Por irmã Kátia Rejane Sassi, da Congregação das Irmãs de São José de
Chambéry. Teóloga, especialista em Assessoria Bíblica - DABAR - mestranda em
Teologia Bíblica pelas Faculdades EST. Atualmente é professora e coordenadora
do Curso Básico de Formação na ESTEF - Escola Superior de Teologia e
Espiritualidade Franciscana.
As lágrimas de uma mãe viúva
Jesus vê e tem compaixão
Fonte: http://www.cebi.org.br
O
texto da ressurreição do filho da viúva de Naim (Lc 7,11-17) só se encontra no
evangelho de Lucas. Em seu ministério pela Galileia, Jesus se aproxima de uma
pequena aldeia chamada Naim, próxima de Nazaré, onde se depara com uma cena
comovente.
Vida x morte: dois cortejos se encontram
O
evangelista Lucas relata dois cortejos, duas procissões que se encontram na
entrada da aldeia de Naim. De um lado, o cortejo de morte, dos sem esperança,
que sai da cidade: uma grande multidão acompanha a mãe viúva que leva seu filho
único para ser sepultado. Naquele tempo, os cadáveres eram considerados impuros
e, por isso, eram enterrados fora dos muros das cidades judaicas.
Do
outro lado, o cortejo da vida que entra na cidade: Jesus é acompanhado de seus
discípulos e também de uma grande multidão. Lucas emprega pela primeira vez o
título de "Senhor", indicando que ele é o Cristo, o Senhor da
Vida.
Na
cena descrita por Lucas aparece uma mulher mãe e viúva. Naquele tempo, sua
situação social como mulher viúva era muito difícil. Falecido o marido, ela
ficava sob a proteção dos filhos e, não tendo estes, encontrava-se à mercê da
própria sorte. O evangelho nos diz que o jovem falecido era filho único desta
viúva (Lucas 7,12). Portanto, agora dependia da boa vontade dos seus
vizinhos. Esta mulher estava sozinha no mundo.
Esta
mãe e viúva encontrava-se num grande sofrimento, pois além de perder seu esposo
perde também seu filho amado que constituía a única herança que tinha. Logo,
enterraria sua única razão de viver. Sem nenhuma palavra, as lágrimas falam...
A dor inconsolável das perdas e seu lamento profundo chegam até o coração
misericordioso de Jesus, o Senhor da Vida.
Jesus
olha, contempla a situação de sofrimento e presta atenção na mãe viúva
desamparada que acaba de perder seu único filho. Vê a angústia daquelas pessoas
com quem se cruza ocasionalmente. O Senhor da Vida não é insensível e
indiferente à dor humana, não passa ao lado, não se afasta.
Diferentemente de
outros relatos de milagres e de pedidos de pais por seus filhos, aqui, ninguém
pede a ajuda de Jesus. Seu olhar é cheio de ternura, sente-se tocado pela
situação, toma a iniciativa diante das lágrimas de tristeza da mãe de Naim,
movido pela compaixão. Em Jesus, o Deus libertador do êxodo está entranhado na
história do seu povo: "Eu vi a aflição de meu povo... Ouvi os seus
clamores...
Conheço os seus sofrimentos... Desci para
libertar..." (Êxodo 3,7-8).
Jesus
se compadece da viúva e de tantas pessoas cansadas, aflitas, enfermas e
marginalizadas. Ele sente, sofre, assume a dor da mãe de Naim. E a compaixão
entra em ação. Jesus se dirige à mulher que chorava e lhe diz apenas duas
palavras de consolo: "Não chores!" Isso revela que havia uma
esperança para aquela mulher e sua situação. Não vai mais existir motivo para
essas lágrimas e essa dor.
Jesus se aproxima e suas palavras e gestos
restituem a vida
A
compaixão leva Jesus a falar e a agir. O Senhor da Vida se aproxima e,
decidido, toca o esquife (caixão) e "os que o levavam pararam"
(Lucas 7,14). Jesus se envolve com os dramas humanos e não tem receio de
tocar algo impuro. Ele transgride o tabu religioso sobre a impureza legal de um
cadáver (cf. Números 19,11.16). Para Jesus, a vida está acima de todo
legalismo.
Com suas palavras,
ele ordena ao jovem que se levante. "Levantar" é um dos verbos em
grego para "ressuscitar". Jesus transforma as realidades de morte.
Lucas acrescenta que o que estivera morto passou a falar. Restitui a vida e a
palavra ao jovem. Num gesto de ternura, Jesus entregou à mãe de Naim seu
precioso filho. Jesus não só chama o filho à vida, como também restitui a vida,
a situação social desta mulher viúva.
Testemunho: Deus visitou o seu povo
A
reação da multidão é de espanto e admiração que reconhece a ação salvífica de
Deus: "Um grande profeta apareceu entre nós e Deus visitou seu povo"
(Lucas 7,16). É o próprio Deus que visita seu povo; não mais através de
profetas, mas ele mesmo que, assumindo a condição humana, vem nos trazer a
libertação e a alegria. É o "Pai dos órfãos e o protetor das viúvas"
(Salmo 68,6). Como Senhor da Vida e vencedor da morte, inaugura o tempo novo de
esperança para todos os que creem.
E
nós, hoje, que reescutamos esta narração de Lucas, somos interpelados/as pelos
sentimentos, palavras e gestos de Jesus diante do sofrimento humano estampado
nas páginas dos jornais e nas telas da televisão ou nas tragédias que acontecem
perto de nós. Sua atitude nos ajuda a descobrir que nosso nível de humanidade é
terrivelmente baixo. A dor dos outros produz em mim a mesma compaixão? Quando
Jesus vê uma mãe chorando a morte de seu filho único, aproxima-se de sua dor
como irmão, amigo, semeador de alegria e de vida. Que nossa presença junto aos
pequenos, desamparados e sem esperança possa testemunhar: "Deus visitou o
seu povo!".
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