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segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Como dizer ao pobre que Deus o ama. Entrevista com Gustavo Gutiérrez.


"A pergunta de fundo da teologia da libertação é: como dizer ao pobre que Deus o ama? Enquanto isso, algo foi feito, mas resta muito mais a ser feito." A afirmação é de Gustavo Gutiérrez, peruano de 86 anos, membro da Ordem dos Frades Pregadores, considerado o fundador dateologia da libertação. A reportagem é de Patrizia Caiffa, publicada pela agência SIR, 21-11-2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Nestes dias ele está na Itália para falar para os 800 participantes do IV Congresso Missionário Nacional, que ocorreu até este domingo em Sacrofano, Roma, por iniciativa do Escritório Nacional para a Cooperação entre as Igrejas, da Fundação Missio e do Centro Unitário para a Cooperação Missionária entre as Igrejas (Cum). Nesse domingo de manhã, junto com outros participantes do congresso, ele se encontrou com o Papa Francisco no Vaticano.

Eis a entrevista.
Com que emoção o senhor se prepara para o encontro com o Papa Francisco?
Para mim, é uma alegria enorme encontrá-lo. O papa criou uma situação tão interessante, tão rica! Ela eleva muito os ânimos. Ao mesmo tempo, estamos conscientes dos problemas que ele pode ter no seu desejo de uma Igreja pobre e solidária.

O senhor esperava uma mudança tão grande na Igreja?
Na América Latina, já conhecíamos há muito tempo o cardeal Bergoglio, por isso não foi uma surpresa total. Mas ele leva adiante a sua tarefa com tantas e impressionantes atividades... Isso, sim, nos surpreende. Para nós, foi muito importante a Conferência do Episcopado Latino-Americano em Aparecida. Foi ali que a mudança aconteceu.

A Igreja será cada vez mais caracterizada pela sua pertença latino-americana?
A sua abordagem é muito universal, e a sua fonte é evangélica. Além disso, a mensagem de Jesus é tão essencial! Certamente, há uma marca latino-americana que o caracteriza, porque Bergoglio nasceu e viveu muitos anos entre os pobres. Ele pode abrir muitas portas na Igreja e já começou.

Mas parece que há inúmeras resistências internas...
Isso é o que dizem os jornais. Infelizmente, é inevitável que, com um cargo tão importante, com tanta responsabilidade, haja resistências.
O papa reiterou que essa nova atitude da Igreja não é comunismo, mas é Evangelho.
Certamente é evangelho. O Papa Francisco tem uma enorme capacidade de ir à fonte e de falar com grande simplicidade, mas também com muita criatividade. Recordamos que o tema do pobre é um assunto bíblico central.

Depois de quase 50 anos, a teologia da libertação na América Latina ainda está viva ou alguma coisa mudou?
Uma teologia tem uma tarefa modesta, mas é claramente importante como compreensão de uma realidade e de uma proposta para a evangelização. Isso ainda existo, mas não deve ser a única maneira de dar uma contribuição para a vida da Igreja latino-americana. É normal que haja outras perspectivas, e que cada um traga a sua. Eu acho que é muito interessante que, depois de tantas publicações e encontros, mais uma vez, o que essa teologia tentou fazer é ir à fonte e levar em conta a impressionante realidade de uma pobreza enorme, em um continente de maioria cristã. A pergunta de fundo da teologia da libertação é: como dizer ao pobre que Deus o ama? Enquanto isso, algo foi feito, mas resta muito mais a ser feito.

A teologia da libertação ainda é atual e também pode ser proposta aos pobres da América do Norte e dos outros continentes?
Sim, em relação ao essencial; não em relação à concretude e ao que preciso fazer, porque em cada contexto há diferenças. Muitas teologias semelhantes nasceram na África, na Ásia e minoritariamente na Europa e na América do Norte, demonstrando que esse modo de apresentar a mensagem é importante. Não há uma teologia da libertação, mas teologias "irmãs", próximas, mas, ao mesmo tempo, diferentes.

Depois das incompreensões do passado, chegou a hora da redenção?
Houve um diálogo que permitiu esclarecer algumas coisas com a Congregação para a Doutrina da Fé. Agora, o diálogo terminou com satisfação. É importante saber aceitar que há diferenças fortes com uma pessoa ou um ambiente, mesmo que se esteja em desacordo.

Nesse domingo, o que o senhor vai dizer ao papa?
Vou lhe dizer que gosto muito do que ele está fazendo e vou lhe agradecer por isso.

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