No
Vaticano, alguns lamentam os bons tempos dos papas mudos. Quando os pontífices
só se expressavam por meio de textos escritos, de seu próprio punho ou não.
Esses documentos não saíam sem terem sido aprovados pelos guardiões da Verdade.
A nota é de Philippe Clanché, publicada no blog Cathoreve, 22-11-2013. A
tradução é de Moisés Sbardelotto.
Sabemos
que Francisco gosta de improvisar. A cada manhã, durante a sua missa na Casa
Santa Marta, não é o soberano pontífice que se expressa, mas sim um pastor
jesuíta que veio da Argentina. O que inspira a liturgia do dia não é
necessariamente a palavra oficial da Igreja e nem tem vocação de ser.
Apresentado
como um homem que foge da mídia, ele concedeu várias entrevistas incluindo uma,
famosa, com um "estranho" da família, Eugenio Scalfari, fundador do
jornal de esquerda La Repubblica. O fruto das suas conversas, largamente
difundido, foi recentemente removido do site oficial da Santa Sé, por decisão
do secretário de Estado
"Essa
entrevista é fiável no seu sentido geral, mas não nas suas formulações
concretas", indicou o padre Federico Lombardi, porta-voz da Santa Sé,
decididamente pressionado pelo seu companheiro jesuíta.
O
papa sabe que um responsável hoje se expressa através de dois canais: o
"on" e o "off". Na França, a página 2 do Canard Enchaîné é
mais instrutivo sobre o que os dirigentes franceses têm em mente do que os seus
discursos públicos ou as suas entrevistas controladas.
A
Santa Sé tem razão em lembrar que não se pode confundir o status das
intervenções papais. Talvez pode ser equivocado marcar uma hierarquia muito
forte que tenderia a desacreditar toda palavra não marcado com o selo oficial.
A língua do papa às vezes é incontrolável, por ser espontânea, e ele, por meio
dos seus colaboradores, terá que dar razão dela.
Essa
história também põe uma questão grave: um papa pode falar de outra forma que
como papa? De manhã, na missa, ele quer ser um simples padre que faz uma
pregação. Às vezes, ele aspira a ser um católico em diálogo e em busca com a
sociedade. Diante de Eugenio Scalfari, foi Jorge Mario Bergoglio que buscou
evocar um caminho e convicções.
O
papa não tem a intenção de se abster dessas incursões fora de pista. Com os
riscos de "derrapagens". "O papa não tem medo de se
equivocar", escrevia o jesuíta François Euvé, diretor da Études. Francisco,
o de Roma, é humano, o que não deveria ser incompatível com a sua função.
Em
uma comunicação antigamente muito bem "azeitada" (João Paulo II
dirigido por Joaquín Navarro-Valls) ou, ao contrário, muito desordenada (Bento
XVI e o Pe. Lombardi, que já estava ciente dos eventos dois minutos antes da
imprensa mundial...), esse vento de frescor é apreciável. João XXIII permanece
também no coração dos católicos por causa dos seus floreios, das suas pequenas
frases. Um gênero que renasce hoje em Roma.
Essa
espontaneidade papal não é útil apenas para jornalistas em busca de furos
jornalísticos. Às vezes, ela coloca o seu autor no mesmo plano daqueles e
daquelas que avançam às apalpadelas no caminho da fé em Deus.
Nota:
1.
Muito atrás, principalmente no processo de reforma da Santa Sé, o secretário de
Estado tenta mostrar que ainda tem algum poder. O de fazer uma triagem na
palavra papal. Incapaz de poder influenciar.
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