"A
vida do corrupto é podridão". Na missa em Santa Marta, Francisco critica
abertamente quem é "benfeitor da Igreja (…) mas rouba o Estado e os
pobres". A condenação da corrupção dentro e fora da Igreja é um tema
dominante do pontificado. A reportagem é de Giacomo Galeazzi, publicada no
jornal La Stampa, 12-11-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
"Cristãos
corruptos, padres corruptos", a "vida dupla" transforma o
cristão em um "sepulcro caiado", talvez bonito externamente, mas
"cheio de ossos mortos e podridão". Além disso, "Jesus diz que a
esse tipo de cristão de vida dupla deve ser posta uma pedra de moinho ao
pescoço e deve ser jogado ao mar".
Bergoglio
sublinha a "diferença" entre pecar e escandalizar. "Quem peca e
se arrepende, pede perdão, se sente fraco, se sente filho de Deus, se humilha",
observa o pontífice, enquanto aquele que escandaliza "continua pecando,
mas finge ser cristão", leva uma "vida dupla", engana, e
"onde há engano não há o Espírito de Deus". Portanto, "nós
devemos nos dizer pecadores, sim, todos aqui, todos o somos. Corruptos,
não". De fato, "o corrupto é fixado em um estado de suficiência, não
sabe o que é a humildade".
Jesus,
sublinha Francisco, denuncia o comportamento de "sepulcros caiados".
E "um cristão que se orgulha de ser cristão, mas não tem uma vida de
cristão, é um desses corruptos". Além disso, "todos conhecemos alguém
que está em uma situação semelhante, e quanto mal eles fazem à Igreja! Cristãos
corruptos, padres corruptos, quanto mal fazem à Igreja! Porque não vivem no
espírito do Evangelho, mas no espírito da mundanidade".
Bergoglio
cita São Paulo, que adverte na Carta aos cristãos de Roma: "Não se
conformem a este mundo, não entrem nos seus esquemas e parâmetros". Daí,
de fato, "nasce a mundanidade que te leva à vida dupla".
A
luta contra a corrupção é uma pedra angular do Evangelho social de Bergoglio.
"A sua teologia é uma teologia da libertação que substitui o marxismo pela
misericórdia cristã", observa o porta-voz da Comunidade de Santo Egídio,
Mario Marazziti. "Ele coloca na centro a mudança e os direitos dos
últimos, sem os quais não há dignidade humana, chamando a boa política a
corrigir as distorções do capitalismo globalizado e a se retomar o primado na
cena pública para não deixar o campo livre para a economia, para a religião da
individualidade e para os interesses corporativos".
Além
dos administradores desonestos, o papa se refere aos "gnomos das
finanças". Na primeira viagem do pontificado, a Lampedusa, ele denunciou
"a crueldade daqueles que, no anonimato, tomam decisões condições socioeconômicas
que abrem o caminho para as tragédias das migrações". Uma abordagem de
reformador que também encontra implementação na sua ação de limpeza financeira
e organizativa da estrutura eclesiástica.
Uma
verdadeira "perestroika" na Cúria que teve a sua incubação no
"laboratório Buenos Aires", no qual se formou o primeiro pontífice
jesuíta e sul-americano da história. Na América Latina, a batalha
conquistou-lhe a estima dos líderes do movimento pelos direitos humanos, como
Alicia de Oliveira, e o respeito das Mães da Praça de Maio, duríssimas contra a
hierarquia católica.
Bergoglio
nunca se curvou aos caudilhos, militares ou políticos, que se alternaram no
comando da Argentina. Ele compartilha a postura política do seu antecessor,
Antonio Quarracino, não distante da ala popular dos peronistas.
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