O SBT exibiu na noite deste domingo um
“Conexão Repórter” especial, ao longo do qual Roberto Cabrini apresentou, por
90 minutos, uma longa entrevista com Edir Macedo, fundador da Igreja Universal
e dono da concorrente Record.
Silvio Santos encerrou o seu programa
mais cedo, fazendo elogios ao trabalho religioso de Macedo e classificou o
programa como “uma homenagem'' a ele, que “levou tanta gente que estava no mau
caminho para o bom caminho''.
A entrevista com o dono da Record,
exibida no horário nobre do SBT, curiosamente, foi ao ar justamente no dia em
que a Globo comemorava os seus 50 anos.
Cabrini fez questão de fazer uma
advertência logo no início: “Tudo, ou quase, foi abordado”, disse, deixando no
ar uma dúvida importante. Segundo o colunista Ricardo Feltrin, do UOL, Silvio
Santos não gostou de uma pergunta do repórter, sobre lavagem de dinheiro, e a
eliminou da edição final do programa.
Segundo Cabrini, esta foi a primeira
entrevista de Macedo a um jornalista que não trabalha para a Record. O
repórter, de fato, fez inúmeras perguntas interessantes e provocadoras. Em suas
respostas, porém, o bispo respondeu basicamente as mesmas coisas que já disse
em seus livros de memórias ou de religião.
Educado, o repórter não interrompeu o
entrevistado, mesmo quando ele discorreu além do necessário, evitando responder
a algumas perguntas e fazendo propaganda da Igreja Universal.
Cabrini questionou Macedo sobre a sua
prisão, acusado de charlatanismo, em 1992. Foi a oportunidade para o líder da
Universal mais uma vez dizer que os culpados foram a Igreja Católica e a Rede
Globo. “Acredito que eu seja o inimigo número um da Igreja Católica”. Sobre as
muitas acusações que recebe, fez piada: “A Igreja Universal é que nem omelete.
Quanto mais se bate, mais ela cresce''.
O repórter quis saber como o religioso
lida com a acusação de que a sua igreja privilegia a arrecadação de dinheiro:
“Só os estúpidos pensam em teologia da miséria”, respondeu, defendendo a
“teologia da prosperidade''.
Chute na santa
Cabrini ouviu Macedo sobre o famoso episódio do “chute na santa”, protagonizado por um pastor da Universal, em 1995: “Foi um chute no estômago, para não dizer num lugar mais baixo. Foi a pior coisa que aconteceu dentro do trabalho da Igreja Universal. Porque não é o nosso estilo agredir a religião dos outros. Se exigimos respeito à nossa crença, temos que respeitar as outras crenças.”
Cabrini perdeu a oportunidade, neste
momento, de questioná-lo sobre as muitas brigas com pastores de outras igrejas,
bem como a hostilidade da Universal com religiões afro-brasileiras. O repórter
também evitou perguntas sobre política, em especial sobre o PRB, partido
comandado por um bispo licenciado da Universal, e a relação do seu entrevistado
com o poder.
A conversa também abordou questões
pessoais, como o bullying que sofreu na infância por ter nascido com uma
deficiência nas mãos. “Fui todo mal fabricado. A gente sempre fica inferior aos
perfeitos fisicamente''. Contou que na escola era chamado de “Dedinho'' por
causa do problema.
Questionado pelo repórter, Macedo também
falou de sua iniciação sexual, aos 16 anos, no Rio. “Foi num bordel, ali na
zona”, disse. “E nós fomos lá aprender o que era o sexo''. Foi bom?, questionou
o repórter. “Eu não transferiria essa experiência para os meus filhos. Naquela
época, foi bom.''
Muitas namoradas?, quis saber Cabrini.
“Sim, tivemos muitos casos amorosos'', disse rindo. “O defeito físico não
impediu que a gente tivesse os nossos sucessos'', disse, recorrendo ao plural
majestático.
Outro tema inconveniente que mereceu
questionamento foi o famoso vídeo, exibido até pela Globo, em 1992, no qual
ensina como os pastores da Universal devem convencer os fieis a arrecadar
dinheiro para a igreja. “Ou dá ou desce”, ensina Macedo, no vídeo.
“Não me arrependo”, disse. “Eu falei
aquilo que pensava e penso. E vou continuar pensando'', disse. “Se você dá,
você recebe. Se você não dá, você não recebe'', acrescentou. “Sou uma máquina
de ganhar almas”, repetiu algumas vezes.
Xuxa na record
Cabrini quis saber se Macedo interfere muito na gestão da Record e se foi consultado sobre a contratação de Xuxa: “A Record tem vida própria'', disse. Em seguida, pensou um pouco antes de responder e disse: “Fui perguntado se havia alguma objeção (à contratação da Xuxa). Eu disse 'não'. Se é bom para a Record, é bom pra mim. Nossa filosofia é dar liberdade às pessoas em quem nós confiamos”.
Também falou sobre a exibição, de
madrugada, na Record, de programas da Igreja Universal. Justificou o horário assim:
“Porque as pessoas não tem tempo, de dia, para ver as nossas prédicas. Você
sabe que as pessoas que estão sofrendo, sofrem à noite, especialmente pela
madrugada.”
A compra da Record, ocorrida em 1989,
depois de difícil negociação com a família Machado de Carvalho e Silvio Santos,
serviu para Macedo fazer discurso. Primeiro disse: “Eu fui visado, muito
visado. Logo eu, uma pessoa tão frágil. Por esse lado, a compra foi cruel”.
Em seguida, observou, talvez sem se dar
conta que estava fazendo uma crítica implícita ao SBT: “Depois da Record, o
Brasil teve outro rumo. Até então tínhamos a Rede Globo como informação única
nesse país. Com a Record tivemos a oportunidade de deixar o povo brasileiro
ciente do outro lado dos fatos. Isso fez o Brasil despertar. Hoje temos um
Brasil democrático, eu diria, em grande parte por causa da Record.”
Ao final, Cabrini perguntou como Macedo
se comparava a Silvio Santos — “dois grandes comunicadores'', segundo o
repórter: “Não tenho o sorriso, a gargalhada, o jeito do Silvio Santos. Ele é
um excelente comunicador”, disse o bispo. “E eu tenho a minha fé. Só sei passar
fé”. Fonte: http://mauriciostycer.blogosfera.uol.com.br
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