Dezenas de movimentos sociais reunidos nas frentes Brasil
Popular e Povo sem Medo realizam nesta sexta-feira
(10) um dia nacional de mobilização em defesa dos direitos sociais e
trabalhistas. Desde abril, quando a primeira fase do processo de impeachment
passou na Câmara dos Deputados, liderado por Eduardo Cunha, centenas
de atividades de protesto vêm acontecendo quase diariamente em todo o país e no
exterior. A reportagem é publicada por Rede Brasil Atual - RBA, 09-06-2016.
De acordo com levantamento feito pelo PT, teriam
sido realizados 420 eventos em mais de 90 cidades do Brasil e do exterior,
muitos deles de forma espontânea, em defesa da democracia. As atividades
externas envolvem brasileiros residentes fora do país e também estrangeiros
recusando-se aceitar a legitimidade do governo em exercício.
Em São Paulo, a principal manifestação está marcada
para as 17h no Vão Livre do Masp, na Avenida Paulista. No Rio de Janeiro,
também à tarde, haverá concentração na Candelária seguida de passeata até a
Praça XV. Em Brasília, o ponto de encontro será no Museu da República, em Belo
Horizonte na Avenida Liberdade e em Porto Alegre, na Esquina Democrática. Todos
às 17h.
No ato de São Paulo, é esperada a presença do
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A presidenta Dilma
Rousseffestará na cidade, mas ainda não está confirmada sua participação. Dilma estará
momentos antes a poucas quadras do Masp, às 15h, em encontro promovido pelo
Fórum 21 no hotel Maksoud Plaza, na companhia do historiado e brasilianista James Green
(da Universidade de Brown, em Rodhe Island, Estados Unidos), do presidente da CUT,
Vagner Freitas, e do coordenador nacional do Movimento dos
Trabalhadores Sem Teto (MTST), Guilherme Boulos.
Unidade
O ato de amanhã é o primeiro teste que reúne em um
único dia a maioria dos movimentos ligados a correntes distintas de pensamento
e diversas áreas de atuação social, trabalhadores da cidade e do campo,
estudantes, intelectuais, artistas, organizações da juventude, feministas, LGBT, de
moradia. As bandeiras que unificam os protestos são "Fora, Temer" e
"Nenhum direito a menos".
"O presidente ilegítimo e golpista, Michel
Temer, não esconde o que estava por trás do afastamento ilegal da
presidenta Dilma Rousseff: Reforma da previdência, com arrocho nos direitos dos
trabalhadores, desvinculação do orçamento da educação e saúde, suspensão de
programas sociais como Minha Casa Minha Vida, Fies, Prouni, e Pronatec,
criminalização e perseguição dos movimentos sociais", diz a convocação dos
atos assinada pela Frente Brasil Popular e pela Frente
Povo sem Medo.
A CUT considera que o dia pode ser
um marco na preparação de uma greve geral mais adiante. “Segundo a central, a
greve geral está sendo construída para ocorrer quando o governo interino do
vice-presidente interino Michel Temerencaminhar ao Congresso
Nacional medidas de retirada de direitos que vêm sendo anunciadas via
imprensa”, dizVagner Freitas, esclarecendo que alguns jornais
noticiaram incorretamente que uma greve geral já estaria sendo pretendida nesta
sexta. Segundo o presidente da central, o que está certo é que diversas
categorias promoverão atrasos na entrada ao expediente e assembleias em locais
de trabalho.
Para esta sexta, algumas categorias já informaram
que o protesto será em forma de paralisações. Os bancários de São Paulo, Osasco
e região aprovaram o "dia em defesa dos direitos" com interrupção de
atividades nos locais de trabalho. A decisão foi objeto de votações realizadas
nos últimos dias em agências e grandes departamentos. Foram coletados 14.941
votos, dos quais 12.095 (81%) defenderam as paralisações.
A principal movimentação será no polo financeiro da
região da Avenida Paulista ao longo do dia, com concentração unificada como os
demais movimentos às 17h no tradicional ponto de partida de manifestações, o
vão livre do Masp. "Os bancários deram um grande recado por intermédio das
urnas que percorreram os locais de trabalho: nenhum direito a menos. Por que
não taxar grandes fortunas, heranças, mudar a tributação que penaliza tanto os
assalariados? Não, eles querem é retirar direitos e isso não vamos
aceitar", disse a presidente do sindicato da categoria, Juvandia
Moreira.
A Federação Única dos Petroleiros (FUP) informa
que promoverá paralisações de 24 horas a partir da meia-noite de hoje.
"Como em outros momentos da nossa história, o petróleo está novamente no
centro do golpe que coloca em xeque o Estado democrático. Os trabalhadores, que
precisam reagir enquanto ainda há tempo. A venda de ativos será intensificada
por Pedro Parente (novo presidente da estatal), que chegou avisando que
entregará às multinacionais os bilhões de barris de petróleo do pré-sal a que a
Petrobras tem direito", diz a federação em nota.
Os profissionais da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), órgão
de pesquisa científica ligada ao Ministério da Saúde, promoverão o evento Ocupa
Fiocruz neste dia 10 e no próximo dia 16, que prevê paralisação de 24 horas e
diversas ações no campus de Manguinhos, no Rio de Janeiro. Os eventos de amanhã
começam às 9h, com piquete e panfletagem nas portarias, em ações coordenadas
pelo Sindicato dos Servidores de Ciência, Tecnologia, Produção e Inovação em Saúde
Pública (Asfoc-SN). Haverá oficinas, apresentação teatral e
atividades culturais, com participação de personalidades e artistas, da
Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), o Centro
Brasileiro de Estudos de Saúde (Cebes) e a Frente UFRJ contra
o fim do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação também participam.
A União Nacional dos Estudantes (UNE) orienta
a participação nas localidades onde houver programação. "À frente do
Ministério da Educação está Mendonça Filho do, DEM, aquele partido que entrou
com uma ação no STF pedindo inconstitucionalidade das cotas
raciais e do Prouni, e também foi contra a destinação dos royalties do pré-sal
para educação e saúde", diz em nota a organização.
Para o presidente da Confederação Nacional dos
Metalúrgicos (CNM-CUT), Paulo Cayres, está em jogo um embate
contra um modelo que resultará em demissões constantes e ampliação da pobreza.
"Não temos outra saída para preservar os empregos e os direitos que não
seja combater esse governo, especialista em dar dinheiro para quem não precisa
e cortar direito de quem precisa, quem utiliza os programas sociais e é beneficiado
pelas políticas de combate à desigualdade."
Ontem, durante evento na ocupação da sede da Funarte em
Belo Horizonte, Guilherme Boulos, um
dos coordenadores da Frente Povo sem Medo, reafirmou a
importância de as esquerdas e movimentos progressistas unificarem forças em
defesa da democracia. "Democracia é, sim, um presidente ou uma presidenta
democraticamente eleita cumprir o seu mandato até o fim, mas não é só isso.
Para nós, não há democracia em um Estado que assassina a juventude negra na
periferia, que bloqueia o direito das mulheres de decidir sobre seu corpo, o
direito à diversidade sexual, e em uma sociedade em que 1% tem mais que os
outros 99%", disse Boulos, defendendo que as esquerdas devem
repensar seu papel para além da resistência ao golpe. Fonte: http://www.ihu.unisinos.br
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