"A pergunta de fundo da teologia
da libertação é: como dizer ao pobre que Deus o ama? Enquanto isso, algo
foi feito, mas resta muito mais a ser feito." A afirmação é de Gustavo Gutiérrez, peruano de 86 anos, membro da Ordem
dos Frades Pregadores, considerado o fundador dateologia da libertação. A reportagem é de Patrizia Caiffa,
publicada pela agência SIR, 21-11-2014. A tradução é de Moisés
Sbardelotto.
Nestes dias ele está na Itália para
falar para os 800 participantes do IV Congresso Missionário Nacional, que
ocorreu até este domingo em Sacrofano, Roma, por iniciativa do Escritório
Nacional para a Cooperação entre as Igrejas, da Fundação Missio e do Centro
Unitário para a Cooperação Missionária entre as Igrejas (Cum). Nesse domingo de
manhã, junto com outros participantes do congresso, ele se encontrou com o Papa
Francisco no Vaticano.
Eis a entrevista.
Com que emoção o senhor se prepara para o encontro
com o Papa Francisco?
Para mim, é uma alegria enorme encontrá-lo. O papa
criou uma situação tão interessante, tão rica! Ela eleva muito os ânimos. Ao
mesmo tempo, estamos conscientes dos problemas que ele pode ter no seu desejo
de uma Igreja pobre e solidária.
O senhor esperava
uma mudança tão grande na Igreja?
Na América Latina, já conhecíamos há muito
tempo o cardeal Bergoglio, por isso não foi uma surpresa total. Mas ele
leva adiante a sua tarefa com tantas e impressionantes atividades... Isso, sim,
nos surpreende. Para nós, foi muito importante a Conferência do Episcopado Latino-Americano em Aparecida.
Foi ali que a mudança aconteceu.
A Igreja será cada
vez mais caracterizada pela sua pertença latino-americana?
A sua abordagem é muito universal, e a sua fonte é
evangélica. Além disso, a mensagem de Jesus é tão essencial! Certamente,
há uma marca latino-americana que o caracteriza, porque Bergoglio nasceu
e viveu muitos anos entre os pobres. Ele pode abrir muitas portas na Igreja e
já começou.
Mas parece que há
inúmeras resistências internas...
Isso é o que dizem os jornais. Infelizmente, é
inevitável que, com um cargo tão importante, com tanta responsabilidade, haja
resistências.
O papa reiterou que essa nova atitude da Igreja não
é comunismo, mas é Evangelho.
Certamente é evangelho. O Papa Francisco tem
uma enorme capacidade de ir à fonte e de falar com grande simplicidade, mas
também com muita criatividade. Recordamos que o tema do pobre é um assunto
bíblico central.
Depois de quase 50
anos, a teologia da libertação na América Latina ainda
está viva ou alguma coisa mudou?
Uma teologia tem uma tarefa modesta, mas é
claramente importante como compreensão de uma realidade e de uma proposta para
a evangelização. Isso ainda existo, mas não deve ser a única maneira de dar uma
contribuição para a vida da Igreja latino-americana. É normal que haja outras
perspectivas, e que cada um traga a sua. Eu acho que é muito interessante que,
depois de tantas publicações e encontros, mais uma vez, o que essa teologia
tentou fazer é ir à fonte e levar em conta a impressionante realidade de uma
pobreza enorme, em um continente de maioria cristã. A pergunta de fundo da
teologia da libertação é: como dizer ao pobre que Deus o ama? Enquanto isso,
algo foi feito, mas resta muito mais a ser feito.
A teologia da
libertação ainda é atual e também pode ser proposta aos pobres da América do
Norte e dos outros continentes?
Sim, em relação ao essencial; não em relação à
concretude e ao que preciso fazer, porque em cada contexto há diferenças.
Muitas teologias semelhantes nasceram na África, na Ásia e
minoritariamente na Europa e na América do Norte, demonstrando
que esse modo de apresentar a mensagem é importante. Não há uma teologia da
libertação, mas teologias "irmãs", próximas, mas, ao mesmo tempo,
diferentes.
Depois das
incompreensões do passado, chegou a hora da redenção?
Houve um diálogo que permitiu esclarecer algumas
coisas com a Congregação para a Doutrina da Fé. Agora, o diálogo terminou
com satisfação. É importante saber aceitar que há diferenças fortes com uma
pessoa ou um ambiente, mesmo que se esteja em desacordo.
Nesse domingo, o
que o senhor vai dizer ao papa?
Vou lhe dizer que gosto muito do que ele está
fazendo e vou lhe agradecer por isso.
Fonte: http://www.ihu.unisinos.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário