Pe. Cesar Augusto dos Santos, S.J.
“Um homem que
trabalhou com inteligência, competência e sucesso, vê-se obrigado a deixar tudo
em herança a outro que em nada colaborou. Também isso é ilusão e grande
desgraça,” nos diz Coélet, autor do Eclesiastes. E a solução, proposta por ele
é comer, divertir-se, enfim um moderado aproveitamento de tudo o que a vida
oferece. A resposta que responderá plenamente nossa inquietação virá de Jesus,
no Evangelho.
Em Lucas, um homem rico ao ver que sua fazenda produz
bastante, fica muito feliz e planeja não uma redistribuição de sua produção com
os seus empregados, mas em encontrar lugar para armazenar mais. O fazendeiro é
louco, pois construiu sua riqueza sobre o suor de seus empregados e agora
deseja descansar sobre o trabalho e o sofrimento de outros, sem nada partilhar.
Jesus termina o relato desse caso dizendo que tudo o que ele armazenou ficará
para outros, já que sua vida será pedida naquela noite.
Os
bens tomaram conta da vida daquele homem e ocuparam o lugar de Deus, da família
e dele mesmo. Por outro lado o que acumulou não pode ser chamado de vida, pois
a vida se destina a todos e ele acumulou só pensando em si mesmo. O pecado do
homem rico não está em ser rico, mas está porque trabalhou exclusivamente para
si e não se enriqueceu aos olhos de Deus.
Jesus faz o alerta não apenas aos ricos, mas a todos
aqueles que só trabalham para si. Mesmo um estudante de um curso supletivo, que
estuda à noite com muito sacrifício e só pensa em desfrutar a vida no futuro, é
destinatário dessa parábola porque, apesar de ser pobre, tem um coração de
rico, deixou-se levar pelo egoísmo.
A segunda leitura nos dá a indicação de como deve ser
a vida daqueles que desejam trabalhar com sentido e quais deverão ser seus
valores. Se ressuscitastes com Cristo, esforçai-vos por alcançar as coisas do
alto, onde está Cristo, sentado à direita de Deus; aspirai às coisas celestes e
não às terrestres.” Mais adiante Paulo nos incentiva a fazer morrer em nós
aquilo que é terrestre: “imoralidade, impureza, paixão, maus desejos e a
cobiça, que é idolatria.”
O emprego de nossa vida, com seus dons, suas
potencialidades deverá ser realizado com um objetivo maior do que a simples
satisfação mundana e a simples saciação de nossas necessidades básicas. Tudo
isso vai embora. O tempo, a doença, a traça, a morte dissolverá. Nada ficará de
lembrança. Até nosso nome, com o tempo, desaparecerá. De fato, tudo ilusão!
Apenas o uso de nossas potencialidades, de nossa vida
em favor do outro, em favor da realização do Reino de Deus, dará sentido ao
nosso esforço e transformará tudo de material para imaterial, de imanente para
transcendente, de meramente humano para divino. A eternidade está na dimensão
da partilha, do nós, do outro.
O
Homem busca a face de do Outro, de Deus, que é Trindade, Comunhão. O Homem
busca a face de Deus, a comunhão eterna com o Outro. Só isso o sacia, só isso
lhe dará a perenidade que é desejada na profundidade de seu ser. Abre-se ao outro
é abrir-se a Deus, é a abrir-se à felicidade eterna.
Nenhum comentário:
Postar um comentário