Frei
Carlos Mesters, Lopes e Orofino
OLHAR DE PERTO AS COISAS DA NOSSA VIDA
No
texto de hoje, vamos meditar o último diálogo de Jesus com os discípulos. Foi
um reencontro celebrativo, marcado pela ternura e pelo carinho. No fim, Jesus
chamou Pedro e perguntou três vezes: "Você me ama?" Só depois de ter
recebido, por três vezes a mesma resposta afirmativa é que Jesus deu a Pedro a
missão de tomar conta das ovelhas. Para
poder trabalhar na comunidade Jesus não pergunta se sabemos muito. O que ele
pede é que tenhamos muito amor! Vamos conversar sobre isto.
SITUANDO
O
capítulo 21 é um apêndice. A conclusão do capítulo anterior encerra tudo. O
livro estava pronto. Mas havia muitos outros fatos sobre Jesus. Se fossem
escritos, um por um, "o mundo não poderia conter os livros que se
escreveriam". Por isso, por ocasião da edição definitiva, alguns destes
"muitos outros fatos" sobre Jesus foram selecionados e acrescentados,
muito provavelmente, para clarear os novos problemas do fim do século I.
Eis
a lista dos fatos acrescentados no apêndice:
1.
Jo 21,1-3: A volta à pescaria: o difícil trabalho da evangelização
2.
Jo 21,4-8: A pesca abundante: a palavra de Jesus faz crescer a comunidade
3.
Jo 21,9-14: A celebração da ceia, presidida por Jesus que une a todos
4.
Jo 21,15-17: O primado do amor no centro da missão
5.
Jo 21,18-23: A discussão em torno da morte de Pedro e do Discípulo Amado
6.
Jo 21,24-25: A nova conclusão do Quarto Evangelho.
Os
outros evangelhos contêm episódios semelhantes a estes e foram conservados no
apêndice do Evangelho de João. Mas eles os colocaram em outros momentos da vida
de Jesus. Por exemplo, Lucas situa a pesca abundante bem no começo. Mateus
coloca a missão de Pedro no fim da permanência na Galileia.
COMENTANDO
João
21,1-3: "Vamos pescar!" - retrato de um início difícil
Duas
coisas chamam a atenção. A primeira é que os discípulos passaram a noite toda
pescando e não apanharam nada. Isto significa que o começo do anúncio da Boa
Nova, logo depois da morte e ressurreição de Jesus, não foi fácil. Muito
trabalho e pouco resultado! Pouco peixe na rede. Mas eles continuaram tentando.
Não desanimam. Têm perseverança. A segunda é que eles ainda não se dispersaram
e continuam unidos, apesar das dificuldades. Então quase todos aí. Pedro, na
frente, que toma a iniciativa. Junto dele Tomé, Natanael, Tiago e João, mais
dois outros, cujos nomes não são revelados, e o discípulo a quem Jesus amava.
João 21,4-6: Nova ordem de lançar a rede
De
manhã cedo, quando vêm voltando da pescaria frustrada, Jesus está na praia, mas
eles não o reconhecem. Depois de ter constatado que não tinham pescado nada,
Jesus manda lançar novamente a rede. Lançaram, e ela ficou tão cheia de peixes,
que não deram conta de puxá-la. É a palavra de Jesus que faz crescer a
comunidade! É a mesma abundância que já
notamos quando Jesus mudou água em vinho e quando multiplicou os pães no
deserto.
João 21,7-8: O amor é capaz de
reconhecer Jesus
Vendo
o resultado da pesca, o Discípulo Amado disse a Pedro: "É o Senhor!"
O amor é capaz de reconhecer a presença de Jesus nas coisas que acontecem na
vida. Ouvindo isso, Pedro, que estava nu, colocou uma roupa no corpo e pulou na
água. É o Discípulo Amado que abriu os olhos de Pedro. Quando Pedro descobre a
presença de Jesus, descobre também que ele mesmo está nu. Como diz a Carta aos
Hebreus: diante de Jesus, a Palavra de Deus, "não há criatura oculta à sua
presença, mas tudo está nu e descoberto" (Hb 4,13). Descobrindo Jesus,
Pedro se reencontra consigo mesmo. Ele se refaz (coloca a roupa) e se torna
capaz de enfrentar o mar. Estavam perto da margem. Os outros vêm atrás do
barco, arrastando a rede cheia de peixes.
João 21,9-14: A celebração da ceia,
presidida por Jesus que une a todos
Chegando
à praia, descobrem que Jesus já tinha preparado uma refeição com pão e peixe
assado nas brasas. Jesus manda trazer mais uns peixes dos que foram apanhados
na rede. Pedro sobe no barco e arrasta a rede para a terra. Fazendo as contas,
eram 153 peixes grandes, e, "apesar de serem tantos, a rede não se
rompeu". Tudo isto tem um valor simbólico muito grande. A rede simboliza a
Igreja. É Pedro que arrasta a rede, mas é o Discípulo Amado que reconhece
Jesus. Alguns acham que tudo isto se refere a um fato que aconteceu no fim do
século I. Diante das perseguições cada vez mais fortes contra os cristãos, as
comunidades do Discípulo Amado com seus 153 membros uniram-se às outras
comunidades coordenadas pelos outros apóstolos. E aí todos juntos fizeram uma
grande celebração da unidade, em cujo centro estava o próprio Senhor Jesus,
preparando a Ceia.
João 21,15-19: O amor no centro da
missão
Terminada
a refeição, Jesus chama Pedro e pergunta 3 vezes: "Você me ama?" Três
vezes, porque foi três vezes que Pedro negou Jesus. Depois de três respostas
afirmativas, Pedro recebe a ordem de tomar conta das ovelhas. Jesus não
perguntou se Pedro tinha estudado exegese, teologia, moral ou direito canônico.
Só perguntou: "Você me ama?" Foi nessa hora que Pedro se tornou
também "Discípulo Amado". O amor em primeiro lugar. Para as
comunidades do Discípulo Amado, o que sustenta o primado e mantém as
comunidades unidades não é a doutrina, mas sim o amor.
Fonte: http://www.cebi.org.br
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