Os que souberem recitar as horas
canônicas com os clérigos, recitem-nas[2] segundo as prescrições dos Santos Padres e o
Rito aprovado da Igreja. Os que não souberem rezem o Pai-Nosso[3] vinte e cinco vezes nas vigílias da noite, menos
aos domingos e dias de festa, em cujas vigílias determinamos dobrar este
número, de modo que se reze o Pai-Nosso cinqüenta vezes. Sete vezes[4], porém, se reze a mesma oração nas laudes da
manhã. Nas outras horas também, sete vezes em cada uma, recite-se igualmente a
Oração do Senhor, menos no ofício da tarde, quando deveis rezá-la quinze vezes.
Nenhum dos irmãos diga que alguma
coisa é propriedade sua, mas tudo vos seja comum e distribuído a cada um pela
mão do Prior, isto é, pelo irmão[5] por ele incumbido de tal encargo, conforme
esteja alguém precisando, levando-se em consideração a idade e necessidade de
cada pessoa[6]. À medida, porém, que uma precisão vossa o
exigir podeis manter jumentos ou burros, assim como alguma criação de animais
ou de aves.
Da maneira que for possível fazê-lo
mais comodamente, no centro das celas seja construído um Oratório[7], aonde, cada dia pela manhã, deveis ir encontrar-vos[8], para ouvirdes as missas solenes, sempre que
isto puder realizar-se comodamente.
Nos dias de domingo ou em outros, se for
necessário, conversai sobre a guarda da disciplina e a salvação das almas. Aí,
mediante a caridade, corrijam-se também os exageros ou culpas dos irmãos, se
algo se surpreender em alguém[9].
O Apóstolo, portanto, recomenda o
silêncio, uma vez que dá o preceito de trabalhar em silêncio; e, segundo o
testemunho do profeta, "o silêncio é uma planta que a justiça
cultiva" (Is 32,17)[10]. Em outro lugar diz: "No silêncio e na
esperança estará a vossa força" (Is 30,15). Por isso determinamos que,
após recitardes as Completas, guardeis silêncio até findar a recitação
da hora de Prima[11] do dia seguinte. No tempo restante, porém,
embora não seja tão rigorosa a obrigação do silêncio, com muita diligência,
contudo, evite-se o muito falar, porque como está escrito, e não menos o ensina
a experiência: "na tagarelice não faltará pecado" (Pr 10,19), e
ainda: "quem de muita loquacidade usar a sua alma lesará" (Pr 13,3).
E no Evangelho diz o Senhor: "De toda palavra ociosa, que os homens tenham
falado, dela terão de prestar contas no dia do juízo" (Mt 12,36). Cada um,
portanto, "faça uma balança para as suas palavras e coloque na boca um
freio ajustado, para não escorregar e não vir a cair pela língua, e para que,
incurável, a sua queda não seja mortal" (Sir 28, 29-30 [25-26])[12]. Com o profeta ponha sentinelas nos próprios
caminhos, de modo a não pecar pela língua[13]; diligente e cautelosamente faça esforço para
guardar[14] o silêncio, onde está "a planta que a
justiça cultiva" (Is 32,17).
[1]. cf.
"Não se afaste da tua boca o livro desta Lei, mas nele medita dia e
noite" (Js 1,8). "Feliz o homem (...) que medita dia e noite
na sua lei [do Senhor]" (Sl 1,1-2). "Quanto ao mais orai
incessantemente com todas modalidades de orações e súplicas no Espírito, vigiando
nesta intenção com toda perseverança e rezando por todos os santos"
(Ef 6,18). "Perseverai na oração e nela vigiai" (Cl
4,2).
[6]. cf.
"Todos aqueles que abraçaram a fé estavam juntos e tinham tudo em comum;
quem tinha propriedade e bens vendia-os e repartia com todos, de acordo com
a necessidade de cada um" (At 2,44-45). E também: "A multidão dos
que abraçaram a fé tinha um só coração e uma só alma e ninguém dizia que era
propriedade sua aquilo que tinha, mas tudo era comum entre eles. (...) e
depois era distribuído a cada um conforme alguém tivesse necessidade"
(At 4,32.35).
[9]. cf.
"Entre vós tudo se faça na caridade" (1Cor 16,14).
"Irmãos, no caso de ser alguém surpreendido em alguma culpa, vós
que tendes o Espírito corrigi-o com espírito de doçura" (Gl 6,1).
"Mediante a caridade estejais a serviço uns dos outros" (Gl
5,13). "Quem retira um pecador do seu caminho errado salvará a sua alma
da morte (...)" (Tg 5,20).
[10]. cf. "E o
direito descansará no deserto e a justiça fará a sua morada no Carmelo; a paz
será fruto da justiça e a justiça implantará a serenidade e haverá
segurança pelos séculos" (Is 32,16-17). São imagens que lembram a beleza
da vegetação; a tradução clássica do Pe. A.P.de Figueiredo traz: "e a
cultura da justiça (será) o silêncio".
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