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sexta-feira, 3 de maio de 2013

BAURU/SP: Cidade excomungada ! ?


Tá todo mundo assanhado com a notícia da excomunhão do padre em Bauru. Mas Bauru entende de excomunhão...
Em 1913 , a cidade estava em plena expansão pois acabara de se tornar o maior entroncamento ferroviário do país, com a união dos trilhos da Estradas de Ferro Paulista, Sorocabana e Noroeste do Brasil. A cidade precisava ser urgentemente reurbanizada e um dos entraves era a antiga Capela do Espírito Santo que ficava na Praça Ruy Barboza e impedia que fosse aberta aquela que veio a se tornar uma das ruas mais importantes da cidade: a Batista de Carvalho.
O então prefeito entrou em contato com o Bispo responsável pela região, Don Lúcio Antunes de Souza, solicitando a mudança da capela de lugar, o que foi recusado pelas autoridades da igreja, criando um impasse. Diante do insucesso das conversações o prefeito decidiu partir para outro caminho: às escondidas, mandou que fossem feitas rachaduras nas paredes da capela, criando uma situação de ameaça à população. E numa noite, na surdina, uma equipe de demolição entrou na capela, retirou todos os santos e objetos sagrados e partiu para o desmanche. Na manhã seguinte os bauruenses acordaram perplexos com a notícia de que a capela não existia mais.
O Bispo, furioso, simplesmente excomungou o povo de Bauru!
Bauru passou a ser uma cidade excomungada até a revogação daquele ato 54 anos depois, em 1967, pelo Papa Paulo VI.
Em 1915 o Bispo, que era de Botucatu, visitou Bauru, o que gerou uma reação dos “livres pensadores de Bauru”que publicaram um anuncio no jornal, que meu pai, Luciano Pires, editor do jornal histórico Bauru Ilustrado, me enviou.
Leia o texto publicado 98 anos atrás (mantive a escrita original) e veja se você encontra alguma similaridade com os discursos que estamos vendo hoje:

AO POVO EXCOMUNGADO DE BAURU

Hoje, dia 23, o iracundo ministro D. Lúcio, que outro dia lançou sobre nós a impotente e ridícula excomunhão, virá a esta cidade a fim de inaugurar a nova estalagem, mas principalmente para exercer uma vergonhosa estorção em prejuízo da classe dos ingênuos que, ainda hoje, nesta época de esplendores científicos, continuam a permanecer nas trevas em que os arremessaram talvez para sempre, estes ministros pertencentes ao exército da seita religiosa. Disse a imprensa clerical de Bauru que o Bispo Diocesano será recebido festivamente. Não a provocante presença de um sujeito que nos insultou um dia, brutalmente, ajunta-se também o sarcasmo d’uma imprensa retrógrada e servil atirando jocosamente contra a maioria deste povo.
Mas D. Lúcio pode vir e não seremos nós, certamente a opor-nos a isto, pois aqui nunca se negou hospitalidade nem a empresários de circos de cavalinhos e de variedades, nem a companhias zoológicas e mesmo a toreada cuja bárbara forma de diversão teve começo nos tempos da S.S. Inquisição tem encontrado aqui o maior concurso. A D. Lúcio pois, não lhe pode faltar uma estrondosa manifestação. Em Bauru há fartura de beócios, e não faltam aqui jesuítas e padres de batina e de casaca, nem hipócritas interessados em difundirem e cultivar o obscurantismo e a ignorância nas massas incultas, para melhor exercerem a sua exploração criminosa. Que vão estes a fazer a anunciada recepção festiva ao príncipe da igreja, mas o povo que não teme a excomunhão, como não teme a luz fascinadora do progresso, o povo ativo e honesto não irá não só, mas leva desde já alto e solene o seu protesto da vinda a n’esta cidade do representante desta religião que é o ódio semeado ao seio da humanidade, o servilismo resignado de milhões de escravos; é a ferocia arrogante dos papas e dos padres, é o triunfo d’uma moral perversa, moral que gera a resignação que rompe os esforços poderosos da energia dos povos, perpetuando o despotismo e a esploração do homem sobre o homem.

Bauru, 23 de Dezembro de 1915

Um comentário:

  1. Interessante que a excomunhão de uma pessoa deu mais o que falar do que a de uma cidade inteira, acredito que quando trabalhamos em uma empresa não devemos ir contra as regras dela o mesmo vale para quando servimos a igreja. Os padres pedófilos que não foram excomungados não o foram porque provavelmente tiveram a humildade de pedir perdão para recomeçar. Não conheci esse padre, mas acho que o que ele não entendeu é que a igreja não é contra o homossexual e sim contra a pratica do homossexualismo e a igreja não proíbe a entrada de homossexuais, porque os tem como filhos assim como a todas as outras pessoas. A igreja não é contra a liberdade de expressão a igreja é contra aquilo que ela acredita ser necessário para que as pessoas sejam felizes, quer ser um casal hétero que mora junto sem se casar? vai ser... Quer ser homossexual? vai ser... Quer ser padre? vai ser... Só não se esqueça que cada escolha é uma renuncia!

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