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Orani João Tempesta, O. Cist.. Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio
de Janeiro, RJ
A
solene celebração da Ressureição do Senhor Jesus Cristo – Páscoa – está para o
ano litúrgico da mesma forma que o domingo para a semana. É a festa mais
importante da Liturgia Católica. Por isso também se diz que cada domingo é uma
celebração pascal.
O
Missal Romano nos educa perfeitamente na celebração do mistério pascal em suas
normas universais sobre o ano litúrgico: “O Tríduo Pascal da Paixão e
Ressurreição do Senhor começa com a missa vespertina na Ceia do Senhor, tem seu
centro na Vigília Pascal e encerra-se com as Vésperas do domingo da
Ressurreição”.
Voltemos
um pouco ao passado para compreender a Liturgia Pascal. A Ásia Menor celebrava
a Páscoa no dia 14 de Nisan, já as Igrejas que seguiam a tradição romana
celebravam a Páscoa no domingo seguinte a esta data. As duas primeiras homilias
da Páscoa remontam do século II. A primeira é de Melitão de Sardes (entre os
anos de 165 e 185), porém não se tem a autoria da segunda. Na homilia de
Melitão, dividida em três partes, há no centro a reflexão de que a Páscoa
judaica já não é fato, pois a verdadeira Páscoa é apresentada na vitória de
Jesus sobre o pecado e a morte. Ali se dá a síntese da história da salvação de
toda humanidade, desde a criação até a parusia.
Buscando
compreender o termo Páscoa, façamos um olhar atento à herança da cultura da
época. A palavra Pascoa é uma transliteração do aramaico “paschá”, no hebraico
“pesah”, e do grego “pasjein”. O Antigo Testamento apresenta o termo 49 vezes,
indicando o rito da lua cheia da primavera em 34 vezes, e em 15 vezes cita o
“cordeiro imolado”.
O
termo Páscoa lembra a passagem dos judeus pelo Mar Vermelho e o deserto até a
entrada na terra prometida. Para os cristãos, esta “passagem” testemunha o
movimento da humanidade que migra do pecado à graça da salvação que se dá pela
paixão, morte e ressurreição de nosso Senhor Jesus Cristo.
A
Liturgia Católica apresenta uma riqueza de ritos neste período em preparação à
Páscoa. Desde a Quaresma, Domingo de Ramos até culminar na celebração da
Vigília Pascal, que apresenta quatro momentos importantes: celebração da luz,
liturgia da palavra, celebração batismal ou renovação das promessas batismais e
a celebração eucarística.
Porém,
a Páscoa é prorrogada durante a oitava e continua sendo festejada por um
período litúrgico chamado de Tempo Pascal, que vai até o Domingo da Ascensão e
culmina com a solenidade do dia de Pentecostes, a descida do Espírito Santo
sobre a comunidade dos Apóstolos, e hoje estendida a todos nós. Assim, pelo
batismo somos os continuadores da presença do Cristo ressuscitado. Depois, a
Páscoa é sempre recordada em cada domingo do calendário litúrgico.
A
Literatura Católica é muito rica e vasta, com conteúdos que ajudam os fiéis a
compreender essa solenidade, como por exemplo, podemos ver alguns itens
apresentados no Catecismo da Igreja Católica: “O mistério Pascal no tempo da
Igreja, O mistério Pascal nos Sacramentos da Igreja, A celebração sacramental
do Mistério Pascal”. Além disso, outros documentos do magistério da Igreja
intensificam a reflexão do mistério pascal.
O
mistério pascal, conforme o Novo Testamento, mostra o Reino de Deus oculto às
massas, mas revelado aos eleitos. Nos escritos de São Paulo Apóstolo,
refletimos a salvação que Deus oferece à humanidade de todos os tempos,
realizada em Cristo e confiada seguidamente aos apóstolos e a toda Igreja para
que se tornem discípulos missionários no anúncio desta realidade salvífica a
todos os fiéis.
Acontece
uma dinamicidade entre três elementos muito importantes no Mistério Pascal: a)
situação de morte, b) a vida que brota da morte, c) a intervenção especial de
Deus. Assim, a vida que brota da morte cria a consciência de uma nova criação.
Do mesmo modo que fomos criados, fomos redimidos, portanto, “recriados”, saindo
dos pecados provocados pelos apetites desenfreados.
Devemos,
porém, nos voltar para o mistério salvífico entre Deus e a humanidade, que se
dá na doação da vida de Jesus pela humanidade. A primeira aliança foi a
libertação do povo israelita da opressão do Egito. A nova e eterna aliança é
tirar a humanidade do peso do pecado, libertando-a definitivamente do mal.
Depois
de dois milênios, continuamos todos inseridos no mistério da Páscoa – a
ressurreição – que já nos é presenteada pelo nosso Batismo e vivência fiel aos
sacramentos. Nestes dias, vimos pelos meios de comunicação as diferentes
manifestações da Paixão por todo o Brasil. Tivemos celebrações litúrgicas,
momentos devocionais populares e manifestações culturais. A época é tão
importante que todos manifestam a seu modo um pouco de sua realidade e
esperança. Cada lugar fez de acordo com sua tradição e costume. Aqui no Rio de
Janeiro também procuramos valorizar a importância da arte. Meus agradecimentos
a tantos que celebraram liturgicamente estes momentos profundos e as belas
manifestações populares. Parabéns, também, a todos os artistas e músicos que se
apresentaram tanto nos Arcos da Lapa como em tantas paróquias e comunidades de
nossa Arquidiocese.
Somos
chamados a viver a Páscoa e viver como discípulos missionários de Cristo, hoje
testemunhando sua Ressurreição! Que esta Páscoa nos renove na caminhada por um
mundo de paz e fraternidade, preparando-nos para sermos uma Igreja viva e
ressuscitada, quando em julho receberemos os irmãos jovens de todos os
continentes para ouvir o nosso querido Papa Francisco que estará conosco.
A
Páscoa continua sendo celebrada durante a oitava, como também no tempo pascal e
em toda a liturgia da Igreja. Caríssimos, desejo-lhes uma FELIZ E SANTA PÁSCOA!
Louvado
seja Nosso Senhor Jesus Cristo!
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