Maria Soave
Oração
Vem,
Divina Ruah, doa-nos de compreender esta Palavra que acabamos de ouvir, fale
diretamente para as nossas vidas, seja palavra que nos revele o amor que Deus
tem conosco, para cada um e cada uma de nós. Jesus, companheiro libertador de
todo tipo de morte, ajuda-nos a sermos tuas seguidoras e seguidores e a
escolher, sem medo, o teu Evangelho.
A riqueza não é dividida, a riqueza
divide!
Um
homem pede a Jesus para intervir a respeito de uma briga entre ele e seu irmão
sobre a herança. De novo no evangelho tem alguém que chama Jesus para resolver
um conflito. Este alguém não tem nome próprio no texto. Provavelmente porque
cada um, cada uma de nós é chamado a identificar-se com esta personagem. Na
pergunta sobre a divisão da herança aparece uma grande ilusão. A pergunta
ilusória é sobre a divisão da riqueza. Este texto nos diz que a riqueza não é
dividida, a riqueza divide!
Jesus
recusa, neste texto, o papel de mediador do conflito. Na perspectiva da grande
ilusão da qual estes dois irmãos são vítimas, a de pensar que a riqueza que
divide e violenta possa ser dividida, Jesus não quer ser considerado o juiz
conciliador, mas o companheiro de caminhada que quer ajudar a entender e
indicar os motivos que determinam o empobrecimento e os conflitos entre as
pessoas. Estes motivos se juntam concretamente ao redor do egoísmo e da
ganância.
São
estes os dois sentimentos que habitam os irmãos deste texto do evangelho e
Jesus fala deste sentimento de desejo sem entender o que é necessário desejar.
A ilusão, de quem não conhece o que é verdadeiramente necessário e por isto
pensa de encontrar no possuir a sua segurança.
Qual
é nossa necessária necessidade? Esta é uma pergunta de fundo para a nossa vida.
Desde
os tempos antigos da caminhada de libertação no Êxodo, nossos pais e nossas
mães na fé tiveram que responder a esta pergunta. No tempo do deserto, no tempo
da divisão do poder e da profunda defesa da Vida, seguindo o Deus Libertador, o
Povo das tribos no caminho de libertação teve que aprender como dividir algo que
não sabiam nomear e por isto chamaram "maná". Tiveram que aprender a
partilhar "segundo a necessidade".
Lembramos
também que, no Primeiro Testamento, uma tribo, a de Levi, a tribo dos homens e
mulheres errantes e mendicantes de tenda em tenda, esta tribo não recebia
nenhuma herança, nenhuma terra, exatamente para poder testemunhar, na
transparência do corpo e das relações, que única herança é Javé libertador.
Também
no Segundo Testamento o contrário da ganância é a plenitude em Deus. Por isto
Paulo, na carta aos Colossenses 3,5, nos diz que a ganância é idolatria!
A
ganância faz o nosso coração se dividir entre diferentes desejos, e um coração
dividido é um coração idólatra, uma alma, transparência de corpo que perdeu o
necessário, o testemunhar em todo o respiro da Vida que única herança é Javé
Libertador!
Os bens não nos livram da morte
Neste
texto do evangelho de Lucas Jesus faz uma afirmação muito séria: "sua vida
não depende de seus bens". Como para dizer que uma pessoa não é dependendo
do que possui. Uma pessoa não é humana por causa de seus bens! A dignidade das
pessoas não tem nada a ver com os bens que possuem! Para Jesus e seu movimento
existe uma condição profundamente humana que é "outra" em relação ao
possuir.
Viver
do necessário, a capacidade de dividir para poder multiplicar, ser
transparência comunitária e ecumênica que nossa única herança é Javé libertador
de todos os pequenos e empobrecidos, é o nosso caminhar no seguimento de Jesus!
Para
mostrar como a prática da ganância seja negativa, Jesus nos conta uma parábola.
De um rico sem sabedoria, isto é sem a capacidade de olhar com os olhos do
essencial que são os olhos de Deus no meio da História da Humanidade.
Este
rico sem sabedoria acredita de estar no seguro por muitos anos tendo acumulado
muitos bens e ao qual na mesma noite é pedida de volta a própria vida. Nesta
parábola a abundância é muito presente. O homem é rico e a colheita é
abundante. O homem rico pensa entre si sobre o que irá fazer da colheita
abundante. Ma só pensar entre si e não partilhar o pensamento leva a uma
decisão egoísta e insensata que faz da bênção da abundancia na colheita uma
maldição. A bênção não pode ser de uso individual!
Uma
reflexão individual que não é partilhada em comunidade pode nos levar, como no
caso da parábola, a um programa de vida esvaziado de amor. Os bens não nos
livram da morte e da nossa finitude. Aliás, podem nos impedir de viver na
partilha e na condivisão, de aprender a viver do necessário para que ninguém
passe necessidade.
Os
bens podem não permitir que sejamos o que é nossa profunda vocação, desde os
mitos bíblicos de criação da Humanidade... gente nua e sem vergonha deste
"estado" primordial... a nudez... o que nos faz reconhecer o que
gaguejamos com o nome de Deus(...)! Nossa única e verdadeira riqueza... Amém e
amem... isto é: continuemos amando!
Para
continuar a oração: Tome em sua Bíblia o salmo 89 (90)
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