Frei Joseph Chalmers, O.Carm. Ex-Prior General
Os eremitas
do Monte Carmelo viveram ali durante algum tempo , antes de evoluir suficientemente e formar um grupo . Eles se dirigiram a Santo
Alberto e lhe pediram que escrevesse para eles uma “fórmula
de vida ”. Eles
não pediram uma Regra
e isto demonstra que
não desejavam ser
inscritos numa das formas tradicionais de
vida religiosa .
Eram um grupo
de leigos que
desejavam viver uma vida
eremítica e de penitência na terra de Jesus Cristo .
Alberto baseou o que escreveu no “propósito manifestado” pelos
eremitas (Regra
3), isto é, no que
eles já
viviam e no ideal que
lhe haviam apresentado. Eles tinham já uma
certa organização
porque Alberto escreve a uma certo "B e demais eremitas ,
que vivem sob
a sua obediência
junto à Fonte ,
no Monte Carmelo” (Regra 1). Com a
intervenção do Papa
Inocêncio IV, porém , este documento se
converteu e foi aceitado oficialmente como Regra da Igreja e os eremitas
foram reconhecidos como “religiosos ”. O texto
da Regra tal
como o temos incorporou as contínuas experiências e evoluções
que o grupo
realizou desde que
eles chegaram pela
primeira vez
ao Monte Carmelo até
que começaram a instalar-se nas distintas
partes da Europa e tomaram a decisão de tomar parte do movimento
mendicante.
No começo
da Regra , Santo
Alberto disse que cada
um está chamado a “viver
no obséquio de Jesus Cristo ". Esta é a suprema
e fundamental lei
para todos . Entretanto , os eremitas
tinham uma certa experiência
em viver seu caminho particular e eles
levaram esta experiência a Santo Alberto pedindo-lhe que
lhes desse uma orientação
para poder viver
mais profundamente
seu obséquio
a Jesus Cristo . Estudos
recentes sobre
a Regra demonstram que
esta não é uma simples
lista de prescrições
em que
umas são mais
importantes que
outras. É um documento
de valor em
forma de carta
com uma estrutura
lógica . Muitas se devem aos escritos de Cassiano e está cheia
de alusões e citações
diretas da Escritura . Se comparamos o quadro da comunidade
cristã descrita nos Atos
dos Apóstolos (At 2,42-47 e 4,32-35) com a Regra , podemos
encontrar todo
tipo de paralelismos .
Os eremitas
tinham vindo de distintas partes da Europa
para viver na terra , que se converteu
em sagrada
pela presença
terrena de Jesus e pelo
fato de que
ali derramou seu
sangue pela
nossa redenção .
Eles desejavam ser
uma comunidade de discípulos
como a comunidade
cristã primitiva dos Atos dos Apóstolos .
A fim de ser uma
comunidade de discípulos ,
cada um
deveria deixar que
a lei do Senhor
se apossasse de seu coração .
Estar vigilantes
em oração
é uma atitude essencial
(Regra 10) para
que possamos estar
atentos para quando venha o Senhor e Ele nos encontre
despertos. A comunidade pode ser comparada a uma orquestra .
A orquestra é composta
por instrumentos
independentes . Cada
instrumento deve estar
afinado para que
o conjunto forme um
som harmonioso .
Se um está fora
de tom , todo
o conjunto se ressente. Por tanto , a saúde espiritual
de um indivíduo ,
afeta toda
a comunidade .
Deveis ter um
de vós como
Prior
Uma comunidade não é
uma coleção de indivíduos ,
por isso
no primeiro capítulo
legislativo os eremitas
terão que eleger
para eles um Prior ao qual devem prometer obediência . A obediência
não é um
assunto de meras palavras ,
mas que
deve ser provado com
as obras . O Prior ,
porque é um
guia , é alguém
que serve (Regra
22). Ele deve ser
eleito com o consentimento
unânime de todos ,
ou da parte
maior e mais
madura , a ele
prometerão obediência todos os demais
(Regra 4 e 23). Junto
com os irmãos ,
o Prior decide onde
fixar os lugares
dos conventos (Regra
5). Com o consentimento
dos outros irmãos
ou da parte
mais madura ,
o prior assinala a cada
um a cela
(Regra 6). A asignação da cela era muito mais importante do que
dar uma habitação
nas casas modernas. Somente
com a permissão
do Prior alguém
pode mudar-se da cela asignada (Regra 8). Ele é
um cuja
missão é proteger
o direito dos demais
ao silêncio e à solidão
no trato com
os visitantes (Regra 9). O Prior é o responsável
pela distribuição
do alimento segundo
a necessidade de cada
qual . Ele
exerce esta responsabilidade através de um delegado (Regra
12). Ao Prior se deve respeitar
(Regra 23), porém ,
ele deve ganhar-se este
respeito pela
sua forma de vida . O papel dum guia numa comunidade
não é o de alguém
que regula tudo ,
mas o de quem
inspira os outros . O guia deve ser um em quem , acima de tudo , os valores
da Regra hão de tomar
carne .
O Prior
deve viver de acordo
com a Regra
como os demais .
Todos os irmãos
se reunirão para distintas ocasiões :
para comer (Regra 7); para rezar (Regra 11); para celebrar a Eucaristia cada
manhã (Regra
14); cada domingo
ou em
outros dias ,
se for necessário , para tratar da observância
da vida comum
e do bem espiritual
das almas e corrigir
com caridade
as faltas (Regra
15).
A Regra
não trata
de cobrir qualquer
tipo de eventualidade ;
nem tampouco
pretende sufocar a criatividade .
A intenção é dar
umas linhas guias
aos eremitas para
ajuda-los a viver em
obséquio de Jesus Cristo .
Na oração silenciosa ,
na solidão e por
meio do trabalho ,
eles formarão uma comunidade
de discípulos unida em
torno do Senhor .
Sua quietude e
sua vida
humilde se elevarão até
Deus e será um
beneficio para seu
próximo . Durante
quase cerca
de oito siglos, a Regra
inspirou um número
incontável de carmelitas
em seus
esforços de ser
revestidos pela Palavra
de Deus . A espiritualidade
Carmelita não
está contida completamente no breve texto da Regra , porém , esta
é a fonte da qual
dimana.
O Prior
é o signo da unidade
dentro da comunidade ,
o qual é elegido para
servir . Ele
deve ser um modelo , em palavras e em obras , para o grupo que se le
ha encomendado (1Ped 5,3) como tal , deve estar disposto para prestar a ayudad necessária
a cada religioso ;
para fomentar a vida comunitária ;
para cuidar de todos , especialmente
dos enfermos e anciãos ;
para supervisar as atividades comunitárias e as iniciativas
de tal modo
que esta sea signo
por o qual
os irmãos possam viver
autenticamente “em obséquio
de Jesus Cristo e servirle fielmente com coração puro e buena
consciência ”." (Regra 1).
O papel
do Prior em nossa Regra e em nossa tradição é o do serviço .
Ele guia
à comunidade antes
de tudo com
seu próprio exemplo e seu papel é o de assegurar que a comunidade
se organize de tal maneira
que os irmãos
possam viver em
obséquio de Jesus Cristo .
Várias vezes se assinala na Regra que o Prior deverá tomar certas decisões
com o consentimento
dos demais irmãos ,
ou da parte
maior e mais
madura . O Prior
não é um
déspota , ou
um pai
que decide tudo
por seus
filhos . É para
eles um
guia , porém ,
cada membro
da comunidade é responsável
da salud de toda a comunidade
e de su própria vida .
O Prior é alguém que recorda
aos irmãos a nossa
vocação comum
e constantemente nos
chama todos
a viver-la. Entretanto , cada um é, em última instância , o responsável
ante Deus
de como está vivendo atualmente a vocação
que Deus
lhe deu.
O caminho do grupo
Creio que uma das grandes
dificuldades da vida
comunitária é que
os membros individualmente
se preocupam de coisas diferentes e nunca
compartilham suas expectativas .
Cada membro
da comunidade tem seu
próprio modelo de vida religiosa e
de Igreja que
ele jamais
questiona porque formam parte de si mesmo , todas suas
expectativas são
somente ir adiante com este modo de viver sua vida religiosa .
A necessidade de uma profunda purificação
da noite escura
se faz luminosa , quando
começamos a tomar consciência
de como eram profundas nossas expectativas e preconceitos ,
que tínhamos construído
inconscientemente e que
cresceram conosco desde
nossos primeiros
anos de carmelitas .
Estes estão tanto
na autoridade como
nos outros
membros da comunidade .
Existem maneiras de ler um texto . Um modo de o ler é perguntar-nos o que
Alberto quis dizer e o que
os eremitas entenderam do que escreveu. Entretanto ,
há outro possível
significado , que
vai mais além
do ponto de vista
de Alberto e dos primeiros eremitas . Estes
significados podem ser
descobertos quando
nós tiramos fora
os nossos próprios
problemas , interesses ,
questões e experiências
e nos perguntamos o que
é que a Regra
tem a nos dizer .
Este método
de interpretação o usamos inconscientemente quando
lemos as Sagradas Escrituras , por exemplo : quando aplicamos algumas coisas
do Cântico do Cânticos
à Virgem , Nossa
Senhora . O autor
do Antigo Testamento
não tinha
em mente
à Virgem quando
o escreveu, porém , por
causa de nossa
experiência cristã podemos ver o significado do texto mais além do que quis
dizer o autor
original .
A Regra
está imbuída da palavra de Deus . É breve , porém , contém ao redor
de uma centena de citações
explícitas ou implícitas de textos da Escritura .
Santo Alberto foi claramente
um homem
que meditava longamente
a palavra de Deus .
Os eremitas desfrutavam meditando a lei do Senhor dia e noite . Esta
meditação estava dirigida à transformação
individual em
Cristo de dentro
para fora . Não é simplesmente
o caso de tratar
de entender com
a mente o que
a palavra significa, ainda que isto seja importante ,
mas deixar que a palavra de
Deus nos
envolva de tal maneira
que “tenhamos a palavra
de Deus por
companheira” (..“e o que
devais fazer , fazei-o conforme
à palavra do Senhor ”)
(Regra 19).
Está claro que a autoridade , num contexto
cristão , deve ser
exercida como um
humilde serviço .
O exercício da autoridade
em nossos
dias não
é fácil e requer o exercício
de certas habilidades .
A pessoa que está
chamada a exercê-lo como
guia , deve engendrar
respeito pelo
teor de sua
vida . Ninguém
é perfeito , porém ,
os demais devem ser
capazes de ver
no guia alguém
que se esforça
em viver a vida Carmelita do
melhor modo
que lhe
é possível . Não
todos admirarão o superior
e algumas de suas decisões
serão incômodas, porém ,
deve tomar-las para o bem
comum .
A orientação
da Regra é a transformação em Cristo . Ser carmelita é estar nesta viagem para ser transformado. O que exerce a autoridade está
a caminho e, ao mesmo
tempo , tem a missão
de inspirar os outros
para continuar o caminho e acompanhar os membros mais débeis
da comunidade de tal
maneira que
não sejam rechaçados.
O que
nos sucede durante
o período em que somos guias
é uma parte importante
do caminho de transformação. Não creio que Deus seja a causa de tudo o que nos acontece, no sentido
que Deus
deseja que
atualmente soframos, mas que Deus está no meio
de todas as situações que encontramos. Deus
nos chama
desde o coração
de cada irmão
ou irmã e desde
o centro de cada
dificuldade que
nos vem ao encontro .
Necessitamos escutar atentamente de
modo que
sejamos capazes de ouvir
a voz de Deus
em meio
a outras vozes e poder
discernir o que
Deus quer
nos dizer . Nossos sentidos
espirituais necessitam afinar-se constantemente e isto
acontece através do nosso
modo de viver
com fé
os valores da Regra
meditando na lei do Senhor
dia e noite
e velando em oração
(Regra 10). Este
é um elemento
essencial do exercício
da autoridade na Regra .
Sem este
cuidado e vigilância ,
corremos o rico de seguir
nosso falso
eu ao tomar
as decisões e responder
às necessidades dos irmãos
e irmãs. O ‘falso eu ’
é a parte falsa
de cada ser humano que necessita
morrer de modo
que possamos ter
vida e vida
em abundância .
O ‘falso eu ’
não quer
morrer e se reveste de distintos
disfarces de modo
que não
possamos reconhecer o que
é em realidade ,
trata de influenciar
cada aspecto de
nossas vidas . Vejamos o que sucede quando
nossos planos
e decisões não
são levadas a cabo .
Freqüentemente nos
enfadamos e desconfiamos dos que , a nosso parecer , pensamos que sabotaram nossas idéias .
Entretanto , o que é
que Deus
nos está dizendo nesta situação ? Talvez
nossas idéias não
eram tão boas, inclusive
quando aos nossos
olhos pareciam brilhantes
e claras . Quiçá
exista um outro
modo de ver as
coisas . O profeta
Elias teve que fazer
um reajuste
do conceito de Deus
que tinha
depois de da sua
experiência no Monte
Horeb. Talvez necessitamos reajustar nossas idéias
e planos .
A viagem
contemplativa é uma viagem de transformação
que , pouco
a pouco , purifica o nosso
modo de ver , de
comportarmos e de amar de sorte
que se converta em
modos divinos .
Nossos modos
humanos devem ser
purificados e transformados porque são limitados e limitam o que
vemos e amamos. Para que
possamos ver com
os olhos de Deus
e amar com o coração de Deus ,
devemos mudar profundamente ,
e isto não
é fácil . Recordo que
um teólogo
dizia que as pessoas
mais difíceis a quem
se podia falar eram os superiores ,
porque eles
se criam superiores . Normalmente eles
tem muitos dons
e podem começar a pensar que têm resposta
para todos os
problemas que
podem existir e que
somente conhecem o caminho
que têm adiante .
Nós , somos membros
de comunidades e, como
nossos irmãos
e irmãs, estamos no mesmo caminho de transformação. Ainda
não chegamos e até
que cheguemos, nosso
modo de ver será
limitado e nossas idéias estarão longe de ser perfeitas. Devemos
permanecer abertos
para ser corrigidos com caridade pelos outros membros da comunidade .
Esta correção pode vir
de diferentes modos ,
através da crítica
de algumas de nossas decisões ou a falta de aceitação de algumas de nossas idéias …etc.
É claro , nosso
falso ego
estará pronto para
garantir-nos que nós
temos razão e que
os demais são
estúpidos o retrógrados .
O exercício
da autoridade na Regra
de Santo Alberto requer uma constante abertura
à palavra de Deus .
Devemos revestir-nos da armadura de Deus porque o caminho espiritual
supõe a batalha . Não
é contra os agentes
externos , mas
contra os demônios
que existem dentro
de nós , por
exemplo , o egoísmo
que está sempre
disposto a aparecer .
O capítulo 18 da Regra
nos diz que
devemos ter cuidado
e ser diligentes
para revestir-nos da armadura
de Deus de modo
que possamos resistir
as insídias do diabo .
Uma insídia ou
um ataque de surpresa . O inimigo
ataca quando crê que
somos mais vulneráveis .
Nós sabemos que
o superior deve sofrer
muito . Existem momentos
felizes do cargo ,
porém , também
está presente a cruz .
Nossos momentos
vulneráveis podem ser
quando sofremos e talvez
nos sentimos infelizes
ou pode acontecer
quando tudo
vai bem e nos
sentimos orgulhosos dos nossos logros . Estes momentos ,
entretanto , vêm e devemos estar
prontos e somente
o poderemos enfrentar quando
estamos vigilantes em
oração e abertos
à palavra de Deus
(Regra 10). A palavra
de Deus nos
vêm através da Liturgia ,
de nossas leituras particulares
o da meditação , porém ,
também vêm através
dos acontecimentos de cada dia . O que Deus quer dizer no que está ocorrendo
em minha
vida ? Deus diz:
“Vai adiante . Tens razão ”,
o Deus diz: “Olha
o que está acontecendo. Deves mudar de atitude ”?
Deveis estar em
silêncio
Nossas decisões , nossas idéias ,
nossos planos ,
devem brotar dum lugar
de silêncio . O silêncio
é um valor
muito importante
da Regra e é o caminho
da justiça (Regra
21). O preceito de observar
o silêncio exterior
é para animar-nos a liberar
o silêncio interior .
Como é difícil
permanecer em
silêncio ! Creio que
é especialmente difícil
para os superiores .
Temos tantas coisas que
dizer ! Temos tanta
sabedoria que
partilhar ! O ‘falso
eu ’ é ruidoso
e continuamente está falando, fazendo comentários
sobre a gente
e os acontecimentos , sempre presente em tuas necessidades
e teus diretos .
Se todas nossas decisões , nossas idéias e nossos
planos provierem desta algazarra , o resultado
será a injustiça . Por
o tanto , devemos fazer
silêncio com
respeito a este
ruído interior ,
de modo que
nossas palavras emerjam do silêncio e assim
seremos sábios realmente ,
não devemos juntar
palavras vazias ao nível
de ruído em nosso mundo .
O ser
guia deve ser
exercido como um
serviço , tendo como
modelo mesmo o
Senhor Jesus (Regra
22). Como
saberemos que nosso
falso ego
não estropia a nossa
guia ? Com
humildade , devemos reconhecer
que não
somos perfeitos e que
nosso falso
ego pode influir
em nossas decisões
ou planos .
Não devemos esquecer
que estamos envoltos
em uma batalha
espiritual contra
nosso próprio
egoísmo . Isto
nos
faria humildes , por
exemplo , conhecendo e aceitando a verdade acerca de nós mesmos e, contudo , aprendendo cada
vez mais
de Cristo sem
o qual nada
podemos fazer . Devemos esforçar-nos da melhor maneira que possamos, recordando que
nosso falso
ego está ansioso
de garantir-nos que estamos fazendo as coisas muito bem e não escutar nenhuma crítica
ou idéias
de outros . Recordemos o final da Regra “Se
algum está disposto
a dar mais , o
Senhor mesmo ,
quando votar ,
o recompensará” (Regra 24). Como o hospedeiro
na parábola do Bom
Samaritano , vamos a trabalhar
com fé ,
porém , também
tendo um olhar
para o horizonte
distante à espera
da volta do Senhor .
*****************************************************************
1. Que
deve fazer um
guia efetivo
de acordo com
a tradição Carmelita ?
2. Quais
são os problemas
particulares de América Latina para que um guia seja realmente
efetivo ?
3. Como
se introduz o falso ego
dentro do serviço
da autoridade ?
4. Que
podemos fazer para melhorar nosso
exercício de autoridade ?
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