NOVIÇOS-Turma 1933 (segundo explanações de Frei José Fragoso e
uma palestra de Frei Jesus Castellano OCD na reunião da USG (União dos
Superiores Gerais).
ONTEM
1)
De eremitas a cenobitas (vida comunitária)
É impossível situarmos o nascimento
dos Carmelitas sem termos em mente o contexto sócio-político-religioso da época:
uma sociedade em crise. Nesse contexto histórico surgem formas de contestação
da Sociedade e da Igreja.
Surgem na Igreja os peregrinos que
adotam uma vida errante e pobre em contestação ao luxo e aos poderes da época.
Com as Cruzadas e a reconquista da
Terra Santa, os lugares de peregrinação mais procurados passam a ser os
"Lugares Santos" da terra de Jesus. Muitos desses peregrinos/cruzados
passaram a residir na Terra Santa como eremitas.
No Monte Carmelo, um grupo de
eremitas vive em solidão, oração e contemplação; o que os anima a viver este
estilo de vida é a forte tradição do lugar: o Monte Carmelo de forte tradição
Eliana e de forte tradição Mariana. Esse grupo procura imitar Elias nessa busca
de Deus, que se encontra na solidão.
Tiveram como inspiração principal a
primeira comunidade cristã:
"Todos os que tinham abraçado a
fé viviam juntos e punham tudo em comum: vendiam as suas propriedades e bens e
condividiam com todos, segundo as necessidades de cada um" (At 2,44-45). A
presença e a celebração do Cristo Eucarístico direcionava a vida do grupo e o
Espírito Santo animava-os através da vida comunitária.
Esse grupo de eremitas, que já
viviam em comunidade (cenobitas) pedem ao Patriarca de Jerusalém, Alberto, que
aprove o seu modo de vida e Alberto lhes dá a aprovação da sua Vitæ
Formula entre 1206 e 1214 (a duração do Patriarcado de Alberto).
No entender nosso, é Jesus o polo
principal da vida do grupo, que é animado pelo Espírito Santo e tem como
embasamento a vida comunitária.
2)
Do Monte Carmelo à Europa
Retomar, em sentido contrário, o
caminho que antes tinha sido percorrido: este era o desafio para os carmelitas
expulsos pelos Sarracenos. Como viver a Forma de Vida em um ambiente
totalmente diferente? Na sua chegada à Europa encontram bastantes dificuldades
para sobreviver, pois na Europa já habitavam como "donos" os
franciscanos e os dominicanos.
Além de enfrentarem problemas com
relação à sua própria identidade (na época, eremitas fora do eremitério eram
vistos como hereges) os frades têm que enfrentar problemas de ordem econômica e
religiosa.
3)
Do reconhecimento aos nossos dias
Depois de reconhecidos oficialmente
pela Igreja, após algumas modificações na sua Norma de Vida que passa a
ser Regra de Vida com a aprovação de Inocêncio IV, que lhes concede o
"status de Ordem", os
Carmelitas se expandem e cresce o número de conventos.
Com o passar dos tempos surgem
movimentos dentro da Ordem, que buscam viver com mais profundidade a "regra
primitiva": a Reforma de Mântua, de Albi, dos Priores Gerais, de Santa
Teresa e da mais estrita Observância (de Touraine). Todas na tentativa de viver
mais intensamente os valores da Vida Carmelitana: contemplação, oração,
fraternidade e profetismo.
HOJE
A Ordem do Carmo articula-se hoje em
21 Províncias, 3 Comissariados Gerais e 7 Comissariados Provinciais(que são
Províncias em formação) e 2 Delegações Gerais; há também os diversos grupos
operativos, subdivididos em Regiões e em outras estruturas administrativas
chamadas Assistências.
Segundo data de 31 de dezembro de
1989, eram 2032 religiosos, sendo 10 bispos, 1448 presbíteros, em 308 conventos
e 57 residências.
O Carmelo Feminino (Ordem II e Ordem
III Regular) tinha 872 monjas em 65 mosteiros e 2909 religiosas de 14
congregações afiliadas residentes em 362 casas.
Quanto aos Irmãos Terceiros
Seculares são em número considerável e não se pode oferecer senão um dado
estimativo, próximo de 10.000 ou mais. E há inúmeros grupos de leigos atraídos
pelo nosso carisma.
Os Religiosos, ordenados ou não,
desenvolvem suas atividades apostólicas em países diversos. Em primeiro lugar,
com a atualização nascida das diretrizes pós-conciliares, existe o trabalho
pastoral em 231 paróquias (dados de 1984) e, depois, aquelas tradicionais
atividades, como ensino, pregação, exercícios espirituais, culto mariano,
assistência às associações ligadas ao Carmelo etc.
AMANHÃ
Com certeza o nosso amanhã depende
do nosso ontem e do nosso hoje.
O mundo evolui, as pessoas evoluem
e, naturalmente, também evolui a Igreja formada por pessoas.
Neste final de século e de milênio
somos chamados a confrontar-nos com a Eclesiologia de Comunhão.
No mundo atual ninguém consegue
jamais isolar-se ou mesmo cercar-se com barreiras. Não existem fronteiras, que
a comunicação de massa não atinja; assim todos participam da vida de todos. Por
isso é necessário e natural que esse processo aconteça na vida da Igreja.
A universalidade e a diversidade de
igrejas dentro de uma mesma Igreja e ainda a diversidade de carismas e
congregações diferentes devem fazer com que aconteça a Comunhão Eclesial.
Deve haver um empenho urgente para
fazer acontecer essa Comunhão, porque a evolução nos faz refletir sobre
a Igreja e a Vida Religiosa do amanhã, principalmente quando se tem por
meta a "Nova Evangelização".
Não raro observamos a Não-Comunhão
na Igreja, principalmente no relacionamento entre bispos e religiosos,
hierarquia e laicato.
Tudo isto deve ser superado no nosso
amanhã.
Porém será superado se os religiosos
abraçarem a Pastoral de Conjunto, se se colocarem ao serviço da igreja local.
Mas também será superado se o valor da Vida Religiosa for reconhecido no seu
carisma como algo que dá vida à vida da Igreja e que aproxima a Igreja das
periferias da sociedade.
Sem dúvida, se a Igreja hoje está
mais próxima do Povo, é graças aos religiosos com os seus carismas que são
acima de tudo "mundanos", no sentido de terem sido dados para serem
postos "no mundo" a serviço dos marginalizados.
Deverá ser superada na Vida
Religiosa do amanhã a tendência natural das congregações de valorizarem
exacerbadamente o seu carisma, enquanto deveriam estar atraídas para o bem
comum da Igreja e do Povo.
Para a Vida Religiosa do amanhã
não serve o pensamento de alguns pastores de igrejas particulares, que dizem:
"Não servem os operários especializados neste ou naquele ramo, mas sim a
mão-de-obra comum". Esse comentário não valoriza a rica diversidade de
carismas, que não necessitam de ser homogêneos, e sim de ter o mesmo objetivo.
É necessário conscientizar-se de que
a Igreja do amanhã será eficaz enquanto todos convergirem em torno da
pessoa de Jesus Cristo e da sua missão como fragmentos do todo, reciprocamente
unidos, de maneira que não possam existir uns sem os outros: hierarquia,
diversidade de congregações e de carismas e leigos.
Cada carisma contribui com a sua
riqueza específica. Isto é inegável.
Na Vida Religiosa do amanhã
deverá haver uma Comunhão entre os carismas, mesmo porque todos têm raiz
cristológica e evangélica, como aspectos do único mistério do Cristo, como
palavras vivas do único Evangelho.
Assim para a Eclesiologia de
Comunhão, na Igreja do amanhã, os religiosos deverão exercer o papel
de peritos, de intérpretes e de animadores, podendo ser mediadores de um
diálogo entre o laicato e o ministério hierárquico, justamente porque muitos
carismas conduzem os religiosos para as periferias.
Segundo o Pe.Fábio Ciardi, «a
comunidade religiosa se redescobre como uma das grandes expressões da grande "Koinonia
Eclesial" (comunhão eclesial)
e será sempre mais ela mesma enquanto nascida da Koinonia, vivida na Koinonia
e para a Koinonia».
Assim podemos pensar o futuro do Carmelo
e chegar à conclusão de que o Carmelo do amanhã só será Carmelo, se
procurar sempre acompanhar a evolução da vida, sem perder o que de mais rico
tem, que é a sua história, o seu carisma, e sim atualizá-los; se estiver
disposto a se fazer mais uma família religiosa com as outras famílias
religiosas, reconhecendo o valor de cada uma; se estiver preparado para assumir
em Comunhão com a Igreja e com as igrejas a Fraternidade Universal.
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