Pe. César Augusto dos Santos SJ
Cidade
do Vaticano (RV) - O tema da liturgia
deste domingo enfoca o carinho de Deus por todos os homens, sejam seguidores da
revelação judaico-cristã ou não. O importante é ter fé no Deus Vivo e
Verdadeiro.
Na
primeira leitura, extraída de 1Rs 8, 41-43, fica bem claro que o Povo de Israel
tinha consciência de ser o povo escolhido, mas isso não era motivo para que
somente suas súplicas fossem acolhidas, no Templo, pelo Senhor. Salomão faz uma
bela oração naquele lugar sagrado e diz: “Senhor, escuta então do céu onde
moras e atende todos os pedidos desse estrangeiro.”
No
Evangelho de Lucas, no capítulo 7, versículos 7 a 10, Jesus age exatamente
mostrando a misericórdia de Deus. Não importa se o pedido vem de um israelita
ou de um estrangeiro, o que importa é que um ser humano suplica ao Senhor a
cura de seu empregado. Mais ainda, esse estrangeiro mostra uma fé
extraordinária no poder de Deus a ponto de dispensar a ida de Jesus à sua casa,
pois sabe que para Deus basta querer para que alguém recupere a saúde ou algo
seja mudado ou transformado, afinal, Deus é Deus! Essa atitude do estrangeiro
foi louvada por Jesus exatamente por isso, por dar um salto qualitativo na fé.
Se antes, na oração de Salomão aparecia a oração feita no Templo, agora fica
claro que basta a fé no poder de Deus. A oração não só não precisa ser feita
por um pertencente ao Povo de Israel, mas nem precisa ser feita no Templo de
Jerusalém. Basta a fé no Deus Vivo e Verdadeiro.
Mas
podemos tirar desse fato relatado por Lucas, outra lição. Deus dá maior
importância à fé de quem suplica e não tanto à adequação de sua vida aos
preceitos religiosos. O suplicante, um oficial romano, era um pagão. Apesar de
ser um homem honesto e respeitoso para com os israelitas – até havia construído
uma sinagoga para eles –, não havia se convertido, não havia feito a
circuncisão e nem seguia os mandamentos de Moisés. Contudo, esse militar
demonstra uma confiança radical em Jesus, no poder de Deus, que não se importa de
modo público professar sua fé: “Senhor, ordena com tua palavra, e o meu
empregado ficará curado”. Demonstra grande humildade: “Senhor, não sou digno de
que entres em minha casa”. Mais ainda, nem se sentiu digno de ir ao encontro do
Cristo, enviou alguns mensageiros para que, em seu nome, fizessem o pedido.
Qual a lição que levamos para o nosso
dia a dia?
Deus
quer que vivamos de acordo com seus mandamentos, de acordo com os preceitos que
aprendemos quando fomos catequizados. Em uma ocasião Jesus disse que não veio
abolir a Lei e nem mudar uma letra sequer. Mas só isso não basta, não faz
levantar voo. O jovem rico cumpria todos os mandamentos, mas não foi capaz de
largar tudo para seguir Jesus; o fariseu no Templo orava e agradecia a Deus por
ele ser certo, honesto, correto com os preceitos religiosos, mas sua oração não
foi ouvida porque ele atribuía tudo isso a si mesmo e se sentia orgulhoso por
isso e desprezava o pecador publicano, que estava lá no fundo do Templo.
Devemos,
antes de tudo, ter grande fé em Deus e sermos misericordiosos. Isso é o “plus”,
o mais que o Senhor deseja de nós.
Neste
Ano da Fé - proposto pelo Papa Bento XVI para o amadurecimento de nossa
confiança em Deus, de nossa entrega total, radical ao Senhor -, a consciência
de que Deus é Onipotente, que tudo pode; de que é Onisciente, que sabe tudo; e
de que é Onipresente, que está em todo lugar; deverá atravessar nossa vida e
nossas orações. Mas uma coisa nos falta ainda, é sabermos da radicalidade de
Seu Amor por nós, de Sua Misericórdia, da grandeza de Seu Coração.
Somos
chamados a sermos testemunhas vivas da fé no Amor de Deus para com todos os
homens, sejam pecadores ou não, sejam cristãos ou não.
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