Frei
Jadival, 0. Carm. ( Ex- Frade Carmelita ).
Ia alta a lua
nos céus da Bahia, naquela noite de 14 de janeiro. Tudo era quietude, pois a
uma hora da madrugada, normalmente o Largo do Carmo é desértico. Quando de
repente: - Fogo! Fogo! Fogo!
Estava em chamas
o Casarão número 4, também conhecido como a casa que hospedava D. João VI,
quando passava pela Bahia, e que hoje é uma triste lembrança desse régio tempo.
Em ruínas, abrigava até esses dias algumas pessoas. Havia um pequeno bar, no
térreo, e uma lojinha de artesanato. Era uma invasão do que sobrara do
Palacete, que tinha dois pavimentos e uma fachada impotente. E foi justamente
um desses moradores o pivô da tragédia. Contam que foi briga de casal. Sabe-se
com certeza que a mulher jogara o candeeiro no assoalho, provocando um
incêndio. Os vizinhos assustados correram para a rua. Ligaram para o Corpo de
Bombeiros. E o alvoroço se apoderou de todos. Os palpites eram os mais
desencontrados possíveis. Cada um tinha um ponto de vista, mas nada que
debelasse o fogo. E os bombeiros não chegavam. O fogo cada vez mais voraz
consumia o velho madeirame. Até que alguém foi buscar os bombeiros. Já se
passara uma hora após o alarme. A lembrança do incêndio no bairro do Chiado em
Lisboa, no ano passado, era muito recente, e as característica do Centro
Histórico de Salvador são idênticas às do Chiado. Mas, finalmente, chegaram os
bombeiros, e começaram a combater o incêndio. Durou pouco, a água dos heróis do
fogo. Acabou-se a água e para agravar a situação a localidade não possui
hidrante. O fogo ganhava a luta. Alguém dentre o povaréu, por resignação diante
do irremediável, disse, não se sabe se por fé ou desdém!
- Agora só milagre! Vamos rezar, gritou
dona Elza em desespero. Só um milagre mesmo, pois o vento naquela noite
contribuía em tudo para aumentar o caos. Não tinha jeito. Tirem tudo o que
puderem de suas casas!
Dona Elza é
moradora do prédio número 6, lado para o qual o vento soprava. Devota a vida
toda de Nossa Senhora do Carmo, pensava em voz alta: “Minha N. Sra. quero
continuar tua vizinha. Não quero me mudar daqui, protege a minha casa”.
Enquanto isto convidava o povo para rezar com ela. Lembrou-se da imagem do
Sagrado Coração. Sugeriram que a trouxesse para fora. Ao que ela retrucou:
“Não, o Sagrado Coração vai ficar lá, para proteger minha casa”. As seculares
portas da Igreja do Carmo Estavam fechadas, e alheias às angústias do povo
permaneciam indiferentes aos seus rogos. Mas, foi exatamente no Adro do Carmo,
na soleira da Casa de Maria (como diz o Salmo 24,11: “Sim, vale mais um dia em
teus átrios que milhares a meu modo, ficar no umbral da casa do meu Deus que
habitar nas tendas do ímpio”) que Dona Elza e outras pessoas se ajoelharam
rezando e implorando. E dona Elza pedia: Gente! Cante assim: “Em
chuvas de graças a Mãe se mostrou . E todo Carmelo feliz exultou. Flor do
Carmelo, nossa alegria/ Salve, Salve, Maria!
(bis).
Ó,
vinde cristãos, louvar a Maria! Com um hino singelo e terna alegria.Flor do
Carmelo, nossa alegria/ Salve, Salve, Maria!
(bis).
De repente, a
lua rainha da noite perde o brilho, ante o esplendor da Rainha dos Céus, que
envia a seus filhos clementes uma copiosa chuva. É, isto mesmo, uma copiosa
chuva! E foi muita chuva a desabar!
O povo ficou
aturdido diante de tamanha coincidência. “Sorte” diziam alguns; “milagre de
Nossa Senhora do Carmo”, diziam em lágrimas os devotos, em oração no Adro da Igreja do Carmo.
E a chuva veio com vontade. Entrou
madrugada a dentro, impedindo que a aurora trouxesse o sol. Amanheceu nublado e
chovendo em salvador.
E o incêndio? Ah, esse foi debelado pela
abençoada chuva de Graças. Quando o dia clareou, apenas fumegavam os escombros.
Dona Elza conta como chorou, ao ver atendidos os clamores que fizeram a N. Sra.
do Carmo. Enquanto pediam, foram atendidos.
Na missa das
sete da manhã, lá estava dona Elza ajoelhada aos pés do Altar-Mor, chorando
agradecida.
Este fato pode ser confirmado, pois é
verídico. Os envolvidos moram no Largo do Carmo, em Salvador-BA.
Nenhum comentário:
Postar um comentário