O jogo de perguntas e respostas com
Luciana Littizzetto deixou o sinal. No facebook. Depois o vídeo, que circulou
as redes, das irmãs de clausura, na Catedral de Nápoles, com permissão especial
para abraçar o Papa Francisco e a piada feita no programa Che tempo che fa
(“Não se entende porque todas estavam na volta do Papa, se porque nunca haviam
visto um Papa ou porque nunca haviam visto um homem”), a resposta mordaz
convidando Littizzetto a “atualizar o seu imaginário manzoniano” chegou pelas
redes sociais. A reportagem é de Andrea Valdambrini, publicada no jornal Il
Fatto Quotidiano, 27-04-2015. A tradução é de Ivan Pedro Lazzarotto.
Mas o clamor improvisado pela mídia
deixou suas marcas: “Devido aos últimos acontecimentos o número de contatos
aumentou consideravelmente e o Facebook nos impôs a conversão do nosso perfil
na página”, é o que se lê em um post das religiosas datado de 25 de março. O
título da página é: Comunidade do Monastério das Irmãs Clarissas de Nápoles.
Quem administra a página é a Madre Superiora, Irmã Rosa.
Como, “as irmãs de clausura estão no
facebook?” se questionava surpresa Littizzetto alguns dias após o primeiro
confronto virtual. Clausura feminina e acesso a internet são antes de mais nada
uma contradição. O primeiro, na Itália, foi o blog das irmãs de São João de
Trani, em 2010. Sua chegada foi acolhida quase como uma curiosidade, com a
Madre Superiora declarando que considerava “uma forma de aproximar os jovens
como sendo um antídoto ao uso de drogas e a depressão”.
Desde então surgiram novos sítios onde
se postam orações, vídeos de cerimônias ou testemunhos de fé. Não poderiam
faltar as Irmãs de clausura, blog “nascido para promover as vocações religiosas
para a vida monástica... fazendo-se conhecer a vida nos monastérios”. Em resumo,
a internet como instrumento de comunicação religiosa. Mas quais são as
modalidades de acesso à rede nos monastérios dedicados a vida contemplativa? “O
local dedicado é comunitário, mesmo se agora o uso cada vez mais difuso dos
smartphones esteja mudando as coisas”, explica a teóloga e estudiosa de
assuntos bíblicos Marinella Perroni.
Há aproximados 30 anos, Perroni, que
ensina Novo Testamento no Ateneu de S. Anselmo de Roma, tem cursos para
religiosas que vivem em clausura, o que permite de ter um ponto de vista
privilegiado mesmo sobre a evolução tecnológica que se desenvolve dentro dos
muros dos conventos. “Nenhuma irmã pode passar horas e horas na frente de um
monitor. Os tempos de acesso aos computadores da comunidade são estabelecidos
pela Madre Superiora. Na maioria das vezes, a internet é utilizada para fazer
pesquisas voltadas sobre temas de interesse acadêmico ou ligadas as atividades
de trabalho desenvolvidas no monastério”.
Quando se fala de internet, deve-se
considerar também o problema da violência e da pornografia: se pode imaginar
que uma religiosa tenha acesso a todos os conteúdos ou a rede é bloqueada por
ordem da superiora? “Assumimos que estamos falando de pessoas adultas e
responsáveis”, continua Perroni. “Depois é preciso saber que as religiosas tem
uma jornada bem regrada e pouco tempo livre para navegar. Por fim, vale a pena
lembrar que a internet interessa principalmente aos jovens, que são uma minoria
sobre o total”.
Os números seriam pequenos, mas o certo
é que a internet agrada as religiosas. Talvez mais do que para a parte
masculina da Igreja. “Em uma pesquisa realizada pela Universidade de Perugia
com a Universidade Católica de Milão e os Webmasters Católicos monitoramos o
uso e a presença nas redes sociais por parte de sacerdotes e freiras”, afirma
Rita Marchetti, estudiosa de mídias e autora do livro A igreja na internet
(Carocci).
“A pesquisa surpreendeu porque as
religiosas, sendo quantitativamente em menor número nas redes sociais mais
difundidas na Itália com relação aos seus colegas masculinos, são as que mais
usam para ampliar a própria rede de relações”. Assim como usam para se fazer
ouvir quando necessário. Depois do post sarcástico das irmãs de Nápoles,
Littizzetto teve que admitir: “Me esfolaram viva”. Mas como se não podem sair
do convento?
Ah sim, graças a Deus agora existe o
Facebook.
Fonte:
www.ihu.unisinos.br
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