Frei John Welch, O. Carm
Whitefriars
Hall , Washington
Uma das mensagens mais
impressionantes de nossos santos carmelitas tem sido a compreensão de que Deus
nos ama como somos. Pensando que buscavam a um Deus ausente e que a vida era a
procura desse Deus, eles regressavam de seus esforços testemunhando que Deus os
procurava ao longo de todo caminho. Que
a história de nossas vidas não seja a procura de Deus, mas sim o desejo e a
procura de Deus por nós. A fome do
nosso coração, o desejo do que somos, é o fruto de Deus nos ter desejado e
amado primeiro. Com o tempo, nossa
transformação pode ser tão grande que viveremos numa consonância de desejo: nosso
desejo humano participando plenamente do desejo de Deus.
Certa vez Teresa
de Ávila escutou estas palavras enquanto orava: “Procura-te em mim”. Ela perguntou
a muitos de seus amigos e diretores em Ávila o significado dessas palavras;
“Procura-te em mim”. Entre os
consultados estavam Francisco de Salcedo, um diretor espiritual leigo, seu
irmão Lorenzo de Cepeda e João da Cruz. Estes cavalheiros se reuniram para
discutir suas respostas, mas Teresa não estava presente. Por isso decidiram enviar-lhe suas respostas.
Imitando a moderação acadêmica
praticada em algumas escolas, Teresa alegremente decidiu encontrar falta em
cada resposta e muito sutilmente se livrou de cada uma. Não temos suas
respostas, mas sim, temos as rejeições de Teresa a essas respostas. Um dos que
respondeu foi Francisco de Salcedo que com frequência citava a São Paulo e
termina sua resposta dizendo que tem “escrito estupidez”. Teresa o repreende
por considerar as palavras de São Paulo “estupidez”. Disse-lhe que tinha em
mente denunciá-lo à Inquisição.
João da Cruz
respondeu que o significado de “Procura-te em mim” requer estar morto para o
mundo para poder procurar Deus. Teresa respondeu com uma oração na qual pedia
para ser libertada de pessoas tão espirituais como João da Cruz. Além do mais
lhe disse, sua resposta era boa para os membros da Companhia de Jesus, mas não
para aqueles a quem ela tinha em mente. A vida não é tão longa que nos permita
morrer ao mundo antes de encontrar a Deus. Teresa lembrou os Evangelhos e
observou que Maria Madalena não estava morta ao mundo antes de encontrar-se com
Jesus; a mulher cananéia também não estava
morta ao mundo antes de pedir as migalhas da mesa. E a mulher samaritana
também não morreu ao mundo antes de encontrar-se com Jesus no poço. Ela era
quem era e Jesus a aceitou. Teresa termina sua resposta a João da Cruz
agradecendo-lhe por responder ao que ela não havia perguntado.
A experiência de Teresa é que Deus se
encontra conosco e nos aceita tal como
somos e nos acolhe no lugar que
estamos em nossas vidas. Somos aceitos por
Ele ao longo de todo o caminho. O
desafio para nós é aceitar a aceitação, e permitir a essa presença que nos
transforme. A realidade desse abraço é à base de nossa oração. Orar, portanto, é entrar nessa relação com confiança
sentindo-a como o fundamento de nossas vidas. É muito fácil falar sobre
isto, mas muito difícil vivê-lo no dia-a-dia.
Um teólogo resumiu a mensagem de Teresa desta maneira: a
melhor cooperação que podemos oferecer a Deus que reorienta nossas vidas, é
prestar uma fiel e duradoura atenção a
nossas profundidades e ao nosso centro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário