Total de visualizações de página

Seguidores

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

A MISSÃO DO CARMELO HOJE

Dom Vital Wilderink, O.Carm.

PRELIMINARES.
A vida religiosa carmelitana brota certamente do Evangelho. É um PASSADO de vida que nos permite situar nossa vida no PRESENTE e direcioná-la para o FUTURO. É uma IDENTIDADE que permite falar de MISSÃO. Ambas dependem do CONTEXTO CULTURAL E SOCIAL que se vive. Se se vive a realidade carmelitana; se se participa do tecido de vida carmelitano, pode-se testemunhar. Mas a distância pode até ensejar uma interpretação mais adequada, na medida em que, da realidade em que está mergulhado, o intérprete   parte da memória do Carmelo e do lugar em que se encontra. Corre o risco de uma certa INGENUIDADE, denunciada por quem sofre diretamente o "espinho na carne" , mas o batismo no  múnus profético de Jesus é a sua consagração para um PROFETISMO livre do espírito da moda.

O QUE É MISSÃO.
Existe o ENCARGO (múnus) e a MISSÃO (envio). O conceito de "missão" possui uma característica mais dinâmica. A palavra "missão" implica a CONSCIÊNCIA DE SER ENVIADO. Isto faz pensar na "origem" , no "conteúdo" , nas "mediações" e nos "destinatários" da missão. --- Há tempos atrás, "missão" era envio para evangelizar os países não-cristianizados ("ad gentes"); hoje, é envio para evangelizar os próprios países cristãos. Na Igreja,   nascida da ação evangelizadora de Jesus e dos Doze, a "missão" aparece cada vez mais claramente tanto como seu OBJETIVO, quanto como sua REALIDADE ÍNTIMA E CONSTITUTIVA: "Evangelizar constitui, de fato, a graça e a vocação mesma da Igreja, A SUA MAIS PROFUNDA IDENTIDADE" (EN, 15). E isto a coloca numa postura permanente de ABERTURA ao mundo, aos homens e aos povos que não conhecem o Evangelho. Evangelizar = tornar NOVA a humanidade; como parte desta, a Igreja se obriga a uma atitude de incessante AUSCULTAR AS OBRIGAÇõES DA FÉ, as RAZÕES DA ESPERANÇA e o MANDAMENTO DO AMOR. --- A complexa evangelização é responsabilidade de todo batizado/confirmado, sugerindo com isso o quanto de colaboração e intercâmbio deve haver entre os dons específicos de vocação pessoal ou grupal. Aqui, missão e carisma, identidade e espiritualidade se tornam, na teoria e na prática, conceitos afins e complementares. Na vida consagrada cuja expressão são os VOTOS, a consagração não pode estar separada da missão, esta não pode ser confundida com ATIVIDADE (obras ou apostolado). A missão da vida consagrada tem uma referência indispensável ao Cristo CONSAGRADO E ENVIADO AO MUNDO, em total dedicação. Assim deve tê-la entendido Santa Teresinha, para ser proclamada "padroeira das missões". Disso depende o modo de viverem os CONSAGRADOS sua missão e seu carisma. --- Missão, na Igreja, não é acréscimo, é natureza íntima, encarnação e comunicação da comunhão trinitária, dom divino de salvação. Ser "sacramento de Deus" já é missão. Do que se conclui que a missão não é propriedade da Igreja, mas vem de Deus:TRINDADE, RAZÃO DE SER, NATUREZA E RIQUEZA (sua fonte) e vai para Deus (seu destino final). Essencial à missão é TORNAR TRANSPARENTE A VIDA-AMOR DE DEUS TRINO. Assim como a Vida Consagrada, o Carmelo é POSTERIOR à missão de Igreja, uma codificação desta. --- Está inserida na palavra "missão" a CONSCIÊNCIA DE SER ENVIADO, intimamente conexa com o SER-ENVIADO-PELO-PAI DE JESUS e  implicando num SAIR, num DESLOCAR-SE (cf FL 2, 6-7). Por isso, a Vida Consagrada nunca foi a confirmação de um "status quo"! Sua  missão sempre teve um tom de CORREÇÃO, RENOVAÇÃO E INOVAÇÃO projetado sobre a sociedade, com base em algum aspecto da missão de Jesus. Além do mais, a missão da Vida Consagrada sempre foi influenciada pelas circunstâncias HISTÓRICAS E ECLESIOLÓGICAS, razão de seus momentos concretos e suas crises de missão (ex.: processo de transição dos carmelitas na Europa).

A MEMÓRIA DO CARMELO.
Memória é a faculdade de reter idéias,impressões e conhecimentos anteriormente adquiridos. Pode ser intelectual e afetiva (identidade e interesses); pessoal mas não isolada (formou-se nas relações com pessoas e situações); individual e coletiva (família, grupo). A memória é imprescindível para a identidade grupal, o que não sucede com a mera IDEOLOGIA: diluída a memória, perde-se a identidade. A memória está intimamente unida à  CULTURA: uma não vive sem a outra (crises); perdida a memória, não temos mais uma casa (ex.: conflito de gerações). A memória tem a ver com o SENTIDO DA VIDA e dá a chave para o descobrir. A ruptura memória/sentido da vida, provocável por diversos fatores, traz um tipo de ESCLEROSE ou FIXAÇÃO NO PASSADO ou FIM DA NOSSA HISTÓRIA: uma memória VIVA, só com um dinamismo aberto ao desafio ou provocação (VOCAÇÃO >< PRO-VOCAÇÃO), um horizonte aberto. --- Afinal, existe interesse pela história do Carmelo? Como transmitimos a memória e preparamos a entrada na Grande Tradição Carmelitana? Que direção tem a vida no Carmelo? Contar ou copiar o passado (história ou normas) não basta; é preciso CONSCIÊNCIA DE UM  OBJETIVO GLOBAL (MÍSTICA). --- A leitura do passado pode não corresponder às nossas experiências atuais; é um exercício de interpretação seletiva, mas não pode ser MANIPULAÇÃO, de conseqüências possivelmente prejudiciais. A memória oferece um alvo provocativo e impede que nos defrontemos com fatos consumados. --- Dois modos de cultivar a memória: 1.voltar ao passado por meio do estudo científico com regras e normas, 2.voltar ao passado por meio de um diálogo com ele. Sem prescindir do estudo científico (hipóteses, teorias e avaliações), o diálogo acontece quando o passado interroga o presente, ou quando interrogamos o passado (entendido como PORTADOR DE UMA TRADIÇÃO, transmissor da memória) a partir do presente. A indispensável memória é transmitida a gerações que vivem em contextos novos, de novos e envolventes valores. A IDENTIFICAÇÃO COM O CARMELO acontece, se se transmite não apenas um esquema de vida, mas uma PRESENÇA, da experiência fontal da Ordem: SEGUIR JESUS CRISTO SOB A INSPIRAÇÃO DE ELIAS E MARIA. Trata-se de "beber no próprio poço" , da torrente de Carit (CARMELO); a fonte jorra até hoje, mas são diversos os contextos históricos em que houve aproximação dela. É assim a experiência espiritual do Carmelo: um quadro de interpretação que revela o sentido da vida e os valores a ele atribuídos. Novo contexto cultural, o novo emergente, alterações, discernimento, assimilação do novo (NOVO QUADRO DE INTERPRETAÇÃO). Não havendo isso, perde-se a sintonia com a história, sem a qual o Carmelo nascido nela não renascerá nem continuará.

PAUSA PARA A REALIDADE DO MUNDO HODIERNO.
Uma visão realista do mundo mostra uma realidade não-homogênea, às vezes uma modernidade tardia. As conseqüências das rápidas e profundas mudanças não são iguais em toda parte. Aqui, as características e tendências que mais diretamente INTERPELAM a missão da Igreja e, em determinados aspectos, a missão do Carmelo. A clareza sobre o contexto histórico não elimina a incerteza sobre o futuro. Nossa missão deverá conviver constantemente com os paradoxos. Às vezes, com a perplexidade. As reações de alguns são de CETICISMO, que penetra a Igreja e o Carmelo. Outros perdem a SINTONIA COM A HISTÓRIA DA ORDEM, em aventuras imediatistas que destroem os valores da Vida Consagrada e Carmelitana. A insegurança leva terceiros a posturas de barreira fundamentalista e sacral contra a modernidade. A posição correta seria a compreensão racional da realidade, na esperança e na consciência do dom de Deus à Igreja e ao Mundo Real (Vida Consagrada). É PRECISO RENOVAR O CARISMA DA NOSSA ORIGEM, NÃO PARA GARANTIR A NOSSA SOBREVIVÊNCIA, MAS PORQUE É UM DOM DE DEUS!
1) MUDANÇAS SÓCIO-ECONÔMICAS. - De um lado, capacidade tecnológica, armamentos complexos abundantes, super-produção de alimentos, exploração das galáxias, êxito no trabalho, progresso sócio-econômico, globalização da economia; de outro, impotência humana, exterminação racial, fome e desnutrição, descontrole da família, vencer sem esforço, desequilíbrio na economia, desvalorização da pessoa humana, exclusão ("massas sobrantes"), violências sociais e políticas, minorias satisfeitas, atrações televisivas e religiosas de tipo mágico.
2) MUDANÇAS CULTURAIS. - A modernidade começou há quatro séculos, expressou-se no fenômeno da secularização, acabou com a unidade orgânica da sociedade pela separação "cultura como mundo vital/sistema como autonomia tecnológica" . A pessoa torna-se de novo ESCRAVA. Opina-se que o termo PÓS-MODERNIDADE indica uma crise na modernidade feita de contradição (ao mesmo tempo, negativo/positivo, pessimismo/esperança). Alguns aspectos característicos: de um lado, heterogeneidade, flutuação, diversificação, particularismo, falta de ligações comunitárias, subjetivismo, descartabilidade da vida; de outro, valorização da pessoa como sujeito da sua história e dos direitos humanos.
3) A CRISE ÉTICA. - Crise ética e DA ética. Ela também caiu no pluralismo. Silencia-se sobre PRINCÍPIOS MORAIS UNIVERSAIS. A MAIORIA é a lei. Onde estaria, assim, a DEMOCRACIA?
4) O PLURALISMO RELIGIOSO. - Sociedade fragmentada >< religião pluralizada. O que não impede de entrever que pertence às raízes do homem a atividade do CULTO. Racionalistas e materialistas comungam na teoria de uma religião-satisfação biológica: coisas = atividade neurológica = práxis produtiva. Neo-liberalismo: coisas = atividade neurológica = práxis LUCRATIVA. Por que o salto "fora da realidade" , a comunicação com realidades desconhecidas e inexistentes no "ambiente vital" ? O que é REAL é o SISTEMA. Se linguagem compreensível = organização dos fonemas, termos e enunciados, vida real = organização em sistema de objetos diversificados segundo tempo, lugar, sexo, etnia, profissão, fé e classes sociais. Daí, os sistemas míticos: homem = ser de fronteira entre o real e o fora da realidade, em perigo de frustrar-se  no desequilíbrio e na desproporção. --- A DIMENSÃO RELIGIOSA ESTÁ NA BASE DA CULTURA HUMANA; flutuando a cultura, flutua a  religião e se diversifica. Mas a crise da modernidade está vendo afirmar-se uma NOVA RELIGIOSIDADE: procura de Deus sem dúvida, mas confusa e incerta. O ser humano, porém, é radical e insaciavelmente RELAÇÃO E COMUNICAÇÃO; por isso, implicitamente e de modo receptivo, quer o TRANSCENDENTE DE DEUS.

A MISSÃO DO CARMELO HOJE.
Certamente não estamos pensando com certeza em possíveis ATIVIDADES APOSTÓLICAS CARMELITANAS no seio da Igreja, porque o Carmelo não é ANTERIOR à sua missão. Esta é, em primeiro lugar, UMA IDENTIDADE, uma presença, ainda não um estilo de vida, mas "O ESPAÇO MÍSTICO DO CARMELO" (K.Waaijsman, O.Carm.).
1) DIFÍCIL DEFINIÇÃO. Deve-se reconhecer,porém, que é problemática essa identidade num mundo fragmentado, confuso, fundado na competição e na diversidade, sem referência nem linguagem comuns. O que aconteceu na transição para a Europa, ontem: o projeto de vida na presença de Deus; um modo de relacionar-se com a Igreja e o Mundo; o desafio de mudar de lugar e contexto; a consciência de ter que conservar O ESPAÇO MÍSTICO, a identidade. Mais tarde dirá J.de S.Samson: "DEVEMOS ASSUMIR QUE OS LUGARES ONDE VIVEMOS SÃO OUTROS MONTES CARMELOS. DEVEMOS SANTIFICÁ-LOS NA MEDIDA DE NOSSAS POSSIBILIDADES, COM UM DESEJO DE SANTIDADE MUITO VIVO, MUITO ARDOROSO E MUITO EFICAZ, DE ACORDO COM O AUTÊNTICO ESPÍRITO DOS NOSSOS PRIMEIROS PAIS E FUNDADORES" . --- Salvar o espaço místico não significa dar aos nossos projetos de   evangelização uma só dimensão. O que importa: CONSCIÊNCIA DE IDENTIDADE E CULTIVO DA MEMÓRIA. A identidade realmente é problema anterior ao Carmelo, pois se trata da VISIBILIDADE DO FATO CRISTÃO. Na verdade, "ESTAMOS NUM MOMENTO DECISIVO PARA NOS INTERROGARMOS AINDA UMA VEZ SOBRE A NOSSA IDENTIDADE" (C.Maccise, OCD). De uma parte, Maccise reconhece "as trevas" , a "invisibilidade do perfil" , a "crise" , a "insatisfação" ; de outra, anima para a "volta às fontes" , para um "novo modelo intuído" e para a fé numa "revitalização com protagonismo do Espírito" . --- Além das características culturais, das intrigas e dos conflitos humanos, a questão existe e consiste mesmo em COMO NUCLEAR O ESSENCIAL CARMELITANO FORA DA EXPERIÊNCIA CONCRETA? "Definição >< Dinamismo da Tradição >< Situação presente inédita" (capa de proteção) OU "Situação presente inédita >< Dinamismo da Tradição >< Definição" (diálogo real) ? A pergunta "QUAL A MISSÃO DO CARMELO HOJE?" deve ser feita com HUMILDADE como expressão de esperança e não como    projeção de medo, insatisfação e amargura. E a humildade não aguarda soluções matemáticas e respostas perfeitas; alimenta-se da dinamite dos paradoxos e do diagnóstico da discreção. Para além de si mesma, com profundidade e atualidade, é a própria Regra a recomendar discreção, não apenas como procura do meio termo, mas sobretudo como postura gradual na direção de um caminho novo, onde se descobrirá a NOVIDADE DE DEUS. --- O difícil de "VIVER NO SEGUIMENTO DE JESUS CRISTO" é confrontar-se, sem distorção nem reducionismo, com o paradoxal mistério da ENCARNAÇÃO, esta "expressão definitiva de Deus no homem Jesus". O paradoxo  essencial que a Regra nos leva a descobrir mostra-se também, além dos seus termos LÓGICOS, em suas expressões HISTÓRICAS e na necessidade de NOVAS SÍNTESES. E engaja a RESPONSABILIDADE. Existe aí uma primeira chave de leitura; no mal-estar atual, pode abrir uma porta para o futuro. Para isto é preciso: 1) renunciar à aparente estabilidade do equilíbrio precedente; 2) renunciar também à reação espontânea de querer eliminar o elemento que causa o mal-estar: a experiência concreta e contraditória do homem "justo e pecador". Se a identidade do Carmelo nasce da presença e descoberta do GRANDE PARADOXO - o divino-humano de Jesus Cristo - é sua precisa missão anunciá-lo em contextos históricos novos; pois é ele que faz a Igreja caminhar como evangelizadora e evangelizável, a serviço da transformação da humanidade universal. --- Enfim, a Regra orienta para de vez em quando tratar da CONSERVAÇÃO DA ORDEM e da SALVAÇÃO DAS ALMAS, segundo a necessidade. -  CONSERVAÇÃO = Abertura de acesso à prospetiva  mística que caracteriza o Carmelo, a partir da memória e em novos contextos históricos. Discernimento, objetivos, prioridades, medidas concretas, endereçamentos, normas. O que exige INTERIORIZAÇÃO de todos os que formam o Carmelo. - SALVAÇÃO = Descoberta por personalidades únicas e originais do espaço místico do Carmelo e da sua missão hoje, "na salvação no Senhor e a bênção do Espírito" (votos do bispo Alberto).
2) INCULTURAÇÃO DO CARMELO. - "POR MEIO DA INCULTURAÇÃO, A IGREJA ENCARNA O EVANGELHO NAS DIVERSAS CULTURAS E SIMULTANEAMENTE INTRODUZ OS POVOS COM SUAS CULTURAS NA COMUNIDADE ECLESIAL, TRANSMITINDO-LHES SEUS PRÓPRIOS VALORES, ASSUMINDO O QUE DE BOM EXISTE NELAS E RENOVANDO-AS A PARTIR DE DENTRO. POR SUA VEZ, A IGREJA, COM A INCULTURAÇÃO, TORNA-SE UM SINAL MAIS TRANSPARENTE DAQUILO QUE REALMENTE É, E UM INSTRUMENTO MAIS APTO PARA A MISSÃO" (RMis.52). --- O que se diz da Igreja diz-se da Vida Consagrada e do Carmelo: A INCULTURAÇÃO É UMA EXIGÊNCIA! Não a adaptação externa, mas a MUDANÇA PROFUNDA de mente e modo de vida, caminho longo e globalizante, em relação tanto à cultura emergente ou autóctone, quanto à civilização ocidental. O cristianismo (o Carmelo) possui caráter pluricultural, identidade e missão radicalmente históricas. Não existe Carmelo sem identidade imersa na VIDA HUMANA; é ACONTECIMENTO, antes de ser conceito. Por outra parte, cristianismo é PROFISSÃO TOTAL da fé cristã, INTIMIDADE COM CRISTO na oração e contemplação, procura da CARIDADE PERFEITA, prática dos CONSELHOS EVANGÉLICOS. O que não impede a emergência  de novos aspectos certamente "estranhos" para os mais antigos. --- Daí uma outra conseqüência: a pluriculturalidade do cristianismo  (Carmelo) não nega sua incorporação a uma CULTURA PARTICULAR (ocidental). Inculturação a partir de um PONTO ZERO é zero. Cultura e Essência, na articulação de identidade e missão, são questões históricas e teológicas, causadoras de PERPLEXIDADE e indispensavelmente confrontadas com a história do OCIDENTE. Não para selecionar e descartar, mas para INTENSIFICAR O ENCONTRO COM O CARMELO no acolhimento ao novo e inédito e, nisto, ao paradoxo fundamental. --- Com respeito à pós-modernidade, a inculturação eclesial (carmelitana) apresenta questões bem específicas, que se avaliam a partir das interpretações feitas da distância entre "espaço eclesial" >< "espaço mundano": possibilidade de UMA EVANGELIZAÇÃO COMO PRESENÇA CRÍTICA no meio do mundo...ou EFEITO DO CONFLITO "conservadores" >< "progressistas" , "direita" >< "esquerda" (Concílio = Vítima de expiação)...ou indicação de uma RUPTURA COM O VERDADEIRO CRISTIANISMO (lefebvrianos)...ou, na América Latina, a aproximação construída NA OPÇÃO PREFERENCIAL PELOS POBRES, fator de credibilidade da fé em linguagem socio-política e espaço secularizado, que não se cristianiza apenas com a palavra EVANGÉLICA. Mas, pelo menos, oferece as razões do paradoxo cristão esvaziado de idolatria do poder/capital (pobres = vítimas de sacrifício);  gera uma nova linguagem - julgada reducionista - nos campos de ação cristã. Assim, justificam-se as preocupações do Magistério, mesmo porque uma NOVA LINGUAGEM QUE TRADUZA O NOVO E ORIGINAL é caminhada muito difícil, como a de Jesus na contramão da cultura de seu tempo (C.MESTERS). --- Realizar a missão de Carmelo no mundo hodierno =  Ser ponto de referência para dar sentido à vida. COMO, se o pluralismo hodierno carece de um CÓDIGO HOMOGÊNEO para visão-de-mundo e  corpo social; se isto está dentro de cada pessoa na forma de TUDO NIVELADO; se existe o contexto das CONVIVÊNCIAS "DIROMPENTI" (contigüidade de ambientes marcados pela irreligiosidade, pela indiferença e pelo ateísmo)? COMO inserir eficazmente aí uma FISIONOMIA PECULIAR? Não que o Carmelo seja só para quem com ele SE AFINA ou deva ser um REFÚGIO PARA GENTE DESLOCADA à procura de reconhecimento social. Impõe-se uma pedagogia carmelitana para sintonizar as pessoas com o moderno espaço místico do Carmelo.
3) ECLESIALIDADE DO CARMELO. --- "A VOSSA VOCAÇÃO À IGREJA UNIVERSAL SE REALIZA DENTRO DAS ESTRUTURAS DA IGREJA LOCAL...A UNIDADE COM A IGREJA UNIVERSAL POR MEIO DA IGREJA LOCAL: EIS A VOSSA ESTRADA" (J.Paulo II, 1978, Aos Superiores Gerais). Dois aspectos a sublinhar: um, a IMPORTÂNCIA DA DIMENSÃO UNIVERSAL DA VIDA CONSAGRADA ( Eclesiologia de Comunhão e Relação com o Ministério Petrino); outro, a INSERÇÃO NO CHÃO DA IGREJA LOCAL, onde a Universal se faz presente. Aspectos definidos no "MUTUAE RELATIONES" , para uma comunhão orgânica útil ao crescimento evangélico da Igreja Particular (universalidade e carisma) e da própria Vida Consagrada (encarnação). --- Esta "INTERFERÊNCIA RECÍPROCA" tem resultados positivos e negativos; há religiosos e bispos cujas relações louvam a Deus; há casos, porém, em que ambas se questionam. Espaços definidos, contestações contestadas, paradigmas diferentes, MODELOS DE IGREJA...Na verdade, o que existe mesmo é uma MISTURA de modelos com acentuações determinadas, na qual se revela um FATOR DO MAL-ESTAR ECLESIAL (visibilização comprometida da identidade cristã). --- Aqui também o Carmelo é atingido e tem, entre dores,a sua RESPONSABILIDADE. Esta não é simplesmente uma CAPACIDADE HUMANA; uma vida no SEGUIMENTO DE JESUS CRISTO não isenta da tentação antiga de achar que, COM DEUS, tudo se torna diferente na história. Ou seja: identificação de Deus com o Homem (encarnação) = vida humana libertada de ameaças. A Regra Carmelitana avisa sobre a "KÉNOSIS": "NO SILÊNCIO E NA ESPERANÇA, A VOSSA FORÇA".

UMA CONCLUSÃO EM ABERTO.
A reflexão sobre a missão do Carmelo hoje abre ainda outros horizontes: ESPIRITUALIDADE NO MERCADO DA ESPIRITUALIDADE - PROFETISMO ÍNTIMO DA CONTEMPLAÇÃO - VIDA EM FRATERNIDADE - EVANGELHO DA VIDA EM CULTURA DE MORTE - PROJETO ANTROPOLÓGICO DE VIDA - MARIA, SENHORA DO ESPAÇO MÍSTICO (lugar) CARMELITANO. --- O silêncio sobre as "atividades evangelizadoras e  pastorais" do Carmelo quer dizer que é difícil fazer uma lista delas; que é perigoso confundir MISSÃO  com CARREGAR PEDRAS DE UM LUGAR PARA OUTRO; que seriam respostas precárias. --- O antigo MANUAL DE MISSÃO facilitava tudo; hoje, porém, SEM GRAMÁTICA, parece que importa mais COLHERMOS O QUE DEUS SEMEIA FORA DO NOSSO PROGRAMA, do que nós mesmos PLANTARMOS A SEMENTE. O caminho do profeta é, no fundo, tensão escatológica que confere dinamismo à sua vida; assim, há sempre ALGO MAIS na vida carmelitana. Mesmo em clausura, mais do que PROTEGER-SE - EXPOR-SE! Novamente a Regra: "SE ALGUÉM ESTÁ DISPOSTO A IR ALÉM, O SENHOR MESMO, QUANDO VIER, O RECOMPENSARÁ".

Nenhum comentário:

Postar um comentário