Tá
todo mundo assanhado com a notícia da excomunhão do padre em Bauru. Mas Bauru
entende de excomunhão...
Em 1913 , a cidade estava em plena expansão pois
acabara de se tornar o maior entroncamento ferroviário do país, com a união dos
trilhos da Estradas de Ferro Paulista, Sorocabana e Noroeste do Brasil. A
cidade precisava ser urgentemente reurbanizada e um dos entraves era a antiga
Capela do Espírito Santo que ficava na Praça Ruy Barboza e impedia que fosse
aberta aquela que veio a se tornar uma das ruas mais importantes da cidade: a
Batista de Carvalho.
O então prefeito entrou em contato com o Bispo
responsável pela região, Don Lúcio Antunes de Souza, solicitando a mudança da
capela de lugar, o que foi recusado pelas autoridades da igreja, criando um
impasse. Diante do insucesso das conversações o prefeito decidiu partir para
outro caminho: às escondidas, mandou que fossem feitas rachaduras nas paredes da
capela, criando uma situação de ameaça à população. E numa noite, na surdina,
uma equipe de demolição entrou na capela, retirou todos os santos e objetos
sagrados e partiu para o desmanche. Na manhã seguinte os bauruenses acordaram
perplexos com a notícia de que a capela não existia mais.
O Bispo, furioso, simplesmente excomungou o povo de
Bauru!
Bauru
passou a ser uma cidade excomungada até a revogação daquele ato 54 anos depois,
em 1967, pelo Papa Paulo VI.
Em 1915 o Bispo, que era de Botucatu, visitou Bauru, o
que gerou uma reação dos “livres pensadores de Bauru”que publicaram um anuncio
no jornal, que meu pai, Luciano Pires, editor do jornal histórico Bauru
Ilustrado, me enviou.
Leia
o texto publicado 98 anos atrás (mantive a escrita original) e veja se você
encontra alguma similaridade com os discursos que estamos vendo hoje:
AO POVO EXCOMUNGADO DE BAURU
Hoje, dia 23, o iracundo ministro D. Lúcio, que outro
dia lançou sobre nós a impotente e ridícula excomunhão, virá a esta cidade a
fim de inaugurar a nova estalagem, mas principalmente para exercer uma
vergonhosa estorção em prejuízo da classe dos ingênuos que, ainda hoje, nesta
época de esplendores científicos, continuam a permanecer nas trevas em que os
arremessaram talvez para sempre, estes ministros pertencentes ao exército da
seita religiosa. Disse a imprensa clerical de Bauru que o Bispo Diocesano será
recebido festivamente. Não a provocante presença de um sujeito que nos insultou
um dia, brutalmente, ajunta-se também o sarcasmo d’uma imprensa retrógrada e
servil atirando jocosamente contra a maioria deste povo.
Mas D. Lúcio pode vir e não seremos nós, certamente a
opor-nos a isto, pois aqui nunca se negou hospitalidade nem a empresários de
circos de cavalinhos e de variedades, nem a companhias zoológicas e mesmo a
toreada cuja bárbara forma de diversão teve começo nos tempos da S.S.
Inquisição tem encontrado aqui o maior concurso. A D. Lúcio pois, não lhe pode
faltar uma estrondosa manifestação. Em Bauru há fartura de beócios, e não
faltam aqui jesuítas e padres de batina e de casaca, nem hipócritas
interessados em difundirem e cultivar o obscurantismo e a ignorância nas massas
incultas, para melhor exercerem a sua exploração criminosa. Que vão estes a
fazer a anunciada recepção festiva ao príncipe da igreja, mas o povo que não
teme a excomunhão, como não teme a luz fascinadora do progresso, o povo ativo e
honesto não irá não só, mas leva desde já alto e solene o seu protesto da vinda
a n’esta cidade do representante desta religião que é o ódio semeado ao seio da
humanidade, o servilismo resignado de milhões de escravos; é a ferocia
arrogante dos papas e dos padres, é o triunfo d’uma moral perversa, moral que
gera a resignação que rompe os esforços poderosos da energia dos povos,
perpetuando o despotismo e a esploração do homem sobre o homem.
Bauru, 23 de Dezembro de 1915
Interessante que a excomunhão de uma pessoa deu mais o que falar do que a de uma cidade inteira, acredito que quando trabalhamos em uma empresa não devemos ir contra as regras dela o mesmo vale para quando servimos a igreja. Os padres pedófilos que não foram excomungados não o foram porque provavelmente tiveram a humildade de pedir perdão para recomeçar. Não conheci esse padre, mas acho que o que ele não entendeu é que a igreja não é contra o homossexual e sim contra a pratica do homossexualismo e a igreja não proíbe a entrada de homossexuais, porque os tem como filhos assim como a todas as outras pessoas. A igreja não é contra a liberdade de expressão a igreja é contra aquilo que ela acredita ser necessário para que as pessoas sejam felizes, quer ser um casal hétero que mora junto sem se casar? vai ser... Quer ser homossexual? vai ser... Quer ser padre? vai ser... Só não se esqueça que cada escolha é uma renuncia!
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