Total de visualizações de página

Seguidores

domingo, 2 de outubro de 2011

Por que sofremos?


Frei Petrônio de Miranda, 0.Carm.
Convento do Carmo, São Paulo, SP. 02 de outubro-2011.

Por que os pobres morrem sem o atendimento médico, já que os mesmos têm os seus direitos garantidos em nossa Constituição Federal? Por que determinados políticos gostam de “sugar” o povo no período eleitoral deixando-o na miséria logo após a eleição? Por que determinados “cidadãos do bem”, levantam a voz em defesa de grupos econômicos e políticos deixando os pobres em segundo plano? Por que nós nos digladiamos nas arenas da vida por legenda partidária e não debatemos um projeto comum que defenda dos pobres? Por que  famílias não tem um pedaço de terra para trabalhar, um trabalho para sobreviver, dormem em baixo das pontes, nas rodoviárias e ruas das nossas cidades e não fazemos nada para socorrer o Cristo que passa frio e fome entre nós? Será que Deus é masoquista? Será que precisamos sofrer para chegarmos até Deus?    
Por muito tempo na história da humanidade, principalmente por influências religiosas, valorizou-se o sofrimento humano como meio eficaz de purificação da pessoa humana. Hoje se nega que o sofrimento tenha algo positivo para o ser humano. Vivemos num mundo onde se rejeita e se foge dos sofrimentos. A maioria das pessoas teme mais o sofrimento do que a própria morte.
O homem bíblico, desde o Gênesis ao Apocalipse, pergunta-se por que o sofrimento e como libertar-se dele. Antes da vinda de Jesus o sofrimento aparece como uma estrada sem saída, fruto do pecado e como castigo de Deus pelo bem não realizado. O grito que perpassa toda a Sagrada Escritura é o pedido a Deus que nos liberte da dor e que nos dê a força necessária para suportá-la. Os salmos são o livro do homem sofredor que, na sua breve existência, depara-se com todo tipo de dor: física, moral, espiritual, a solidão, o abandono dos amigos, a lepra que devasta, a perseguição dos inimigos... O livro de Jó, considerado como o grande tratado antropológico da dor, faz-nos ainda mais críticos diante do sofrimento.
O sofrimento bate à nossa porta a todo o momento, não queremos o sofrimento para ninguém, mas é preciso enfrentar e ajudar os outros a enfrentá-los. Ele e tão profundo e tão presente na vida de cada ser humano, que parece fazer parte da sua própria identidade. Logo, ele não discrimina ninguém por sua religião, cor, beleza, poder econômico e social. Só um exemplo: uma reportagem há alguns dias atrás, mostrou que, em relação ao número de suicídios que acontecem, a porcentagem é muito maior e provém das classes mais privilegiadas economicamente.
Se Deus é bom e misericordioso como pode permitir inúmeros sofrimentos aos seus filhos? Não vamos fechar nossos olhos diante da realidade em que estamos vivendo. São Paulo nos alerta dizendo: “Meus filhos vistam a armadura de Deus, para que, no dia mau, vocês possam resistir e permanecer firmes, superando todas as provas... Coloquem o capacete da salvação e peguem à espada do espírito, que é a palavra de Deus”. (Efésios, 6 13-17)
Quando enfrentamos situações difíceis, aqueles que nos amam nos dizem: “Eu posso imaginar o que você esta sentindo”. Eles imaginam, mas não sabem como é... Ao abrir os olhos, sua realidade é diferente. Vem o alívio por que nada do que imaginou aconteceu consigo. É como dizer a uma mãe que perdeu o seu bebê que sabe a dor que ela sente, mas acordar de noite e ver que o seu bebê não está no berço é outra história.
Falhamos muito em consolar pessoas em determinadas situações, porque não passamos por aquilo. Palavras que são ditas e que não deveriam ter saído de nossa boca. Um simples abraço transmite muito mais solidariedade.
Mas quando alguém diz: “Eu sei o que você está sentindo, porque já passei por isso!”, é totalmente diferente. Olhamos de outra forma para a pessoa, sente afinidade com ela, sente que ela pode te ajudar. Creio que é por isso que muitas vezes Jesus permite que alguns sofram. Para podermos consolar os que sofrem da mesma maneira com que fomos consolados. “È Ele que nos conforta em toda a nossa tribulação, para podermos consolar os que estiverem em qualquer angústia, com a consolação com que nós mesmos somos contemplados por Deus. Porque, assim como os sofrimentos de Cristo se manifestam em grande medida a nosso favor, assim também a nossa consolação transborda por meio de Cristo” (2co 1:4-5).
Meu caro irmão, minha cara irmã. Você não deve se apavorar diante dos sofrimentos porque, “quanto mais escura é à noite, mas brilham as estrelas”, já dizia Dom Hélder Câmara. É na paciência que tudo se alcança. Devemos conservar no nosso coração a certeza de que Deus nunca nos enviará um sofrimento maior que as nossas possibilidades. Acreditemos nesta verdade e ajudemos a libertar os oprimidos e  perseguidos das cruzes injustas impostas pelo sistema econômico, político, social, religioso e sexual excludente.   

Nenhum comentário:

Postar um comentário