A leitura que a Igreja propõe neste
domingo é o Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus 16, 21-27 que corresponde
ao 22º Domingo do Tempo Comum, ciclo A do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol
José Antonio Pagola comenta o texto.
Eis
o texto
O ditado está registrado em todos os
evangelhos e se repete até seis vezes: “Se alguém quer salvar a sua vida a
perderá, mas quem a perde a encontrará por mim”. Jesus não está falando de uma
temática religiosa. Ele está propondo aos seus discípulos qual é o verdadeiro
valor da vida.
O ditado está expresso de forma
paradoxal e provocativa. Há duas formas muito diferentes de orientar a vida:
uma conduz para a salvação, a outra para a perdição. Jesus convida todos a
seguir o caminho que parece mais duro e menos atrativo, pois conduz o ser
humano à salvação definitiva.
O primeiro caminho consiste em se
aferrar a vida vivendo exclusivamente para si mesmo: fazer do próprio “eu” a
razão última e o objetivo supremo da existência. Este modo de viver, buscando
sempre a própria ganância e vantagem, conduz o ser humano à perdição.
O segundo caminho consiste em saber
perder, vivendo como Jesus, abertos ao objetivo final do projeto humanizador do
Pai: saber renunciar à própria segurança ou ganância, buscando não somente o
próprio bem, mas também o dos outros. Este modo generoso de viver conduz o ser
humano à sua salvação.
Jesus está falando desde sua fé num Deus
Salvador, mas suas palavras são uma forte advertência para todos: Que futuro
espera uma Humanidade dividida e fragmentada, onde os poderes econômicos buscam
seu próprio benefício; os países, seu próprio bem-estar; os indivíduos, seu
próprio interesse?
A lógica que dirige nestes momentos o
caminho do mundo é irracional. Os povos e os indivíduos estão caindo
progressivamente na escravidão de “ter sempre mais”. Tudo é pouco para dar-se
por satisfeito. Para viver bem, é necessário sempre mais produtividade, mais
consumo, mais bem-estar material, mais poder sobre os outros.
Procura-se insaciavelmente o bem-estar,
mas será que não há uma progressiva desumanização? Quer-se “progredir” cada vez
mais, mas qual é o progresso que leva a abandonar milhões de seres humanos na
miséria, na fome e na desnutrição? Por quantos anos será possível desfrutar
desse bem-estar, fechando as fronteiras aos famintos?
Se os países privilegiados só procuram
“salvar” seu nível de bem-estar, se não se quer perder o potencial econômico,
jamais se darão passos em direção a uma solidariedade a nível mundial. Mas não
nos enganemos. O mundo será cada vez mais inseguro e mais inabitável para todos
e também para nós. Para salvar a vida humana no mundo é preciso aprender a
perder.
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