"Incentiva e orienta pessoas a
trilharem o caminho de opção por Jesus Cristo e seu Reino; acompanha suas
fundações, faz negócios, solicita ajuda para as necessidades e o cuidado com a
pessoa das Irmãs, especialmente na saúde, vestuário, alimentação",
escrevem Assunta Romio e Rita Romio, Irmãs Teresianas da Companhia de Santa
Teresa de Jesus [1], artigo sobre o Quinto Centenário do Nascimento de Teresa
de Ávila (2), doutora da Igreja, que se celebra hoje, dia 15 de outubro.
Eis
o artigo.
É maravilhoso poder desfrutar os
recursos atuais da comunicação. Em tempo real dá para acompanhar quem está
longe ou perto, socializar o cotidiano e o extraordinário, interagir com poucas
ou muitas pessoas, ou simplesmente clicar um “curtir”. Com certeza somos
extraordinariamente privilegiadas/os!
Oxalá muitas pessoas que marcaram a história
do cristianismo, tivessem esses meios à sua disposição! Sem eles fizeram tanto!
É possível imaginar o que estariam inventando hoje, com tantas possibilidades!
Uma delas é uma mulher que nasceu em
1515, a Santa de Ávila que queria ser missionária e não lhe era permitido,
somente “por ser mulher” (F1,6). Ela não sabia bem como poderia dar a sua
contribuição. Além do mais, havia a Inquisição, que “tomam por suspeita,
qualquer coisa, desde que venha de mulheres” (CE 4,1), se queixava Teresa.
Suplicava então a Deus que lhe desse alguma luz, pois “não há razão para
desprezar” pessoas “virtuosas e fortes, mesmo que sejam de mulheres” (CE 4,1).
Teresa, ainda adolescente fica órfã de
mãe. O pai encarrega as agostinianas para educar sua filha. No internato, onde
deve aprender o ideal para ser uma boa esposa, a jovem se deixa influenciar
pela educadora Irmã Maria de Briceño (V2,6). Teresa sintoniza muito com ela e a
vê como uma pessoa muito feliz. Um dia, esta religiosa lhe contou que a frase
evangélica, “muitos são os chamados e poucos os escolhidos” havia impulsionado
sua opção de vida (V3,1). A partir de então, Teresa começa a admitir a ideia de
consagrar sua vida a Deus. E, sem permissão paterna, nos seus 20 anos de idade,
a jovem resolve se consagrar a Deus, indo para o Convento da Encarnação.
O contexto conventual não era dos
melhores. Como monja vive uma vida mediana, somatiza seus problemas a ponto de
ficar fisicamente paralítica durante três anos. Prioriza as relações externas,
deixando em segundo plano o projeto assumido. Passou alguns anos neste tipo de
vida, mas em contínua busca de algo mais. Fiel à reflexão, oração e partilha
com pessoas sábias, encontra o tesouro da sua vida, a verdade que sempre
buscou: Jesus Cristo, seu sentido existencial. A partir de então, aos 39 anos
de vida, seu único foco é o Reino de Deus. Quer ser missionária. Mas como
poderia aspirar à essa missão, com todos os limites sociais e eclesiais que
pesavam sobre a mulher?
Teresa vive no período da colonização
espanhola nas Américas. Alguns dos seus irmãos também entraram nesta aventura
de atravessar o mar para explorar as novas terras de Quito, Lima, Peru e Chile.
Ela acompanha o que acontece com os povos conquistados e sofre muito, por esta
causa. Através das suas Cartas, que chegaram a nós hoje, sabemos que ela
manteve muitos contatos, especialmente com missionários defensores dos
indígenas. Deixa registrado por escrito sua inquietação e angústia por se
“sentir encurralada como mulher” (CE 4,1) e não poder colaborar na evangelização
dos povos da América. Suplicava a Deus que a iluminasse.
No relato da Fundação do Convento de São
José em Ávila, ela mesma conta que um dia receberam a visita do Frei Alonso
Maldonado, missionário nas Índias (Américas). Este franciscano lhes falava
sobre as necessidades na missão e o tratamento dado aos índios. Teresa ficou
muito impactada: “recolhendo-me num oratório, clamei a Nosso Senhor. Coberta de
lágrimas, supliquei-Lhe que me desse meios para que eu pudesse fazer algo”
(F1,7), a serviço do Reino. Teresa percebe que dentro dela surge uma resposta;
ela também poderia participar da missão evangelizadora na América, mesmo sendo
carmelita e vivendo na clausura. Num momento de profundo recolhimento e oração,
percebe a presença de Jesus Cristo que, com muito amor e confiança, lhe
comunica: “Espera um pouco, filha, e verás grandes coisas!” (F1,8). A partir
deste momento, nela se abre um novo horizonte, pois estas palavras “ficaram
profundamente gravadas em meu coração” (F1,8). E assim entendeu como poderia
ser missionária: “Decidi então fazer o pouquinho que estava ao alcance” e
“ensinar mais com obras que com palavras” (F1,6).
“Realizar
o pouco que está ao alcance!”
Teresa de Ávila empreendeu uma grande
obra, provocando um movimento de mulheres com a meta de viver o espírito
evangélico como orantes, pobres e iguais, as Carmelitas Descalças. E, como se
não bastasse, ao propor isso aos homens, tornou-se um caso raro na história da
Igreja, uma mulher reformadora de uma Ordem masculina, os Carmelitas Descalços.
Envolve pessoas amigas e familiares como
colaboradores na sua obra; procura ser ponte de união na família; perante a
problemática do seu irmão Pedro, doente e depressivo, encaminha seu irmão
Lorenzo para assumi-lo; cria redes de relações com os jovens sobrinhos, com uma
atenção especial aos adolescentes, com os quais mantém contato direto,
incentivando-os a estudar e a se organizarem na vida.
Articula-se com os melhores teólogos da
época. Assegura-se que o que ela pensa, busca e experimenta não seja
contraditório à fé cristã.
Oriunda de uma família, na qual teve o
privilégio de aprender a ler e escrever, registra por escrito a experiência da
passagem de Deus na sua vida. Empenha-se para que todas as Irmãs Carmelitas
aprendam a ler e escrever, garantindo-lhes mais autonomia nas diversas áreas
como a comunicação, espiritualidade, teologia, e, até mesmo para poder
acompanhar os acontecimentos.
Incentiva e orienta pessoas a trilharem
o caminho de opção por Jesus Cristo e seu Reino; acompanha suas fundações, faz
negócios, solicita ajuda para as necessidades e o cuidado com a pessoa das
Irmãs, especialmente na saúde, vestuário, alimentação.
Utiliza intensivamente a mídia da época
escrevendo bilhetes, cartas, livros. Usa todos os meios que pode e se comunica
com as autoridades oficiais, tanto religiosas como civis, para solicitar ajuda,
defender sua obra.
Teresa mantém suas antenas ligadas à
evangelização eclesial, principalmente nas “Índias”, enviando cartas aos
missionários, irmãos, parentes e amigos. Seu método: inicia as Cartas partilhando
a sua própria experiência humana e espiritual. A seguir expressa interesse pelo
destinatário, seu trabalho e como o realiza. Escrevendo aos missionários, quer
saber como os índios são tratados, pois diz ter ouvido falar sobre a exploração
indígena e critica determinadas práticas. Faz questão de expressar que gostaria
de estar em terras de missão, mas como não pode, “por ser mulher”, assume ser
missionária em tudo o que está ao seu alcance, vivendo intensivamente a
proposta de Jesus e orando pela evangelização.
Sim, a Santa de Ávila, que neste ano de
2015 se comemora o V aniversário do seu nascimento, foi missionária, amando e
experienciando a humanidade de Jesus Cristo. Para ela Deus é aquele que nos
habita, está sempre nos esperando e “muito ajuda ter pensamentos elevados, para
que as obras também o sejam” (C4,1).
Notas:
[1] O sacerdote espanhol Santo Enrique
de Ossó e Cervelló desde jovem leu os escritos de Teresa de Jesus. Cativado
pelos ensinamentos da Santa de Ávila, tornou-se seu incansável divulgador.
Entre outras obras fundou a Companhia de Santa Teresa de Jesus (1876), as Irmãs
Teresianas, desejando que fossem “santas e sábias” como Teresa de Jesus;
“outras Teresas de Jesus” na atualidade, com a missão de “conhecer, amar e
tornar Jesus Cristo conhecido e amado”.
[2] Curiosidades: entre as mulheres
importantes que adotaram o nome da espanhola Santa Teresa de Ávila, por serem
suas admiradoras e/ou discípulas, cita-se aqui: a francesa, Santa Teresinha do
Menino Jesus (1873-1897); a chilena Santa Teresa dos Andes (1900-1920); a
albanesa Madre Teresa de Calcutá (1910-1997). Fonte: http://www.ihu.unisinos.br/
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