Encontro
sobre a Espiritualidade Carmelitana.
Dia
17 de maio-2014.
Com
Frei Petrônio de Miranda, 0.Carm e Paulo Dhaer
4º Tema: O DNA DO CARMELO
Por
Frei Francisco Sales, O.Carm, da Província Carmelitana Pernambucana.
1.
Peregrinação.
Os primeiros
Carmelitas são peregrinos, homens inconformados com um modelo de viver a fé
que, movidos pelo desejo de seguir a Jesus de forma mais radical, buscam na
Terra Santa, o Santo da Terra. Constroem o novo, aventuram-se para garantir a
autenticidade de sua fé. O Carmelita é por natureza um inquieto, peregrino,
inconformado com a mesmice da fé e da história, aventureiro do Absoluto.
2.
Grupo, Fraternidade.
No Carmelo na há
um líder carismático, um fundador no estrito senso da Palavra. Há um grupo que,
movido por um desejo comum de fidelidade ao Evangelho, encontra-se e constroe
um modo de vida. Para o Carmelita, a razão da vida tem sua fonte numa
comunidade e está necessariamente direcionada para a construção da
fraternidade.
3.
Corações famintos.
Nós não
conhecemos os nomes dos primeiros Carmelitas, mas podemos conhecer seus
corações marcados por uma fome. Foram marcados por uma profunda experiência de
conversão, saíram do bulício das cidades para viverem na solidão, iniciando uma
vida juntos com o intuito de responderem à fome profunda de seus corações.
4.
Monte Carmelo.
O caminho
Carmelita passa necessariamente pelo monte, com todos os significados que a
espiritualidade bíblica a ele atribui. É o lugar da parada dos peregrinos, da
subida, da jornada para a comunhão com o Senhor, etc. O Monte confere ao grupo
um nome, uma identidade, uma terra. Eles irão levá-lo a todos os recantos por
onde se espalham, fazendo de suas habitações outros Pequenos Carmelos, lugares
evocativos da aventura inicial.
5.
Fonte de Elias.
O ponto de
parada dos primeiros Carmelitas é a fonte do Profeta, marco memorial dos
grandes feitos de Elias. Ao redor da fonte saciam aquela sede mais intensa e, à
imitação de Elias, deixam-se consumir de ardente zelo pelo Senhor Deus dos
Exércitos, anunciando a Boa Nova de Deus aos pobres dos povoados ao redor do
Monte Carmelo.
6.
Celas.
Espaço de
solidão e de cultivo da intimidade e do encontro com Deus, chão, no qual se
nutre a vida através da lectio divina,
lugar de luta contra toda forma de escravidão da pessoa e da conquista da
liberdade interior.
7.
Oratório.
Centro de
convergência da vida, lugar da celebração do louvor comum que transforma a vida
em sacramento da presença de Deus. Espaço para a celebração da Eucaristia, do
encontro com o Cristo vivo e presente no Pão partilhado que se transforma em
ponto gravitacional de toda a existência.
8.
A Senhora do Lugar.
O oratório é
consagrado à Virgem Maria, e à Senhora do Lugar eles próprios se consagram. No
coração da visão carmelita está Maria, como força de inspiração a quem eles
chamam irmã e na qual contemplam, como em figura, realizado todo seu desejo de
fidelidade ao projeto de Jesus.
9.
Um ritmo que orienta a vida.
Viviam em um
local aprazível e solitário; distantes o suficiente uns dos outros; dedicavam o
seu tempo à oração e reflexão; liam as Escrituras e procuravam marcar com suas
linhas os seus corações; jejuavam; trabalhavam e marcavam suas vidas ao compasso
do silêncio; reuniam-se diariamente para a eucaristia e semanalmente para
revisar a vida à luz do propósito comum; viviam uma vida de pobreza; seu líder
era eleito e morava à porta da habitação comum; acolhiam e serviam àqueles que
batiam a sua porta; desciam do Monte para irradiar a Boa Nova entre o povo do
lugar. A vida no Monte Carmelo centrava suas vidas dispersas e apaziguava suas
mentes confusas, libertando os seus corações das urgências e compulsões do
tempo. Viveram quase 100 anos neste ritmo de vida.
10.
A Norma de Vida.
A vida vivida
foi codificada numa Regra que se transforma no referencial permanente, na Fonte
que contém as indicações concretas para a fidelidade, sempre aberta para
aqueles que fizerem mais. Mais do que normativa, a Regra é um elemento
carismático, indicativo e dinâmico.
11.
Viagem de volta.
Diante das
dificuldades e perseguições, os carmelitas fizeram a viagem de volta,
transfigurados. Deixaram o Carmelo, mas o Carmelo nunca mais os deixou,
forjaram uma nova visão do Carmelo, como referencial espiritual de suas vidas.
O Carmelita é aquele que, uma vez bebendo da fonte, é capaz de refazer o
caminho de volta e recontar a própria história a partir da experiência vivida.
12.
Mendicância.
A dinâmica das
Ordens Mendicantes é assimilada pelo Carmelo desde a sua origem e sobretudo a
partir do seu retorno na Europa. Momento vivido com os conflitos próprios de
toda mudança. A Regra é adaptada à nova realidade e mais uma nota é acrescida à
sinfonia inicial do Carmelo, incorporando outros elementos, como a itinerância,
a simplicidade de vida, o serviço ao povo de Deus nas realidades desafiadoras
das cidades, a abertura ao inesperado,
etc.
Estes
referenciais simbólicos estão impressos no coração de cada carmelita, fazem
parte do nosso DNA espiritual, renascem em cada nova geração e nos ajudam a
entender e a viver melhor o dom especial do Carmelo para a Igreja. Eles nos
provocam continuamente em nossos desejos e impulsos de fidelidade, em nossos
projetos e escolhas. Eles nos ajudam, diante dos desafios com os quais nos
confrontamos, a recriar o significado de nossa vida e de nossa presença na
Igreja e no mundo, mantendo a fidelidade à nossa identidade, atualizando-os
numa tensão fecunda entre passado e presente em vista do futuro.
PARA
REFLETIR:
1º Onde está um
carmelita(a) aí está o carmelo. Em família, no trabalho, na comunidade... somos
sinais vivos da espiritualidade carmelitana?
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