“O
Papa pode estar em perigo, porque alguns podem ter a intenção de querer
eliminá-lo”. A opinião é do cardeal Francesco Coccopalmerio (na foto, à
esquerda), um dos homens mais próximos a Francisco e presidente do Pontifício
Conselho para os Textos Legislativos da cúria romana. E acrescentava que
Bergoglio “parece não perceber o perigo, talvez porque confia no Senhor que
está com ele e em seu anjo da guarda, que deve ser muito poderoso”. A
reportagem é de José Manuel Vidal e publicada no sítio Religión Digital,
05-11-2014. A tradução é de André Langer.
O
prestigioso cardeal, que recebeu o doutor honoris causa pela Pontifícia Universidade
de Comillas, onde também fez uma conferência, não especificou de onde pode
provir o perigo para o Papa, mas admitiu que, em alguns círculos vaticanos, há
resistências à sua reforma.
Perguntado
sobre as recentes declarações nada amistosas sobre o Papa por parte de cardeais
como Burke, Rodé, Pell, De Paolis ou Müller, o purpurado canonista explicou que
“não podemos dizer que haja uma resistência organizada contra o Papa nem contra
a sua reforma. Mas há pessoas que estão muito convencidas do que pensam e temem
que os princípios doutrinais possam ser prejudicados”.
Perguntado
também se esses cardeais “resistentes” visitaram o Papa emérito, para torná-lo
partícipe das suas diferenças com Francisco, Coccopalmerio limitou-se a
responder: “Eu também li essa informação, mas me parece exagerada”.
Reivindicou,
ao contrário, a figura do seu mestre, o falecido cardeal Carlo María Martini,
de quem disse que “neste momento, estaria com o Papa Francisco, porque ambos
compartilhavam a mesma hermenêutica das pessoas”. Ou seja, ambos estão
convencidos de que “na pastoral da Igreja é necessário afirmar claramente a
doutrina, mas, às vezes, é mais necessário ainda olhar para as pessoas e os
seus sofrimentos concretos e dar-lhes respostas”. Por isso, o arcebispo de Milão
costumava dizer provocativamente: “Não quero crentes, quero pensantes”.
O segredo de Francisco
Em
todo o caso, o cardeal italiano considera que o Papa conta com o apoio do povo
de Deus, que “o sente muito próximo”, e acredita que “até mesmo os bispos são
sensíveis a esta influência de Francisco”. E que, na sua opinião, “o segredo do
sucesso de Bergoglio é que quer bem as pessoas”.
E
acrescenta: “Quando vê você, olha nos seus olhos, como para lhe dizer ‘você é
importante para mim, lhe escuto e aprecio’. E as pessoas percebem esta dinâmica
que vai do Papa às pessoas e vice-versa. As pessoas se sentem tocadas por esta
atenção genuína e não formal”.
Neste
sentido, Coccopalmerio considera que Francisco “é um amigo, como um avô,
consciente de que as pessoas necessitam de carinho e sentirem-se amadas, como
uma necessidade vital”.
Um moderador da cúria romana
Dentro
do pontificado reformador de Francisco, Coccopalmerio destacou a importância da
reforma da cúria romana com “pessoas competentes e capazes”. Na sua opinião,
não se trata apenas de internacionalizar o governo central da Igreja, mas
também e sobretudo encontrar as pessoas adequadas que “cumpram com a função
encomendada a serviço do Papa, dos bispos e dos fiéis”.
Neste
sentido reivindicou sua antiga proposta de um “moderador da cúria”, cuja
atividade essencial deveria se centrar em “ver se cada dicastério está
cumprindo sua função, algo que, neste momento, ninguém faz”.
O
presidente da Congregação para os Textos Legislativos também abordou o recente
Sínodo, do qual saiu com “uma boa impressão, porque todos os padres sinodais se
sentiram à vontade e puderam falar com total liberdade”. E, na sua opinião, “o
Sínodo foi um bom debate fraterno, com muita sensibilidade para as questões
pastorais”.
No
âmbito das questões pastorais referentes ao matrimônio, Coccopalmerio avançou
que, na sua opinião, “o procedimento de nulidade deveria ser mais simples e
mais rápido”. E, para isso, ofereceu várias propostas concretas. Por exemplo,
“caminhar para um juiz único” ou para que “em certas ocasiões, o próprio bispo
pudesse declarar um matrimônio nulo”.
Por
último, declarou que “o catolicismo espanhol está sendo bem visto por Roma” e
agradeceu o doutorado honoris causa à Faculdade de Direito Canônico da
Pontifícia Universidade de Comillas, onde tem muitos amigos e colaboradores.
Honoris Causa
O
cardeal Francesco Coccopalmerio, atual presidente do Pontifício Conselho para a
Interpretação dos Textos Legislativos, e Hermann-Josef Sieben, SJ, foram
investidos no dia 05 de novembro doutores honoris causa pelas Faculdades de
Direito Canônico e de Teologia, respectivamente, da Pontifícia Universidade de
Comillas ICAI-ICADE.
O
reitor Julio L. Martínez, SJ, ao referir-se ao cardeal, destacou em seu
discurso a busca da verdade a partir do campo do Direito, já que “há décadas
assumiu a nobre missão da revisão e reforma solicitada pelo Concílio Vaticano
II do Código de Direito Canônico”.
Coccopalmerio
lidera toda uma geração de canonistas por sua reconhecida autoridade e sua alta
responsabilidade, e porque impulsionou “a mudança de atitude e mentalidade
canônicas para que a lei necessária à Igreja seja para os fiéis um autêntico
serviço e uma eficaz garantia no exercício de seus direitos fundamentais”,
segundo o reitor.
José
Luis Sánchez Girón, vice-decano da Faculdade de Direito Canônico e padrinho do
doutorando, por sua vez, destacou “o enfoque pastoral e não falto de rigor
científico” das obras de Coccopalmerio, “um expoente que marcou uma geração de
canonistas”. Sánchez Girón destacou a proximidade do cardeal com os pobres e
desfavorecidos, e afirmou que “quando se está com ele parece que não se está
com um cardeal”.
Com
o doutorado honoris causa, a Comillas ICAI-ICADE reconhece ao professor
Hermann-Josef Sieben, SJ, ter dedicado sua vida à busca da verdade como puro
serviço, sem pretender títulos nem reconhecimentos. “Sua vida esteve consagrada
ao Senhor em um trabalho abnegado onde os tenha realizado, que, mesmo sem
pretendê-lo, mereceu o reconhecimento expresso não apenas de seus discípulos e
de seus pares, mas do próprio Papa emérito Bento”, destacou o reitor. Além
disso, “seu imenso trabalho de pesquisa guiou os nossos professores e através
de suas obras puderam foram gerações de alunos na Faculdade de Teologia. Entre
os seus serviços à Comillas cabe destacar a direção das duas excelentes teses
de doutorado dos professores Madrigal e Uríbarri, nossos dois últimos decanos”,
recordou o reitor.
Discursos de aceitação
Em
seu discurso de aceitação, intitulado “Amor ao direito, amor à lei”,
Coccopalmerio referiu-se à “impossibilidade de entender a lei sem compreender
antes o dever, e que não se pode entender este sem ter uma compreensão do
direito”. “Direito significa a exigência de receber determinados benefícios e
deve ser considerado como uma condição da pessoa, já que é uma estrutura e uma
realidade intrínseca dela”.
O
cardeal assinalou que “não existe o direito, mas a pessoa titular do direito” e
que não se pode entender este sem uma compreensão do direito. “Onde existe um
direito existe um dever, que deve ser considerado como uma necessidade vital ou
como uma condição da pessoa, inclusive como a própria pessoa”.
Hermann-Josef
Sieben, SJ, por sua vez, intitulou a sua intervenção “Como os Concílios
definiram sua relação com o Papa e vice-versa durante o primeiro milênio”.
Nela, fez uma revisão histórica na qual mencionou diferentes papas, como Leão
I, Dâmaso I e Bonifácio I, e recalcou que “as duas instituições centrais da
Igreja, o papado e os concílios, “não apenas mantiveram relações de fato entre
si, mas plasmaram esta relação de forma explícita através de textos de natureza
distinta”. Entre eles destacou as referências ao Concílio de Sárdica (ano 342),
que contém “a primeira manifestação, e a única durante muito tempo, de um
concílio referente à relação de um concílio com o Papa”. Fontes: http://bit.ly/1EtaP0H;
www.ihu.unisinos.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário