvintes – ocupam o primeiro lugar.
O ouvinte torna-se o elemento mais importante quando se torna parte do comunicador.
Partilha – é o método  ( admirável comércio entre quem emite e quem recebe a mensagem)
A Evangelização é uma conversação na praça do mundo para transmitir uma mensagem.
O centro não é Deus como Verdade, mas Deus como um bem. A evangelização mais do que troca de opiniões é troca de bens.  É como no comércio, a primeira coisa a se fazer é estimular desejos.  A evangelização é oferecer uma experiência. O que toca mais em uma visita do Papa é sua presença, oferece uma experiência.
O método não é dar uma quantidade de doutrina, mas levar a um relacionamento, fazer experiências juntos, viver juntos.
Em vez de apresentar a figura de Cristo, levar a fazer experiência de Cristo, despertar o eu como pessoa humana, ligado a Cristo, entrar em contato consigo mesmo, é uma intuição.

O ambiente ( terreno)
Criar ambiente de silêncio ( música, canto) para  despertar o desejo de Deus. Deve ser pastoral do terreno, em vez de ser pastoral de palavras. Um pouco de música, luzes, uma frase da Bíblia, diz mais do que muitas palavras. Tem necessidade de um pouco de sombras, um pouco de luz, silêncio, para despertar o sentimento interior. Modificar o tom de voz, preparar o ambiente, o terreno, despertar o silêncio.
Na cultura literária a figura ( palavra) é mais importante do que o terreno, na cultura audiovisual o terreno é mais importante.

Turbulência – (ondulações) leva à interioridade
Muitas vezes as pessoas têm necessidade de espiritualidade e não as tem. Ser testemunha é levar o outro a escutar a voz interior. Se não despertarmos o senso do mistério, de ser si mesmo, não evangelizamos. Uma mistura de mistério e necessidade.
O cristão do futuro ou será mistério ou não será cristão.

Quem trabalha com os jovens deve fazer crítica de modo positivo, viver com atitude positiva diante da nova cultura. O perigo é querer seguir  a moda para ser como os jovens, fazer tudo o que eles fazem.
Adotar uma nova cultura não significa desprezar a anterior, mas dar mais  atenção a uma nova mentalidade, a uma nova cultura e tentar relacionar as duas.
*Síntese do Curso sobre Comunicação, promovido pela Ordem Carmelita em Sassone, Roma, 1998.

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