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segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

ESPIRITUALIDADE CARMELITANA: Da Regra do Carmo.

            
"Permaneça cada um na sua cela ou proximidades, dia e noite meditando na Lei do Senhor, em vigílias e orações[1], a não ser que esteja ocupado em alguma eventualidade justificada.
            Os que souberem recitar as horas canônicas com os clérigos, recitem-nas[2] segundo as prescrições dos Santos Padres e o Rito aprovado da Igreja. Os que não souberem rezem o Pai-Nosso[3] vinte e cinco vezes nas vigílias da noite, menos aos domingos e dias de festa, em cujas vigílias determinamos dobrar este número, de modo que se reze o Pai-Nosso cinqüenta vezes. Sete vezes[4], porém, se reze a mesma oração nas laudes da manhã. Nas outras horas também, sete vezes em cada uma, recite-se igualmente a Oração do Senhor, menos no ofício da tarde, quando deveis rezá-la quinze vezes.
         Nenhum dos irmãos diga que alguma coisa é propriedade sua, mas tudo vos seja comum e distribuído a cada um pela mão do Prior, isto é, pelo irmão[5] por ele incumbido de tal encargo, conforme esteja alguém precisando, levando-se em consideração a idade e necessidade de cada pessoa[6]. À medida, porém, que uma precisão vossa o exigir podeis manter jumentos ou burros, assim como alguma criação de animais ou de aves.
        Da maneira que for possível fazê-lo mais comodamente, no centro das celas seja construído um Oratório[7], aonde, cada dia pela manhã, deveis ir encontrar-vos[8], para ouvirdes as missas solenes, sempre que isto puder realizar-se comodamente.
       Nos dias de domingo ou em outros, se for necessário, conversai sobre a guarda da disciplina e a salvação das almas. Aí, mediante a caridade, corrijam-se também os exageros ou culpas dos irmãos, se algo se surpreender em alguém[9].

            O Apóstolo, portanto, recomenda o silêncio, uma vez que dá o preceito de trabalhar em silêncio; e, segundo o testemunho do profeta, "o silêncio é uma planta que a justiça cultiva" (Is 32,17)[10]. Em outro lugar diz: "No silêncio e na esperança estará a vossa força" (Is 30,15). Por isso determinamos que, após recitardes as Completas, guardeis silêncio até findar a recitação da hora de Prima[11] do dia seguinte. No tempo restante, porém, embora não seja tão rigorosa a obrigação do silêncio, com muita diligência, contudo, evite-se o muito falar, porque como está escrito, e não menos o ensina a experiência: "na tagarelice não faltará pecado" (Pr 10,19), e ainda: "quem de muita loquacidade usar a sua alma lesará" (Pr 13,3). E no Evangelho diz o Senhor: "De toda palavra ociosa, que os homens tenham falado, dela terão de prestar contas no dia do juízo" (Mt 12,36). Cada um, portanto, "faça uma balança para as suas palavras e coloque na boca um freio ajustado, para não escorregar e não vir a cair pela língua, e para que, incurável, a sua queda não seja mortal" (Sir 28, 29-30 [25-26])[12]. Com o profeta ponha sentinelas nos próprios caminhos, de modo a não pecar pela língua[13]; diligente e cautelosamente faça esforço para guardar[14] o silêncio, onde está "a planta que a justiça cultiva" (Is 32,17).



    [1].         cf. "Não se afaste da tua boca o livro desta Lei, mas nele medita dia e noite" (Js 1,8). "Feliz o homem (...) que medita dia e noite na sua lei [do Senhor]" (Sl 1,1-2). "Quanto ao mais orai incessantemente com todas modalidades de orações e súplicas no Espírito, vigiando nesta intenção com toda perseverança e rezando por todos os santos" (Ef 6,18). "Perseverai na oração e nela vigiai" (Cl 4,2).
    [2].         Na Regra Albertina primitiva (RA - em contraposição à Regra Inocenciana) estava: "Os que têm conhecimento da leitura e sabem ler os Salmos rezem-nos cada hora segundo etc"
    [3].         cf. "Vós, pois, orai assim: Pai nosso (...)" (Mt 6,9-13) ou "Ele disse-lhes: «Quando orardes, dizei: Pai (...)" (Lc 11,2-4)
    [4].         cf. "Sete vezes ao dia eu vos louvo" (Sl 118 [119],164).
    [5].         NA RA homem
    [6].         cf. "Todos aqueles que abraçaram a fé estavam juntos e tinham tudo em comum; quem tinha propriedade e bens vendia-os e repartia com todos, de acordo com a necessidade de cada um" (At 2,44-45). E também: "A multidão dos que abraçaram a fé tinha um só coração e uma só alma e ninguém dizia que era propriedade sua aquilo que tinha, mas tudo era comum entre eles. (...) e depois era distribuído a cada um conforme alguém tivesse necessidade" (At 4,32.35).
    [7].         cf. "No centro levantar-se-á o Santuário" (Ez 48,8). E também: "E estes todos, com sentimentos iguais, eram perseverantes na oração na companhia de algumas mulheres e Maria, a Mãe de Jesus, e com os irmãos d'Ele" (At 1,14).
    [8].         cf. "Todos juntos freqüentavam o Templo todos os dias" (At 2,46).
    [9].         cf. "Entre vós tudo se faça na caridade" (1Cor 16,14). "Irmãos, no caso de ser alguém surpreendido em alguma culpa, vós que tendes o Espírito corrigi-o com espírito de doçura" (Gl 6,1). "Mediante a caridade estejais a serviço uns dos outros" (Gl 5,13). "Quem retira um pecador do seu caminho errado salvará a sua alma da morte (...)" (Tg 5,20).
    [10].       cf. "E o direito descansará no deserto e a justiça fará a sua morada no Carmelo; a paz será fruto da justiça e a justiça implantará a serenidade e haverá segurança pelos séculos" (Is 32,16-17). São imagens que lembram a beleza da vegetação; a tradução clássica do Pe. A.P.de Figueiredo traz: "e a cultura da justiça (será) o silêncio".
    [11].       A RA, em vez de Completas, trazia Vésperas e, em vez de Prima trazia Terça. Em seguida dizia: "a não ser que, por acaso, a necessidade ou uma causa razoável ou uma licença do Prior quebrem o silêncio".
    [12]. cf. "Quem porá uma guarda sobre a minha boca, sobre os meus lábios um selo prudente, para que eu não caia por culpa deles e a minha língua não seja a minha ruína?" (Sir 22,27[33]) - "Quem abre muito a boca encontra a ruína" (Pr 13,3). "Quem fala demais torna-se detestado" (Sir 20,8).
    [13].       cf. "Vigiarei sobre a minha conduta para não pecar com a minha língua e colocarei um freio na minha boca" (Sl 38[39],2).
    [14].       cf. "Cuida bem de observar diligentemente tudo quanto te ensinarem os sacerdotes" (Dt 24,8).

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