Dom Antônio Muniz, Arcebispo
Metropolitano de Maceió:
Rogo a atenção de V. Exa. Revma. para
fixar ainda mais o seu olhar sobre Alagoas. O estado não consegue controlar a
epidemia de violência homicida que tem enlutado milhares de famílias.
Alagoas, nas últimas duas décadas,
alcançou o primeiro lugar no ranking dos estados mais violentos. São números
trágicos e vergonhosos que se assemelham aos de guerra.
O Mapa da Violência de 2014 revela que
entre 2008 e 2012 ocorreram 10.159 homicídios em Alagoas; desses, 6.114 são
jovens, na faixa etária de 15 a 29 anos, ocorrendo 60% dos homicídios entre
negros e pobres.
Os dados estatísticos produzidos pela
Secretaria de Defesa Social (SDS) em 2013 revelam 2.260 crimes violentos
letais, uma média de 6,19 homicídios/dia, e em 2014 foram assassinados mais
2.199; a média mantida é de 6,02 homicídios/dia. A soma do período é de 14.618
homicídios.
Esse contingente de jovens negros e
pobres em idade escolar não teve o direito de viver com o mínimo de dignidade;
foram assassinados e os motivos nunca serão esclarecidos pela policia alagoana,
fato que mantém a impunidade como regra geral e política de Estado.
Dom Antônio, as condições em que o
Estado se encontra é de sucateamento, notadamente nas áreas em que a população
mais necessita: educação, saúde, assistência social, e com taxa de desemprego
crescente.
As políticas públicas essenciais não
existem concretamente, a não ser na propaganda oficial. A possibilidade de
incluir os jovens no mundo do trabalho e da cultura é impensável em Alagoas.
O Núcleo Estadual de Atendimento
Socioeducativo (Neas), localizado no Tabuleiro, em Maceió, é um depósito em
condições inferiores às das piores pocilgas. A tortura física e psicológica tem
sido o método de castigo implementado pelos agentes públicos. Não bastou o
ex-presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Joaquim Barbosa, em 2014,
ouvir dos adolescentes relatos de torturas e de que a comida era deplorável,
pois as condições permanecem iguais ou o que mudou tem efeito meramente
cosmético.
Dom Antônio, a presença mais visível do
estado nos bolsões de pobreza e miséria é através da presença da polícia, que
insiste na “guerra contra a criminalidade” como meio de “oferecer segurança
pública”. Essa prática retrógrada se mantém com o apoio e incentivo público dos
responsáveis pela segurança pública.
Essa prática tem servido tão somente
para incitar o ódio estatal contra o fenômeno crescente de violência,
identificado como um estágio de epidemia. Toda a fúria policial é um
instrumento que operacionaliza o processo de “limpeza social e étnica”
instaurado há décadas no seio da segurança pública.
Dom Antônio, como cidadão preocupado com
essa questão, me reporto ao tempo em que era criança em Anadia, interior de
Alagoas. Era então comum ouvir o dito popular: “vá se queixar ao bispo”. É o
que me ocorre diante do estado de entorpecimento das autoridades de Alagoas.
Apelo a V. Exa. Revma. por identificar
na figura do arcebispo metropolitano e na Igreja Católica a possibilidade de
intervir nesse quadro desolador.
Os meus
respeitos e admiração
Geraldo de
Majella
Fonte: www.cadaminuto.com.br
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